Tradição e boas histórias fazem parte da trajetória da Empadas Jerke, que neste 2022 comemora 100 anos do legado deixado por Carlos Guilherme Jerke. Desde a primeira empada vendida, o negócio familiar já chega à terceira geração e mantém o diferencial da primeira mistura de ingredientes feita lá na década de 1920. 

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Carlos, 59 anos, e Paulo Jerke, 57, netos do fundador, criaram-se dentro da empresa e, seja dentro da confeitaria ou na comprida vitrine em que são expostos os salgados, já passaram por todas as funções. Atualmente, após a aposentadoria do pai, Ronaldo Jerke, aos 82 anos, os irmãos estão à frente dos negócios. 

– Além de ser um negócio, é a nossa casa, é onde a gente nasceu, onde a gente está vivendo e pretendemos viver por um bom tempo para ver quem será o próximo herdeiro a tocar. A nossa intenção é não parar – frisa Carlos. 

De Juliana Paes a Lima Duarte, Beto Carrero e outras personalidades do país, sejam artistas ou políticos, o fato é que a Jerke sempre foi “bem frequentada”. Mas apesar da vivência no local desde a infância, Paulo tem ciência de que as histórias que possuem são um “pingadinho” perto do que têm para contar os que ficam do outro lado do balcão. 

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Há os que chegam no local e, apoiados a uma bengala, recordam da época em que o espaço ainda era tocado pelo patriarca Guilherme. Também há os que aparecem em dias específicos da semana e já têm as mesas demarcadas com o aviso “reservado”. Esses são os clientes chamados, carinhosamente, de “stammtisch”. 

Paulo explica que, embora variado entre jovens estudantes, o perfil dos frequentadores é definido por casais de meia-idade e idosos que possuem laços afetivos e boas recordações das empadas, que são praticamente um patrimônio cultural joinvilense. 

– Ano passado ou retrasado, veio uma família de Curitiba aqui, com uma senhorinha já de idade. Perguntaram pra ela qual era seu último desejo e ela respondeu: “É ir em Joinville comer a empada do Jerke” – conta Paulo, com olhos cheios d’água.  

O diferencial que se mantém entre as gerações

Os irmãos Carlos e Paulo fazem questão de dizer que a massa folhada da famosa empada foi criada pelo avô Guilherme. Natural de Brusque, o homem chegou a Joinville na juventude e começou a trabalhar como tecelão na têxtil Lepper. Neste meio-tempo, no entanto, passou a fazer os salgadinhos da massa que havia desenvolvido e vendê-los de bicicleta pela cidade para implementar a renda. 

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Ao perceber que a renda extra tinha se tornado a principal, o patriarca deixou o emprego na empresa, alugou um imóvel na Rua João Colin, ao lado de onde é a atual Empadas Jerke, e iniciou o negócio familiar. 

Fachada de confeitaria
Empada Jerke foi fundada com o nome “Confeitaria Guilherme Jerke” (Foto: Patrick Rodrigues / NSC)

– Aqui na frente, quando começou, tinha aqueles ferrinhos para amarrar cavalo ainda, os clientes chegavam de cavalo aqui. Tinha posto de gasolina bem em frente. Têm fotos aí que tem cachos de banana do lado do imóvel – conta Carlos, que distancia o olhar na tentativa de imaginar. 

Paulo ainda cita que a rua era uma larga estrada de terra, ainda de mão dupla e que eram poucos os veículos que circulavam pela cidade. Apesar de trazer à mente a ideia de uma outra Joinville, o ingrediente essencial que leva fama às empadas de massa folhada se manteve por entre as décadas: o modo de preparo. 

Na contramão de todo avanço tecnológico, na Jerke otimizar é sinônimo de manter o que deu certo. Neste caso, a produção manual das empadas. Desde que a massa é batida, esticada e recheada até ir para a venda é um longo processo, que chega a levar até 36 horas. Os confeiteiros iniciam o trabalho às 5h e finalizam ao meio-dia. A produção é feita no dia, passa a tarde e a noite no congelamento, depois vai para a embalagem e libera espaço para as próximas serem produzidas. 

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– Não tem máquina, é tudo batido à mão. A massa é única. Várias pessoas já tentaram fazer, inclusive, ex-funcionários, mas não fica igual – garante Paulo.  

Atualmente, sob nova direção, a empresa passou de individual para limitada, gerenciada pelos irmãos Carlos e Paulo, que atuam presencialmente, e a irmã Jeane, 56 anos. No decorrer dos anos, além das empadas, o local passou a servir outros salgadinhos, almoço e serviço de bar. 

– Você imagina quando meu avô começou, não tinha geladeira, não tinha freezer… Então o que se produzia, tinha que ser consumido no dia. Aqui no bar, quando fizemos a reforma, achamos um buraco. Como não tinha geladeira, botavam cerveja lá dentro, gelo e serragem e ali gelava a bebida. Vê a dificuldade que se tinha na época – comenta Paulo.

Irmãos Jerke
Empadas Jerke fazem parte da tradição de Joinville há cem anos (Foto: Patrick Rodrigues / NSC)

A mais pedida com laranjinha

Carlos conta que, em média, são vendidas cerca de 4 mil empadinhas por dia. Dessas, 1,5 mil são vendidas no estabelecimento e o restante vai para o serviço externo, como padarias e distribuidores – de Curitiba a Florianópolis. 

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Dos sabores mais pedidos, a queridinha dos clientes é a “especial”, feita com camarão, palmito e azeitona. Para acompanhar, uma laranjinha bem gelada. A de palmito, original, vendida pela primeira vez, ainda está entre as prediletas. Frango e queijo também estão entre os destaques, além das opções de empada doce, feitas com banana e maçã.

Agora, na casa dos 100 anos, Carlos assegura que as modernizações serão feitas apenas na parte administrativa, mas o ambiente será mantido pela tradição. Já com netos e bisnetos de Carlos e Paulo, a família Jerke chega à quinta geração e, para aproveitar as vivências guardadas pelo pai Ronaldo e pela clientela assídua, a ideia é que sejam compiladas essas histórias em um livro.

Para além do slogan, o “de pai para filho” tornou-se um legado.

– Acompanhamos amigos de colégios, de empresas tradicionais na cidade que hoje, se formos ver, os negócios familiares não enchem uma mão. E eu sempre coloquei na minha cabeça: não quero que as Empadas Jerke seja mais uma a fechar. Queremos que continue na família e se perpetue – dizem os irmãos.

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