Até dezembro olhares de artistas estrangeiros sobre paisagens brasileiras ou sobre seus próprios países de origem poderão ser acompanhados no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), na Capital. São três exposições: Andersen em Florianópolis, Três Fotógrafos Noruegueses e Olhar Estrangeiro – esta última reunindo obras do acervo do museu catarinense.
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As mostras conversam entre elas. A administradora do Masc, Lygia Roussenq, explica que se buscou um recorte no acervo que permitisse esse diálogo entre as duas exposições temporárias. Por isso, quando veio o convite para receber o trabalho do artista plástico norueguês Alfredo Andersen, juntamente com as imagens dos fotógrafos daquele mesmo país, foram escolhidas obras que também trouxessem esse olhar de fora do Brasil.
– O museu tem 1,8 mil peças. Reunimos trabalhos de estrangeiros e também de brasileiros viajantes e passantes, um recorte que o catarinense desconhece – observa. Na avaliação de Lygia a combinação, que vem sendo pensada há meses, resultou num conjunto artístico expressivo. Ela acredita que as obras do Masc colaboraram para dar um olhar instigante às exposições. As três têm entrada gratuita.
Andersen em Florianópolis
O norueguês Alfredo Andersen morou em Curitiba (PR) de 1902 e 1935. Com sua vinda ao Brasil trouxe a formação artística que teve na Europa em ateliês particulares da Noruega e Dinamarca e também na Academia Real de Belas Artes de Copenhagen. Foi considerado o primeiro artista plástico a atuar profissionalmente e a incentivar o ensino das artes puras no Paraná. O envolvimento com a comunidade local no final do século 19 e primeiras décadas do 20 faz dele uma personalidade relevante para o estudo da sociedade e da cultura daquele Estado.
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A exposição que chega a Florianópolis é uma parceria entre o Museu Alfredo Andersen de Curitiba, da Secretaria de Estado do Paraná, com a Real Embaixada da Noruega e Sociedade Amigos de Alfredo Andersen. Com curadoria de Amarilis Puppi, traz 56 obras de acervos de instituições e colecionadores particulares, principalmente seus netos e bisnetos. Elas retratam a experiência do estrangeiro no Brasil e já estiveram expostas em Brasília, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, e no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro. No Masc, a mostra se apresenta dentro de um novo conceito, pois será vista em conjunto – ainda que montada separadamente – com as exposições Olhar Estrangeiro e Três Fotógrafos Noruegueses.
Três Fotógrafos Noruegueses
O cotidiano das cidades norueguesas, as pessoas e a natureza ficaram na mira da lente de três fotógrafos: Verena Winkelmann, Rune Johansen e Per Berntsen. Fugindo dos clichês de folhetos turísticos, eles trazem vivências do dia a dia.
Verena apresenta o seu projeto Placed, produzido entre 2004 e 2008 em pequenas e grandes cidades do sudeste norueguês. As fachadas nuas das casas compõem parte considerável do material. Antes de serem uma mera descrição dos locais, as imagens representam um estado mental.
As fotografias de Rune mostram casas isoladas que evidenciam o costume dos noruegueses de morar em locais em que não sejam perturbados. Isso é especialmente forte no Norte, onde nasceu o fotógrafo. Ele retrata pessoas que vivem em sítios, os ambientes que construíram, as casas que ergueram e a paisagem que moldaram. Algumas imagens são de Lofoten, o arquipélago no extremo Norte do país.
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Nos registros de Per Berntsen, que já se tornaram clássicos da arte fotográfica norueguesa, a distância entre as residências também é grande. Nas fotos das paisagens de Eggedal, onde nasceu, não existem elementos dramáticos. São os detalhes e as amplas vistas – o ordinário que normalmente passa despercebido – que caracterizam a narrativa do fotógrafo.
Olhar Estrangeiro
Nas 63 obras escolhidas no acervo do Masc, 19 países estão representados pelo olhar de 55 pintores, escultores, desenhistas e gravuristas. São imagens de países como Itália, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai, Romênia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Iugoslávia, Áustria, Japão, Venezuela, Grécia, Portugal e Brasil.
– São estrangeiros que pintaram cenas em seus países de origem, imigrantes que deixaram registros pictóricos de heranças sem fronteiras, brasileiros viajantes que revelaram suas interpretações em territórios distantes e, cabe destacar, artistas catarinenses que partiram em busca da sua pedra angular, a gnothi seauton (“conhece-te a ti mesmo”) socráica -resume o curador da exposiçã, Edson Busch Machado.
Podem ser notados núleos diferenciados entre os artistas: paisagens bucóicas e cenas urbanas de estrangeiros em seus paíes, ao lado da temáica social e politizada de latino-americanos.
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Há ainda os abstratos como o grego Nicolas Vlavianos e o brasileiro Fernando Velloso, alé de estrangeiros que vieram viver em Santa Catarina, como Silvio Pléicos (Iugosláia), Erwin Curt Teichmann (Alemanha) e Jorge Ferro (Venezuela). Entre os catarinenses que buscaram inspiraçã no exterior estã Elke Hering, Rubens Oestroem, Marcos D?Aquino e Martinho de Haro.
Mas o recorte curatorial nã éapenas geográico: existe uma espessa camada antropolóica nos processos criativos desses artistas, como explica o curador. Para ele, Olhar Estrangeiro os sintetiza como cidadãos do mundo.