A novela da Rede Globo O outro lado do paraíso estreou promovendo uma reflexão sobre relacionamentos abusivos. Logo no início da trama, a protagonista Clara é estuprada pelo personagem Gael na noite de núpcias do casal. A situação, conhecida como estupro marital, costuma ficar escondida entre quatro paredes na vida real. Um dos motivos que levam a vítima a adotar o silêncio se deve à cultura ultrapassada de submissão das mulheres aos seus parceiros. Normalmente, comportamentos cotidianos que se iniciam de forma branda e aparentemente inofensivos, como um pouco de ciúmes, alteração no tom de voz, seguidos por pedidos de desculpas e justificativas, se transformam em atos violentos e tentativas de controlar e cercear a liberdade dessas mulheres.
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Relacionamentos abusivos não são caracterizados exclusivamente por atos de violência física. Existem inúmeras outras atitudes que podem provocar danos emocionais. “Mulher minha não usa isso”, “você precisa tomar cuidado com as suas companhias”, “não há necessidade de ir para a academia todos os dias”. Essas são algumas frases comuns ouvidas pelas vítimas de forma cotidiana. Expressam uma tentativa do domínio masculino sobre questões rotineiras que vão desde o que a parceira pode vestir, quais amigas pode ter, onde pode ir até com quem poderá conversar.
Muitas mulheres por amor, por medo ou ainda pela esperança de que seu parceiro mude, continuam dando chances e insistindo na relação. Segundo a ONU, três de cada cinco mulheres já foram vítimas de relacionamentos destrutivos para a autoestima e a autoconfiança, provocando feridas emocionais e traumas. Cada vez mais, as novelas estão incluindo em seus roteiros questões polêmicas que costumam ser silenciadas na vida real. Ao expor comportamentos e provocar discussões, as novelas cumprem o importante papel de provocar o debate público e expor questões cruciais para que as mulheres possam compreender e identificar melhor comportamentos abusivos.