A apuração das 42 assassinatos registrados em Florianópolis desde janeiro não revela apenas que trata-se do início de ano mais violento na Capital — a cidade já soma quase metade dos 92 casos ocorridos em todo o ano de 2016, considerando também mortes em confronto policial, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte.

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Levantamento da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil, divulgado no “RBS Notícias” desta segunda-feira, aponta que menos da metade dos crimes já têm autoria definida e apenas três prisões, além da apreensão de um adolescente, foram concretizadas desde o início do ano.

Segundo os inquéritos, praticamente três em cada quatro crimes praticados este ano têm como motivação o tráfico de drogas ou desavenças entre os envolvidos. A mancha criminal ainda expõe a concentração das ocorrências em duas regiões: só o bairro Monte Cristo, que reúne as comunidades Chico Mendes e Novo Horizonte, no Continente, foi cenário de pelo menos uma em cada quatro mortes.

O Norte da Ilha soma 19 casos, com maior concentração na comunidade do Siri, onde a prefeitura chegou a demolir casas erguidas em áreas irregulares. Criada em 2008, a Delegacia de Homicídios da Capital nunca registrou estatísticas tão alarmantes como nos últimos meses.

—A Polícia Civil trabalha em cima de informação. Quando a prova não chega, a gente não consegue fazer nada. A gente procura tentar conversar com as pessoas, mas o medo de represálias, de ser mais uma vítima, não deixa com que eles falem. Infelizmente, é um processo a mais que vai para o arquivo — aponta o titular da DP de Homicídios, delegado Ênio Matos, em declaração à RBS TV.

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A dificuldade de se reunir provas para comprovar a autoria dos crimes também é apontada como um desafio pelo juiz da Vara do Júri de Florianópolis, Marcelo Volpato de Souza, responsável pelos processos que julgam os crimes contra a vida. Além de confirmar que as estatísticas crescentes já têm reflexo no trabalho judicial, com maior demanda por medidas cautelares e interceptações telefônicas, o magistrado ainda expõe preocupação particular com o medo das testemunhas.

—Até por conta dessa onda de violência, as pessoas que presenciaram um fato têm medo de falar. Dificulta bastante o trabalho da polícia e acaba prejudicando o processo judicial — reforça o magistrado.

Hoje, segundo o delegado Ênio, a DP de Homicídios conta com um grupo de dois delegados, nove agentes e apenas um escrivão. O efetivo, reconhece, está longe do que seria ideal para atender à demanda.

Tanto para o delegado quanto para o juiz ouvidos pela reportagem, a percepção é de que uma fatia significativa dos homicídios em Florianópolis resulta de conflitos entre grupos locais, sem necessariamente envolver grandes facções.

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—Algumas situações envolveram briga de facções, mas as motivações não têm nenhuma novidade diferente dos anos que passaram — alega Ênio.

Praticamente nove em cada dez assassinatos foram praticados com uso de arma de fogo.