Sentados em frente ao rancho de madeira lacrado pela Justiça de Palhoça, Evori Alves Filho e a mulher Dalva Santos lamentam o silêncio que tem dominado a Praia da Guarda do Embaú desde a interdição do Bar do Evori.
Continua depois da publicidade
Transformado em estabelecimento comercial há 21 anos, o bar de repercussão internacional foi fechado no início de outubro por estar numa área de proteção ambiental. Mesmo ciente de que está em uma área de preservação permanente, ele acredita que faz um bem para o local. Afirma ser o principal responsável pela limpeza da praia e está disposto a levar a briga adiante.
– Eu junto lixo quase todo dia, ajudo os surfistas que se machucam, apago incêndios na mata, afugento quem quer vir aqui fazer fogueira ou acampar – relembra Evori.
A aparência da casinha não disfarça a idade. Erguida há cerca de 70 anos, a construção foi um rancho de pescadores durante cinco décadas. De lá pra cá, a única mudança que o casal fez foi incluir alguns troncos como apoio para manter a casinha de pé. Não há banheiro, água encanada ou luz elétrica até hoje.
Promotoria aponta irregularidade
Continua depois da publicidade
Segundo o promotor José Eduardo Cardoso, da 4ª Promotoria de Palhoça, o bar está “totalmente irregular” e foi fechado por descumprir diversas legislações de preservação.
Além disso, o proprietário Evori já havia assinado um Termo de Ajuste de Conduta em 2008 afirmando que fecharia as portas em até três anos. Cardoso explica que o único estabelecimento previsto pela preservação da Serra do Tabuleiro para o lugar seria um rancho de pescadores. Caso descumpram o mandado de interdição, a multa é de R$ 2 mil por dia. Evori ingressou com recurso junto ao Tribunal de Justiça de SC, mas não conseguiu reverter a decisão nesta primeira tentativa.
– Ele diz que o bar não danifica a área, mas num dia de movimento as pessoas precisam ir ao banheiro, jogam lixo no chão, sujam a areia. Tanto que o próprio Evori concordou que o bar causa impacto ambiental no acordo que assinou. Recentemente, ele renovou o contrato de locação do espaço e isso demonstra que ele não tem a menor intenção de cumprir o acordo – justifica Cardoso.
Na última terça-feira, uma sessão na Câmara de Palhoça foi realizada e oito dos nove vereadores pediram a reabertura do bar.
Continua depois da publicidade
Outros pontos tradicionais contestados
A polêmica envolvendo bares próximos ou até mesmo na areia da praia não é novidade na Grande Florianópolis. Em junho de 2012, foi demolido o popular Kioske do Pirata, na Praia Brava. As areias nas temporadas de verão seguintes passaram a ser atendidas apenas por tendas de serviço licitadas para o período. Foram três bares derrubados naquele ano. O prazo de exploração dos locais – 20 anos, acordados na década de 80 – venceu em 2008. Durante quatro anos os bares funcionaram irregularmente. Em 2012, voltaram a ser propriedade da prefeitura.
Caso parecido também ocorreu na Praia do Campeche. O Bar do Chico, que funcionava desde os anos 1980, foi demolido em julho de 2010. Na Justiça, foram 10 anos até a decisão pelo fechamento. Mas o estabelecimento havia sido construído em área de preservação ambiental e acabou derrubado a pedido da Fundação Municipal do Meio Ambiente.
Os beach clubs de Jurerê Internacional, em Florianópolis, também são alvo de uma ação na Justiça Federal. A Associação de Proprietários e Moradores de Jurerê Interacional (Ajin) propôs ação em 2008 em que denunciava a possibilidade de os clubes estarem em área de marinha e de preservação permanente.
A Justiça Federal de Santa Catarina está elaborando uma perícia por um biólogo e um geólogo. O laudo vai responder se a suspeita é verdadeira. Essa é a principal diferença entres a situação dos beach clubs e as em que os bares já foram fechados. Contra os clubes de Jurerê ainda não há uma decisão definitiva da Justiça ordenando que fechem as portas ou que podem continuar a operar, apesar de o Ministério Público Federal já ter recomendado a demolição com base em um estudo do ICMBio. Continua depois da publicidade
Apoio de frequentadores na internet
“Estou aqui para falar em prol de um amigo, de um grande irmão, um parceiro, o anjo da guarda da praia da Guarda do Embaú, que é o Evori”, começa o ator André Ramiro, o Matias do filme Tropa de Elite, no vídeo que gravou em defesa da reabertura do Bar do Evori.
O vídeo é parte do apoio que o responsável pelo bar recebeu nas redes sociais. Outro indício da preferência das pessoas foi a repercussão na internet. A notícia da interdição no perfil do Bar no Facebook já ultrapassa as 70 mil visualizações.
Famosos passaram pelo pequeno rancho. Além do ator, o apresentador Bruno de Luca, o ex-BBB Diego Gasques, o Alemão, o ator Lúcio Mauro Filho, da Grande Família, e o vocalista da Fresno, Lucas Silveira.
O apoio chega em maior parte, no entanto, dos frequentadores que não são celebridades.
– Precisamos do Bar do Evori aberto – defende a contadora Michele Regina Machado, de Blumenau. Continua depois da publicidade