Trechos congestionados, filas intermináveis e centenas de acidentes. Essa é a realidade de quem trafega pela SC-401, rodovia estadual mais movimentada de Santa Catarina, localizada na região Norte de Florianópolis. Com o crescimento populacional e desenvolvimento econômico da região, a via viu o fluxo multiplicar, o que acompanhou também os problemas. De acordo com dados da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), 2.146 acidentes foram registrados no trecho entre janeiro de 2019 e outubro de 2024, por exemplo. No entanto, com a chegada da temporada de verão, a preocupação com a malha viária do trecho aumenta, principalmente com a chegada de turistas para a região.
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A Rodovia José Carlos Daux, nome oficial do trecho Norte da SC-401, é o principal meio de ligação entre as praias da região e o Centro da capital catarinense. A primeira versão da via ficou pronta em 1977, depois de cinco anos de obras. Já em 1992, teve início a duplicação. No entanto, o vai e vem diário surgiu muito antes disso, como explica a aposentada Marilza de Jesus.
— Moro aqui há 40 anos, e hoje tá nesse movimento. Nós nem erámos acostumados com esse movimento. Acho que de um 20 anos pra cá, ele não parou mais.
O alto fluxo de veículos impacta diretamente quem usa a rodovia diariamente. De acordo com a estudante de relações públicas, Bruna Gregório, que faz o trajeto regularmente, é impossível sair de casa sem olhar a situação do trânsito na região.
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— Nas primeiras horas da manhã é bem difícil sair do Norte da ilha, e no fim da tarde é difícil voltar. São horários que, se eu posso, evito pegar — relata.
Crescimento populacional e econômico aumentou fluxo
O crescimento econômico da região dá um parâmetro de como o trânsito congestionou nos últimos anos. Segundo a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF), nos últimos três anos, o número de empresas na região Norte foi de 27 mil, em 2021, para 32 mil neste ano. Isso aumenta não só a quantidade de pessoas, como também o de veículos que rodam pela SC-401.
Outro ponto foi o crescimento populacional. De acordo com o último Censo do IBGE, 149 mil pessoas vivem na região Norte de Florianópolis. O Sistema Rodoviário de Santa Catarina diz que esse número representa a passagem de 60 mil veículos por dia na SC-401.
O empresário Amarildo Segala acredita que o cenário apresentado seja de uma rodovia saturada, com “muitos veículos pesados” e pouca segurança, fatores que, segundo ele, são indevidos para um dos principais eixos comerciais de Florianópolis.
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No entanto, além da malha diária, a rodovia também acumula o fluxo de turistas, que visitam os balneários do Norte da Ilha, principalmente durante a temporada de verão. A SC-401, por exemplo, virou destino recorrente do motorista de aplicativo Allan Puga, que constantemente transporta passageiros para a região.
— Ela tá crescendo nas marginais, com comércio e residências. Ultimamente estou transportando pessoas para essas áreas e então vejo que vem crescendo o número de pessoas que dependem da 401 — diz.
Foi por conta desse crescimento que Amarildo Segala decidiu abrir uma loja em Santo Antônio de Lisboa, na via marginal. De acordo com o empresário, outras pessoas também tem buscando começar um comércio a margem da SC-401.
— A gente tá na vitrine. Precisamos de infraestrutura para que o manezinho chegue até a gente — diz.
65 mortes foram registradas em dez anos
A SC-401 também tem registrado uma série de tragédias nos últimos anos. Conforme a PMRv, em 10 anos, 65 pessoas morreram na rodovia. Entre as vítimas está o jornalista e triatleta Roger Bittencourt, atropelado em 2015. Karin Verzbickas, empresária e viúva dele, ainda lembra da morte violenta do marido, que trafegava pela ciclofaixa, com mais quatro amigos, quando um motorista invadiu o acostamento e atingiu o grupo pelas costas, sem chance de defesa. Roger foi o único que morreu na hora.
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— Só eu e as pessoas que passaram por isso sabem o que é criar os filhos sozinha por causa disso. Uma pessoa alcoolizada que não mediu o que poderia acontecer — desabafa.
O último acidente fatal registrado na SC-401 aconteceu em 1º de dezembro. Dois homens foram atropelados por um carro, conduzido por uma mulher embriagada. Uma das vítimas tinha 33 anos, era pai de dois filhos e morreu no local do acidente.
Esta foi a quarta morte na rodovia só neste ano. O cabo bombeiro militar Petronio Andrade relata que entre os motivos para os acidentes está também a pressa.
— Tem aquele sentimento “nunca vai acontecer comigo”, e não me importo com os outros. Infelizmente é isso que a gente percebe — explica o cabo.
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Uma batida, trânsito travado
Atualmente, apenas uma batida é necessária para travar o trânsito na SC-401. O vendedor ambulante Gilberto Pereira viveu isso de perto. Ele relata que, no dia da ocorrência, estava com a esposa no hospital e precisava passar pela rodovia para chegar ao ambulatório.
— Eu bati o carro enquanto estava na fila e a rodovia estava um caos, até chegar [ajuda] demora. Ainda piora porque os motoristas passam ficam olhando e isso vai afunilando, vira uma loucura — relata.
Só em 2024, 383 acidentes foram registrados na rodovia até 30 de novembro. Desses, 183 tiveram vítimas — um aumento 41% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram 129.
Petronio Andrade, cabo dos bombeiros militar de Santa Catina, diz que esses acidentes ocorrem, principalmente por causa de distrações no trânsito, e que a pior parte é ter que “avisar aos familiares que os bombeiros estão levando um dos integrantes da família ao hospital”.
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Fluxo de turistas deixa o trânsito ainda pior
Há anos, a população de Florianópolis triplica na época de festas. No Norte da Ilha, 12 praias atraem pessoas de todo o Brasil e de vários países. O que esses turistas têm descoberto é o que os moradores já sabem: que o início do verão não é só o auge do turismo na capital catarinense, mas também o ápice do trânsito. E nenhuma estrada demonstra isso tão bem quanto a SC-401.
Durante a alta temporada, o volume de 60 mil veículos por dia aumenta para 100 mil. Ou seja, a cada seis carros que passam todos dias pela SC-401, os turistas somam mais quatro no fim do ano. O taxista André Silveira é um dos que mais roda na rodovia durante o verão. Segundo ele, é normal passar pelo menos umas 20 vezes por dia pelo trecho. O leva e traz de passageiros já dura quase 10 anos e exige paciência.
— É muito difícil, às vezes você fica horas parado. O estresse é grande e você não sabe o que fazer — relata André.
O tempo excessivo que se passa dentro do carro, no ônibus ou parado ao lado da rodovia, atrapalha a rotina. E quando a situação se repete demais, segundo os moradores, prejudica a qualidade de vida.
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Faltando apenas 10 dias para o começo da alta temporada, enquanto alguns estão na contagem regressiva para passar algum tempo de sol, mar e areia, outros, como a cozinheira Suzane Farias Gomes, que depende do transporte público para ir e voltar do serviço, ficam a mercê das “filas de praia”.
— Final de semana e feriado, ou vem mais cedo ou chega bem atrasado. Me prejudica muito no trabalho — relata.
No fim, o sentimento de todos os moradores da região é o mesmo: esperar que a situação melhores, já que, dentro de Florianópolis, não é possível escapar da SC-401.
*Sob supervisão de Luana Amorim
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