Três gritos de gol num sotaque diferente saiam de caixas acústicas potentes: “gooooaal”. O local era um cantinho de Londres, longe de Cardiff, território da estreia brasileira no futebol olímpico, onde dois telões denunciavam que ali, de inglês, só havia a narração.
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No bairro de Camdentown, na capital londrina, descolado e frequentado por jovens e turistas, numa esquina movimentada das Ruas Agar Grove e Hackey Way, cerca de 100 brasileiros fizeram um final de tarde com tempero brasileiro.
O narrador da BBC desfilava sua descrição monocórdica da partida até que foi obrigado a abrir exceções, subindo o tom na entonação da voz mais vezes do que parecia desejar. Rafael, Damião e Neymar deixavam suas marcas na vitória de 3 a 2, estreia brasileira nas Olimpíadas, diante do Egito.
Dentro do bar, uma muvuca tipicamente brasileira. A cada gol brasileiro, aos goles de muita cerveja, alguma caipirinhas, picanhas desfilando pelo ambiente, os gritos de gol eram desproporcionais em relação à narração.
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Alguma bandeiras brasileiras desfilavam, carros estacionados do lado de fora, também embandeirados, disputavam o espaço e, no intervalo do jogo, claro, um sambinha substituía a narração bem chata.
Entre os torcedores, claro, catarinenses infiltrados. Gentil Bittencourt, farmacêutico, de Tubarão, e Nair Wensing Bitencourt, enfermeira que trabalha no HU, natural de Florianópolis, vieram para curtir a Olimpíada, souberam do bar e lá estavam, como todos, felizes da vida.
– Somos pé-quente – vibrava Nair, lembrando ao marido.
-Acertei até o placar, 3 a 0 – disse, ainda no primeiro tempo.
E abriu um sorriso aberto e gostoso. Mal sabia que o segundo tempo seria de tensão, com os dois gols egípcios nesta etapa.
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Mas tem gente como o pequeno Kevin, de três anos, que entende o português porque sua mãe, Cristiane Almeida, de Itapetininga (SP), mora em Londres. Ele, que adora a música Balada, o tal do “Tche, tche, tche, tche”, de Gustavo Lima, vibrava como se estivesse numa esquina no Brasil, à vontade. Só parava para goles de guaranás, refrigerante típico brasileiro, para gritar, inclusive sem ligar para os gols egípcios marcados na segunda etapa:
– I wanna be a soccer player from Brazil! – disse o camisa 10 com o nome de Kaká nas costas.
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