Era para ser mais uma segunda-feira de aulas, abraços em professores e educação física na quadra da escola para Luana Publitz. Mas a estudante de 11 anos não conseguiu percorrer os menos de cem metros que separam a casa em que morava com os avós e dois irmãos do ponto de ônibus onde embarcaria para a escola Professor Vidal Ferreira, a 3,5 quilômetros de distância, no bairro Pomerode Fundos, em Pomerode. Às 6h30min, a menina foi atropelada por um caminhão carregado de frutas no acostamento do Km 114,9 da SC-110, rodovia que liga o município a Rio dos

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Cedros e Timbó.

– Fui com ela até o acostamento, ajudei a atravessar e voltei. Não levou cinco minutos. Escutei o barulho de um caminhão, pensei que ele tivesse passado nas “tartarugas”, mas logo a vizinha veio me chamar e eu já vi que ela estava lá caída – conta a desolada avó paterna Dalila Publitz, que desde abril tinha a guarda definitiva de Luana e seus dois irmãos.

Às margens da rodovia, horas depois do acidente, a sutileza da garrafa de água com o nome da estudante contrastava com as dezenas de frutas destruídas com a colisão do caminhão contra o barranco após sair da pista e atingir a jovem. O impacto também feriu o próprio condutor do caminhão, que ficou preso às ferragens e, após ser retirado em um resgate que durou mais de três horas, foi encaminhado ao Hospital Rio do Testo, que não passou informações sobre o paciente. O corpo de Luana será sepultado às 9h desta terça-feira, no Cemitério de Pomerode Fundos.

Sem Luana, a quadra e o pátio da escola em que a aluna do 5º ano do período integral gostava de praticar esportes e conversar com as amigas ficaram vazios. As aulas foram suspensas por dois dias e, na tarde de ontem, apenas professores lamentavam o adeus precoce. Um clima de comoção perceptível na vizinhança e entre os que conheciam a jovem, que com a altura e o jeito de agir fazia a idade passar despercebida.

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– Ela era uma pessoa dócil, fácil de agradar, extrovertida, amiga de todos. Nunca reclamou das aulas, pelo contrário, adorava estar na escola. Tinha personalidade, ajudava a organizar as coisas, mas ao mesmo tempo era carinhosa – conta já com saudade a orientadora pedagógica da escola, Marili Michelson.

O vestido que Luana queria de Natal vai ficar na lembrança de familiares. As brincadeiras ainda ingênuas com as amigas, as aulas de artes e os jogos de pingue-pongue também. Na escola, a turma do 5º ano passará a ter 19 alunos. Os avós Dalila e Egon terão os outros dois netos, Lucas, que estava ao lado de Luana na hora do atropelamento, mas sofreu apenas ferimentos leves, e Luan, de 9 anos. Responsabilidade e possíveis apoios para superar uma perda que estará sempre visível da janela de casa, ali no Km 114,9, ao lado do ponto de ônibus.

Investigação e preocupação com velocidade

Segundo informações da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o caminhão Mercedes Accelo 1016, seguia em direção a Pomerode e teria tentado ultrapassar em local proibido na entrada de uma reta. No entanto, quando um carro da frente fez o mesmo movimento para passar um caminhão que seguia adiante, o motorista teria sido forçado a desviar para o acostamento, onde atingiu a garota.

A PMRv deve elaborar um boletim, incluindo o disco do tacógrafo do veículo, e encaminhar para a Polícia Civil. Segundo o delegado Luiz Carlos Gross, será aberto um inquérito e ouvidas testemunhas. O condutor do caminhão deve responder por homicídio culposo.

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O acidente trouxe preocupação aos moradores. Apesar do trecho ter sinalização e asfalto com boa manutenção, o excesso de velocidade seria recorrente ali.

– Já colocaram uma faixa elevada, mas nem isso resolveu – repudia a moradora Lisia Zinnke, 43 anos.