Em Balneário Camboriú, conhecido ponto de badalação turística do litoral Norte, travestis pagavam pedágio de até R$ 200 por dia para ter a permissão de trabalhar na rua em busca de clientes. Quem se negasse, era espancado, apedrejado ou até esfaqueado.
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Ofensiva policial mira a exploração da prostituição
As denúncias chegaram à Polícia Civil em junho do ano passado pelo Ministério Público. Responsável pela investigação, o delegado Alan Pinheiro de Paula conta que a polícia conseguiu apurar casos de extorsão contra travestis na Rua 200, área Central em que de noite há pontos de prostituição na via pública.
– Elas (travestis) tinham que pagar entre R$ 100 a R$ 200 por dia a um outro grupo de travestis, caso contrário não poderiam permanecer na área e sofriam ameaças, agressões e houve até um caso de esfaqueamento – confirmou o delegado.
A investigação teve a ajuda da Associação dos Travestis e Transexuais de Balneário Camboriú. A polícia então identificou a suspeita de liderar as extorsões como sendo uma travesti de 40 anos, vinda do Nordeste do país.
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A suspeita teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e cumprida em 15 de janeiro – o nome não foi divulgado pela polícia porque a ação tramita em sigilo. Para o delegado, a conduta caracterizou exploração da prostituição de colegas mediante violência e chantagens.
Segundo ele, mais denúncias de extorsão e ameaças estão sendo investigadas, assim como a atuação de cafetões e o tráfico de drogas.
Libertadas de quartos
Em Laguna, Sul do Estado, a polícia libertou em fevereiro jovens que eram trancadas em quartos de uma boate.
O gerente acabou preso por cárcere privado. A suspeita é que o dinheiro que elas ganhavam dos programas e do consumo de bebida dos clientes servia apenas para pagar despesas como moradia e alimentação.
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A polícia afirma que houve aliciamento em Minas Gerais com convites de passeio em Santa Catarina.
Paraguaias
Em setembro de 2015, em Biguaçu, na Grande Florianópolis, houve prisão de uma paraguaia que trazia conterrâneas do país vizinho – havia uma adolescente entre as recrutadas.
O destino era uma boate às margens da BR-101, onde faziam programas. – Ela (presa) e a irmã traziam meninas pobres do Paraguai. Uma de 17 anos estava na casa, era noiva e veio para cá iludida por elas dizendo que aqui havia muito dinheiro. Mas o dinheiro era dividido e as garotas deixavam parte do programa – descreveu uma policial civil.
“Era um absurdo”
Entrevista: Ana Paula Barreto – Associação de Travestis e Transexuais de Balneário Camboriú
Como eram as cobranças?
Tinha um grupo que andava atrás delas armado, de carro, com barra de ferro, eram mal tratadas em via pública. Mais de 20 travestis, com medo, pagaram por anos o pedágio, dando R$ 50, R$ 100, R$ 200. Uma teve que fazer 20 pontos na mão porque teve que se defender de uma facada no rosto.
Você foi vítima também?
Eu fui uma das vítimas. Teve travesti que sofreu tentativa de homicídio. Imagina ter que pagar para se prostituir na rua, em via pública, era um absurdo. Esse travesti que cobrava pedágio era da Paraíba e trabalhava em Joinville antes de vir para cá.
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Há denúncias de crimes em outras cidades?
Não tenho como afirmar, seria impossível. O que posso dizer é que quando chega a denúncia a gente encaminha. Em Itajaí ano passado houve denúncia de cafetinagem de menores, mas não sei como ficou.
Não tem medo de liderar esse movimento?
Não tenho medo. A minha liderança é a ajuda delas. Não vou permitir violência. Vou lutar e vou conseguir. Mas muitos não tem moradia, ficam pulando de cidade em cidade com medo.
Regulamentar a prostituição como profissão pode ser saída contra a exploração sexual?
Sem dúvida, diminuiria cafetinagem e exploração. É uma saída para evitar a violência, também para se ter um cadastro e até identificar travestis que cometem crimes e se escondem em outras cidades, os fugitivos, os que usam documentos falsos. Evitaria um monte de problemas.