O treinador de vôlei André Testa, de 31 anos, suspeito de estuprar e assediar atletas adolescentes, teve a prisão preventiva mantida em audiência de custódia na tarde desta sexta-feira (5). A informação foi confirmada pelo Poder Judiciário. A audiência ocorreu em São José, na Grande Florianópolis, cidade onde ele atuava.
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Testa foi preso nesta quinta-feira (4) depois que ex-atletas o denunciaram. As vítimas eram garotos de 15 anos, como trouxe o colunista do NSC Total Raphael Farac e o repórter Jean Todescatt, da NSC TV.
Os jovens, que na época eram adolescentes, contaram a relação de confiança que tinham no treinador e como ele conseguia ser “manipulador” e “persuasivo”, o que dificultou também que as vítimas entendessem os crimes.
— Ele ganha muito a confiança e acabou abusando de mim — contou uma das testemunhas ao repórter Juan Todescatt e a equipe da NSC TV. — Eu não tava, como eu posso dizer, eu não tava entendendo direito essa situação. Eu era virgem na época. Foi a minha primeira vez — completou.
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— Ele era muito manipuador, ele entrava muito na cabeça dos atletas. Ele conseguia fazer os atletas verem que eles é que iam sair como os errados — contou o pai de um dos atletas que se mobilizou para avançar com as denúncias.
Os assédios e estupros teriam ocorrido na casa de Testa, em motel e também na Casa Atleta, local onde os jogadores ficam durante os treinamentos. Além disso, o treinador teria embriagado algumas das vítimas.
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— Ele me convidou para essa Casa Atleta um dia que iam estar todos os atletas lá, e eles não estavam, né? Até em casa pedir para ir, porque ia ter um evento, uma situação lá. E aí, chegou na Casa Atleta, não tinha [nada]. Só tinha ele [André Testa] — relatou uma das vítimas.
André treinava a Associação Desportiva e Cultural Terra Firme, que representa o município de São José em competições estaduais e recebe verbas públicas do Executivo.
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Ele é conhecido no meio esportivo catarinense e brasileiro. Inclusive, foi árbitro de linha de voleibol nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
Em nota, a defesa do treinador, alegou que a prisão foi “importuna, desnecessária e ilegal” e que ele é inocente das alegações.
Confira a íntegra da nota da defesa de Testa
“A prisão preventiva de André Wilson Testa é inoportuna, desnecessária e ilegal. A polícia apenas apresentou ilações e conjecturas e, com isso, não comprovou a imprescindibilidade da prisão preventiva, assim como não justificou o cabimento de outras medidas cautelares diversas da prisão.
André é inocente e não são procedentes as imputações. Conforme se comprovará no transcorrer do processo, há denuncismo de viés vingativo. Todas as informações colhidas até o presente momento foram produzidas sem que fosse oportunizado o direito ao contraditório.” – Dr. Leandro Henrique Martendal (OAB/SC 38.879); Dr. Marlon Charles Bertol (OAB/SC 10.693)”.
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O que diz a Federação Catarinense de Vôlei
Nesta sexta-feira (5), a Federação Catarinense de Vôlei se manifestou sobre o caso envolvendo o treinador e os atletas. Assinada pelo presidente Dante Klaser, a nota diz que não recebeu nenhuma denúncia contra o treinador, mas que “como medida preventiva” afastou André das suas funções.
“A Federação Catarinense de Vôlei vem a público se manifestar perante a matéria publicada no dia de ontem (04/08/22) que ganhou repercussão pela gravidade dos fatos apontados. Inicialmente cumpre esclarecer que a FCV repudia qualquer ato de violência, assédio ou discriminação, o esporte, em especial o vôlei, não compactua com qualquer prática abusiva, pelo contrário trata-se de formar pessoas melhores e contribuir como opção saudável de vida.
Esclarecemos ainda que em nenhum momento recebemos qualquer tipo de denúncia envolvendo o Sr. André e que tão pouco tomamos conhecimento dos procedimentos policias ou judiciários visto que tramitam em segredo, porem, como medida preventiva no sentido de facilitar as investigações, o afastamos das suas funções até que os fatos sejam devidamente apurados pelas autoridades competentes”.
Prefeitura de São José
Procurada pela reportagem, a prefeitura disse que já tinha afastado preventivamente o treinador de todas as atividades quando soube das denúncias. Confira a íntegra do texto:
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“A Fundação Municipal de Esportes e Lazer – FUNESJ informa que:
1- Em maio deste ano a Superintendência da FUNESJ tomou conhecimento informalmente do Boletim de Ocorrência registrado sob o nº 0421157/2022-BO- 00526.2022.0001609 junto a Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de São José, feito por um atleta que foi atendido em anos anteriores por um dos projetos, e que os fatos apresentados à autoridade policial tratavam de um “possível estupro” praticado por um dos técnicos da modalidade de voleibol.
2- A par de parte dos fatos, uma vez que as investigações correm em segredo de justiça, e após solicitar à Procuradoria Geral do Município orientações sobre as providências a serem tomadas, a FUNESJ acatou as recomendações da PGM e buscou notificar imediatamente os responsáveis técnicos pelo projeto Voleibol do Futuro e o professor foi afastado.”
Associação Terra Firme
A Associação Terra Firme afirmou que não concorda com esse tipo de situação, nenhum tipo de assédio, físico, moral ou sexual, e que prontamente afastou o professor para que as investigações fossem feitas sem qualquer interferência junto aos jogadores.
Confederação Brasileira de Vôlei
Já a Confederação Brasileira de Volêi enviou nota dizendo que, diante das denúncias recebidas, determinou à Federação Catarinense de Voleibol o afastamento imediato de André Testa de suas funções, além de suspender seu registro na entidade, até que os fatos sejam devidamente apurados.
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A CBV reitera que repudia qualquer tipo de assédio e trabalha de forma incessante por um ambiente pautado pela ética e pelo respeito, e livre de qualquer tipo de violência ou preconceito.
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