Acompanhada por embarcações da Marinha, a manobra-teste de um navio de cruzeiros na orla de Balneário Camboriú na manhã desta quinta-feira ocorreu sem incidentes e foi considerada um sucesso. Depois de vários dias de ondas altas, com até três metros, o MSC Preziosa navegou em mar de almirante até o ponto escolhido para o fundeio, nas proximidades do Morro da Aguada. Embora distante da praia, o navio que marcou a estreia de Balneário no mercado das escalas de transatlânticos foi visto de toda a orla e virou atração turística.
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Uma multidão foi até a Barra Sul para acompanhar a ancoragem, e em toda a extensão da Avenida Atlântica havia celulares apontados para registrar o momento. Não era para menos: esta foi a primeira vez que uma embarcação tão grande se aproximou de Balneário Camboriú. Com 333 metros de comprimento, o Preziosa é o maior transatlântico a fazer escalas no país — um gigante com 4,3 mil passageiros a bordo e uma tripulação de mais de 1,5 mil pessoas.
Quase todos os passageiros decidiram descer para conhecer a cidade, o que não surpreendeu o diretor geral da MSC Cruzeiros no Brasil, Adrian Ursilli:
— É um destino novo, tem muitas atrações no entorno. Balneário Camboriú tem tudo para ser um sucesso — disse.
Passageiros e tripulantes encontraram em terra feiras de artesanato, apresentações culturais e uma oferta de passeios que incluiu desde o Parque Unipraias, que fica junto do receptivo, até uma mini-excursão a Blumenau. Tudo a bordo de ônibus que, pela manhã, atravancaram o trânsito na Barra Sul — um dos desafios que a prefeitura terá a resolver até o próximo verão.
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Novas escalas
A manobra-teste, já no fim da temporada — o Preziosa parte para a Europa na semana que vem — é o “aperitivo” para planos mais audaciosos. A MSC já confirmou sete escalas em Balneário Camboriú a partir de novembro, e não é a única. O empresário Júlio Tedesco, sócio da Bontur, empresa que opera o receptivo de transatlânticos em Balneário, conta com 30 escalas ao todo, incluindo novas companhias.
Para garantir a continuidade do serviço, a Bontur ainda precisa concluir a habilitação junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em Brasília. O processo está caminhando, e o sucesso da manobra-teste é um indicativo para a fase final da autorização. O órgão federal também avalia o projeto de um porto de transatlânticos, o BCPort, que está em fase de avaliação.
Ursilli, da MSC, não poupou elogios à infraestrutura que encontrou em Balneário Camboriú. Disse que é uma das melhores do país e acredita que o modelo deverá ser replicado.
— Há muitos anos não se via um novo destino, e Balneário Camboriú pode representar a retomada de crescimento do mercado de cruzeiros no Brasil. Santa Catarina tem um potencial fenomenal que ainda não está sendo aproveitado.
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Economia aquecida
O prefeito Fabrício Oliveira (PSB) diz que a primeira escala de cruzeiro em Balneário Camboriú é um marco para a cidade. Embora o fundeio do navio, sem atracação em cais, não gere impostos diretos para o município, a movimentação financeira em torno do turismo de transatlânticos é considerada vantajosa para as cidades.
Um levantamento da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA Abremar) afirma que cada passageiro de transatlântico gasta R$ 466, por escala. Assim, as 30 escalas previstas para Balneário na próxima temporada renderão algo em torno de R$ 50 milhões injetados em comércio e serviços — um reforço considerável na economia.
Para receber o primeiro navio, a Bontur investiu em estrutura de receptivo e sinalização marítima cerca de R$ 10 milhões.
— Tem mercado para crescer — diz o presidente da CLIA Abremar, Marco Ferraz.
A associação quer auxiliar Balneário na obtenção de um futuro alfandegamento junto à Receita Federal, para que a cidade possa também ser escala de navios que vêm do exterior — uma autorização que também já é pleiteada por Porto Belo.
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Ferraz aposta na abertura de novos terminais em Santa Catarina como forma de movimentar o turismo. Inclusive em Florianópolis, que foi visitada recentemente pelas operadoras de cruzeiro e está passando por um levantamento hidrográfico na baía norte.
A ideia é, no futuro, oferecer minicruzeiros partindo de Santos com escalas em Balneário Camboriú e Florianópolis.
Tendência de crescimento
O Brasil viveu o boom dos cruzeiros marítimos entre 2009 e 2010. A economia aquecida tornou o turismo a bordo dos navios um negócio atraente, mas a infraestrutura deficiente e as altas taxas falaram mais alto nos seguintes, com o aquecimento de outros mercados ao redor do globo.
O resultado é que, de 20 navios que navegavam na costa brasileira sete anos atrás, apenas sete permaneceram nesta temporada. O mercado de cruzeiros saiu de uma movimentação de R$ 4 bilhões em 2009 para R$ 1,7 bilhão em 2017.
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Apesar disso, as companhias que mantiveram navios no país não tiveram prejuízos. A MSC, por exemplo, teve 100% de lotação nesta temporada, com mais de 140 mil passageiros.
As perspectivas para o próximo verão são boas, tanto que a companhia trouxe de volta um navio para operar na América do Sul e começará o próximo verão com quatro navios, três no Brasil e um na Argentina. A oferta de passagens vai aumentar em 40%.