O transporte coletivo esteve entre as áreas mais atingidas no período da pandemia de Covid-19. A emergência de saúde causou a paralisação dos ônibus, mais de 3 mil demissões em Santa Catarina e deixou mudanças no serviço que vieram para ficar. Nesses quase dois anos, o aumento de custos com óleo diesel e a diminuição de passageiros em relação ao período anterior à crise sanitária ainda se somaram aos desafios do setor. O cenário faz municípios buscarem ações para manter o sistema viável e atrativo aos usuários.

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Os serviços de ônibus retomaram gradualmente no último ano o número de passageiros, mas ainda não voltaram ao patamar pré-pandemia. Em média, entre as principais cidades de SC houve queda de 27% no número de usuários por dia em comparação com 2019, último ano sem interferência da pandemia. Os números foram enviados por prefeituras e empresas do setor à reportagem (confira no gráfico). Dentro do setor, há quem aposte que a quantidade anterior não seja mais alcançada, em razão de mudança de hábitos, de mais opções de deslocamentos como as caronas e os aplicativos de transporte, e da adoção de regimes remotos de trabalho.

Os empregos também não ressurgiram na mesma proporção. Das 2,9 mil vagas perdidas no segmento de transporte coletivo no Estado em 2020, apenas 1,1 mil foram preenchidas novamente nos dois últimos anos – o que gera ainda um saldo de 1,8 mil postos de trabalho perdidos. Os números são do Ministério do Trabalho.

O contexto desafiador ao transporte coletivo faz empresas e municípios buscarem saídas e novas ações para viabilizar o serviço e atrair novamente os usuários. A principal medida tem sido o repasse de subsídios às empresas para evitar uma tarifa mais cara, o que afastaria ainda mais passageiros.

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Antes considerado tabu e sinônimo de intervenção em uma atividade econômica, o subsídio do poder público é visto como uma das principais mudanças na visão sobre o transporte coletivo. A medida já vem sendo adotada por cidades de Santa Catarina. Em 2022, o governo federal também entrou em cena e fez um repasse inédito de R$ 2,5 bilhões a empresas para compensar a gratuidade de idosos no transporte público.

– A pandemia escancarou que a manutenção do transporte coletivo requer aporte do poder público para continuar operando. Da mesma forma que a gente não questiona que o Estado, nos três níveis de governo, é responsável pela manutenção da infraestrutura viária, a gente começa a entender que a infraestrutura “móvel”, sobre as vias, de caráter público (os ônibus), também passa muito por sua responsabilidade de apoiar e suportar – avalia o pesquisador do Observatório de Mobilidade da UFSC, Werner Kraus Junior.

Situação causou reflexos no serviço

O presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam, considera que a pandemia fez o setor bater “no fundo do poço”, mas representou também um ponto de inflexão por trazer à tona as dificuldades que o transporte coletivo não vinha conseguindo expor nos anos anteriores. Agora, segundo ele, o momento é de se reerguer. Na avaliação dele, a principal saída também está nos aportes públicos, hoje já adotados em mais de 250 cidades no país, segundo a entidade.

– Está se formando consciência de que o passageiro não pode pagar sozinho o custo do deslocamento, ele não vai conseguir mais – pontua.

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Christovam admite que a pandemia causou refl exos no serviço aos usuários, como a redução de linhas. Ele contemporiza dizendo que hoje há um novo padrão de cobrança dos passageiros.

– Temos uma nova realidade, novos atributos por parte de clientes, o poder concedente tendo que enxergar que o transporte urbano de passageiros é serviço público, um direito social, como saúde e trabalho, que está na Constituição Federal. Se é direito, precisa ser tratado assim – avalia

Infraestrutura para o serviço ainda é carência

O professor da UFSC, Werner Kraus Junior, avalia que os aportes do poder público para o transporte coletivo precisam ocorrer em duas frentes. A primeira seria na tarifa. Eles deveriam vir com compensações de gratuidades a categorias como estudantes e idosos, para que esse custo não recaia sobre os demais passageiros, e também com subsídios para baratear a tarifa integral paga pelos demais passageiros. Esta seria a área em que vem sendo registrada uma mudança de concepção de prefeituras em SC, com aumento de repasses.

– Esse é o caminho. Nas economias mais avançadas, praticamente todos os países lançam mão desse mecanismo para tornar o transporte mais atraente e fácil – avalia.

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A outra frente em que seria necessária a participação do poder público seria na infraestrutura voltada ao transporte público, que possa dar celeridade às viagens.

— Essa dimensão da infraestrutura, com terminais, pontos de ônibus decentes, faixas exclusivas, tudo isso é uma contrapartida de política pública que os municípios têm tido muita resistência em adotar — avalia.

Nos municípios ou lugares em que não há orçamento para subsidiar o transporte, a solução seria buscar receitas extras, como taxas sobre congestionamento ou estacionamento em vias públicas.

Confira números do transporte coletivo em SC

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