Garopaba foi o destino do técnico Hemerson Maria após a vitória sobre o Joinville que manteve o time na briga por uma vaga nas semifinais do Campeonato Catarinense. Acompanhado da esposa Eliane, o treinador aproveitou a folga para rumar à cidade litorânea _ distante 80 quilômetros da Capital _ para entregar o presente de Páscoa ao afilhado Andrei, de 5 anos.
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Desde que assumiu o Avaí, as horas de descanso e de sono têm sido raras na vida de Hemerson Maria. Nada que o incomode. O resgate da confiança e o sorriso de torcedores e jogadores têm feito o esforço valer a pena. Para relaxar e recuperar as energias, o técnico caminhou na beira da praia e tomou um banho de mar.
Em meio à folga, atendeu, por telefone, a equipe do Diário Catarinense. Com as energias renovadas, retornou para Florianópolis no final do dia a tempo de pegar a filha Hérika, de 5 anos, e o sobrinho Ricardo Pedro, no colégio.
A família tem sido o alicerce de Hemerson Maria na trajetória profissional. Católico, o treinador se apega a todos os santos e conta, principalmente, com as orações da mãe Maria Marlene e da sogra Áuria para ajudar a vencer os obstáculos.
– A minha sogra passou todo o segundo tempo do clássico de joelhos, rezando por mim – conta.
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O morador do Bairro Barreiros, em São José, ainda está se acostumando ao assédio. Nas ruas, torcedores de diferentes idades têm solicitado para tirar fotografias e agradecido os bons resultados. Em três jogos, foram duas vitórias e um empate.
– É gratificante ver o reconhecimento do trabalho. A gente se esforça para dar alegria ao torcedor.
A vida de Hemerson Maria sempre foi voltada para o futebol. Dos 7 aos 20 anos, atuou como volante nas categorias de base do Figueirense. Aos 23, quando viu que a carreira como jogador não iria engrenar, decidiu ser treinador. Antes de chegar ao Avaí, no início de 2011, trabalhou durante uma década no comando das equipes alvinegras com atletas menores de 20 anos.
Apesar da longa passagem pelo rival, o técnico diz ter impregnado o espírito avaiano, de raça e determinação. E espera prolongar ao máximo essa nova relação.
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Confira a entrevista com o treinador:
Diário Catarinense: Como você tem encarado esse momento pelo Avaí?
Hemerson Maria: É um momento especial, mágico. Estou procurando curtir ao máximo e aproveitar essa oportunidade que o Avaí está me dando. Não tenho nenhuma obsessão de ser efetivado como treinador do Avaí. Quero fazer o meu trabalho e ser reconhecido pelo meu valor. Estou trabalhando com tranquilidade junto com a comissão técnica e todos os profissionais do Avaí e estou aproveitando ao máximo. Estou me sentindo bem e espero prolongar esse momento.
DC: Qual foi a maior dificuldade quando você assumiu o time?
Hemerson: Os jogadores estavam muito cabisbaixos, com falta de confiança. O trabalho do Emerson Nunes, da psicóloga Tatiana, e da comissão técnica tem sido muito importante para resgatar a autoestima dos jogadores e fazer com que eles rendessem o máximo dentro de campo e acreditassem que era possível levar o Avaí à classificação.
DC: De onde vem o teu espírito motivador?
Hemerson: Sou uma pessoa que passou por muita dificuldade na vida profissional. Não foi fácil chegar onde cheguei. Comecei lá embaixo, nas escolinhas de futebol, carregando saco de bola nas costas. Algumas pessoas falavam para mim que eu não ia chegar, que não tinha potencial. Isso tudo acabou me dando muita força e tenho dito para os jogadores que nada é impossível, que o Avaí, jogando com vontade e determinação, pode vencer qualquer equipe.
DC: E você já percebe resultados na equipe?
Hemerson: Estamos colhendo os frutos. No clássico no Scarpelli saímos perdemos por 2 a 0 e buscamos o empate. Contra o Joinville, não desistimos em nenhum momento e a equipe teve tranquilidade para fazer o resultado.
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DC: O que tem contribuído para a ascensão do Leão?
Hemerson: Além do fator emocional, tem o posicionamento e a postura da equipe, que está mais agressiva. Os jogadores estão tendo uma obediência tática muito grande, estão se doando, deixando a vaidade de lado. A força de todo o Avaí tem sido fundamental.
DC: A sua didática é diferenciada. Você leva o jogador, mostra o que quer. Isso vem da tua experiência com as categorias de base?
Hemerson: O posicionamento hoje é fundamental no futebol. É cada vez mais raro encontrar um jogador com qualidade técnica, como um Neymar ou Messi. E a preparação física está muito avançada. Então se você não tiver uma equipe taticamente bem ajustada fica difícil você vencer os jogos.
DC: Em que profissional você se inspira?
Hemerson: Procuro pegar um pouco de cada um, mas admiro muito o trabalho do Adilson Batista no Brasil. Ele é muito inteligente, faz a equipe jogar. E em nível mundial gosto do Guardiola. Meu sonho é fazer uma equipe jogar como o Barcelona, um futebol perfeito, que inspira. Além de ver que os jogadores estão comprometidos, eles se divertem em campo. E para mim isso é a essência do futebol: comprometimento e diversão.
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DC: Você acha que no Brasil há condição de algum clube apresentar um futebol como o do Barcelona?
Hemerson: Só se mudar a filosofia dos clubes, que são muito imediatistas. A do Barcelona vem desde as categorias de base, então a curto prazo é muito difícil fazer um time no Brasil jogar um futebol como se joga o Barcelona.
DC: O elenco, a comissão técnica e os torcedores te receberam muito bem.
Hemerson: O Avaí é um clube especial, não desmerecendo os outros, que me acolheu muito bem. E a gente sente essa energia da pessoas que estão contentes pelo meu sucesso. Que eu espero que seja maior ainda levando o Avaí para a final do campeonato.
DC: E quais são tuas aspirações na carreira?
Hemerson: A gente tem que mirar o sol para alcançar as estrelas. Eu quero chegar ao máximo na minha carreira, a uma Seleção Brasileira, a um grande clube europeu ou brasileiro. Não que o Avaí não seja um grande clube.
DC: Como você está se preparando para o jogo contra o Metropolitano?
Hemerson: Hoje estamos pegando alguns vídeos do Metropolitano, que o Ricardo, que trabalha no departamento de imagem do clube, fez. Ontem a gente festejou muito o resultado, mas a partir de hoje já começamos a trabalhar para esse jogo, que vai ser o mais importante do semestre para o Avaí, por pode nos dar a classificação.
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DC: Qual será o diferencial para a conquista da vaga?
Hemerson: Eles têm o Rafael Costa, que está em sua melhor fase, estão motivados pela vitória sobre o Criciúma e o estádio estará lotado. Apesar de todas essas adversidades, o diferencial para mim será a qualidade. Se o Avaí impor o futebol que jogou no clássico e diante do JEC, temos grande chances de conseguir o resultado.
DC: As notícias durante a semana sobre a possível contratação de Narciso para o comando do Avaí mexeram contigo?
Hemerson: Sinceramente, não. O Narciso é um grande profissional, se vier para o Avaí tenho certeza que fará um grande trabalho. As pessoas do Avaí estão me dando tranquilidade e apoio. Estou preocupado em fazer um bom trabalho. Acredito muito no presidente, uma pessoa que ama o Avaí e ele vai tomar a melhor decisão. A mim só cabe trabalhar junto com a comissão técnica para fazer o melhor pelo Avaí.