As malas saem de Santa Catarina para Amsterdã, na Holanda. Vão recheadas com cocaína nas partes laterais e retornam com drogas sintéticas. Os donos são jovens encantados com a viagem à Europa, aliciados por traficantes e que se arriscam como mulas – pessoas que transportam a carga.
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Descoberta em 2005, a rota criminosa Europa-Florianópolis segue a todo vapor. Nem mesmo a fiscalização dos aeroportos inibe os traficantes. A Polícia Civil afirma ter dado um golpe nesse tipo de ação. Após quatro meses de investigação, foram presas ontem sete pessoas e apreendidos 100 mil comprimidos de ecstasy, cocaína e dinheiro.
O delegado da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), Cláudio Monteiro, considera a apreensão de drogas sintéticas, feita por policiais civis, um recorde no Estado.
O alvo principal da polícia era Fábio Augusto Walter, 31 anos, de Palhoça. Ele usa o codinome de Bernardo e tem o apelido de Marmota. Foi investigado pela Polícia Federal em Santa Catarina e no Rio de Janeiro por tráfico internacional de drogas. Estava em liberdade e era monitorado por arregimentar mulas que embarcassem à Europa para levar cocaína e trazer drogas sintéticas.
A polícia o trata como espécie de patrão da distribuição da droga no Estado. Policiais afirmam que frequentava boates e tinha vida noturna agitada, mas não ostentava os ganhos. Ele foi preso de madrugada, na Rodoviária Rita Maria, quando foi encontrar um homem que serviu como mula e vinha da Europa com malas cheias de drogas sintéticas.
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>> Como era a rota do tráfico internacional
Nas casas do bando foram apreendidas quatro malas recheadas com cocaína. Seis pessoas foram autuadas por tráfico internacional e associação. Um adolescente foi para a delegacia de menores e uma mulher que chegou a ser detida acabou liberada. Na delegacia, os jovens se recusaram a falar da prisão. Aos policiais, Fábio negou envolvimento com o crime.
A captura
23h30min de segunda-feira, 23
A polícia monitora a chegada de Victor Henriques Eury Savoy Varella, morador de São Paulo, no Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. Ele vem de voo do Rio de Janeiro. Traz duas malas grandes. Era procedente do Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, onde aterrissou de voo internacional (Holanda).
0h de terça-feira, 24
Após pegar um táxi, Victor vai para a Rodoviária Rita Maria, em Florianópolis. Lá, se encontra com Fábio Augusto Walter, que também era seguido pela polícia. Os dois são abordados dentro da rodoviária e presos. Victor estava com malas em que havia cerca de 100 mil comprimidos de ecstasy e micropontos de LSD. Fábio resiste à prisão e os policiais o dominam à força.
6h de terça-feira, 24
A polícia cumpre oito mandados de busca nas casas dos suspeitos, em Palhoça (Pinheira e Ponte do Imaruim) e Florianópolis (Abraão). Quatro malas são apreendidas. Dentro delas havia cocaína.
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“É uma rota já manjada”
Cláudio Monteiro, delegado da Deic deu detalhes da investigação e de como agia a quadrilha desarticulada.
Diário Catarinense – Como surgiu essa apreensão?
Cláudio Monteiro – Foi em cima do Fábio Augusto Walter. Ele já foi preso pela Polícia Federal e investigado no Rio de Janeiro. Vinha arregimentando pessoas para viajar com cocaína à Europa e trazer drogas sintéticas.
DC – Para onde ia tanto ecstasy?
Monteiro – É uma rota já manjada da Europa para Santa Catarina, que é polo de comercialização dessa porcaria vendida em festas eletrônicas e raves a jovens e adolescentes.
DC – Por que tantos jovens estavam envolvidos?
Monteiro – São encantados com a viagem à Europa, onde ficam de 10 a 15 dias. Eles recebem para isso até R$ 25 mil por viagem.
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DC – E as malas com cocaína?
Monteiro – Estavam numa casa na Pinheira. Achamos na parte lateral cerca de dois a três quilos em cada mala.