Mães desnorteadas pela dor do desaparecimento dos filhos e sem poder contar com o Estado motivaram o major Marcus Roberto Claudino a formar um grupo com familiares dispostos a encontrar as cerca de 3 mil pessoas que somem todos os anos em Santa Catarina.

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A iniciativa inspirou o comando-geral da PM a criar a primeira coordenadoria da corporação no Brasil especializada no assunto. É o SOS Desaparecidos, programa que completa um ano dia 24 deste mês com 67 pessoas encontradas e um livro a ser lançado em novembro.

O SOS Desaparecidos é focado no atendimento, resposta e prevenção com prioridade para crianças e adolescentes. Com protocolos próprios, conta com a rede da PM e de entidades de proteção e com equipe voluntária formada pelo major Claudino, que atua como coordenador, pelo sargento Daniel Ferreira e pela soldado Natália Franzen.

– Não há pagamento maior do que entregar um filho para uma mãe. Uma emoção indescritível ver nos olhos delas o verdadeiro sentimento de gratidão – diz Claudino, que às vezes chora escondido.

União de forças com a imprensa

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Santa Catarina também está à frente no tema ao ter criado em setembro uma das três únicas delegacias de Polícia Civil especializada do país. Antes, como conta Claudino, a mãe com um filho desaparecido “fazia um boletim de ocorrência, sentava no meio-fio e chorava”.

ONGs faziam o papel do Estado, como a Desaparecidos do Brasil, ponto de partida da série de reportagens Órfãos do Brasil, publicada pelo DC no ano passado, em que a autora, a jornalista Mônica Foltran, localizou crianças traficadas do Brasil na década de 1980, além de reestabelecer laços entre mães e filhos, também em parceria com a PM.

Leia mais sobre Órfãos do Brasil em site especial

– A Mônica é uma referência. Fiz o convite para ela escrever o prefácio do meu livro porque ela aproximou várias famílias e chamou atenção para um problema nacional – observou o major Claudino, que lançará em novembro, em data a ser definida, a obra Mortos sem sepultura.

Evoluir ainda é necessário

A maior dificuldade do SOS Desaparecidos é a falta de integração dos bancos de dados de instituições como Tribunal Regional Eleitoral, polícias, Instituto Geral de Perícias, Ministério da Justiça, Datasus e Federação de Dirigentes Lojistas. Se todos os sistemas fossem convergentes, as pessoas procuradas seriam mais facilmente encontradas.

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Para o major Claudino, outro avanço seria se as empresas de telefonia dessem à PM o acesso a listas de números de celular em caso de desaparecidos.

Mesmo sem todas as ferramentas de busca necessárias, a equipe referência é acionada por famílias de todo o país e do exterior. A resposta é imediata. Até porque, conforme a PM, é lenda a história de que uma pessoa só é considerada desaparecida 24 horas depois que sumiu.