Sentada em círculo, a turma de crianças de seis e sete anos tem à frente uma professora experiente que começa a conduzir a atividade do dia com a pergunta: “Vocês querem dividir com o grupo alguma experiência ruim que tenha ocorrido na escola ou em casa?”, pergunta. Aos poucos, meia dúzia de alunos levanta as mãos para compartilharem suas histórias com os colegas. E os mesmos colegas da turma dão sugestões para lidar com a situação.
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É assim que é ensinada a inteligência emocional para crianças do primeiro ano do ensino fundamental na Escola Municipal Prefeito Baltasar Buschle, no bairro Parque Guarani, zona Sul de Joinville.
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Com o início do ano letivo, nas escolas surgem também problemas de comportamento dos alunos. Isso contribui para o aumento da dificuldade de aprendizagem, estresse nas provas e também na incompreensão de regras da escola, assim como a diminuição dos níveis de paciência dos pais. Uma solução simples pode ser o ensino da inteligência emocional em sala de aula. A boa notícia é que em Joinville existe um programa que ajuda as escolas públicas a aplicarem este tipo de educação em sala de aula.
Segundo a presidente da Associação pela Saúde Emocional da Criança (Asec) de Santa Catarina, Rosane Voltolini, a educação emocional é importante para as crianças adquirirem habilidades para gerenciar suas próprias emoções e também compreenderem as emoções do outro. Dessa forma, o desenvolvimento social e o aprendizado no ambiente escolar ocorrem com mais facilidade.
– A nossa performance na vida não é determinada somente pelo quociente da inteligência, mas, principalmente, pela nossa inteligência emocional para lidar com as diversas situações da vida – diz Rosane.
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Pais têm papel importante
A presidente da Asec do Brasil, Tania Paris, complementa que os pais têm um papel fundamental para desenvolver a inteligência emocional nos filhos, dando atenção e consideração aos seus sentimentos e oportunidades para a criança expressar-se sobre eles. Tania ainda chama a atenção para a atitude errada dos pais ao tentarem minimizar a dor ou o medo da criança.
– Não é saudável induzir a criança a pensar que se não falar sobre os sentimentos, eles irão desaparecer – ressalta Tania.
Rosane também orienta os pais a explicarem ao filho sobre a nova rotina que vai fazer parte da vida dele (horários, quem leva e quem busca) e também contar um pouco sobre o que acontece na escola: haverá uma professora, terá novos amigos e fará novas atividades.
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– Mesmo passando o período de adaptação com a escola nova, é importante que os pais conversem com a criança sobre como foi o dia na escola e como ela tem se sentido em relação ao novo ambiente – avisa a professora Rosane.
Victor mudou o comportamento
Um exemplo de mudança de comportamento em sala de aula é do aluno Victor Hugo Raimundo, de sete anos. Segundo a professora, ele era um aluno quieto e demorou para aprender a ler e escrever. Além disso, tinha certa dificuldade em se relacionar com os colegas da sala. Ela conta que, em algumas situações, ele chegava a ser um pouco agressivo, quando não gostava de algo.
– Victor não conseguia conversar sobre o que o tinha ofendido e aí acabava agindo com agressividade – diz a professora.
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Depois de dois meses do Programa Amigos do Zippy sendo aplicado em sala, Victor mudou. Passou a apresentar um outro comportamento: o menino passou a falar como se sentia, conversa sobre seus sentimentos com a professora e os colegas e também em casa com os pais.
A mãe de Victor, Suely da Rosa, 44 anos, também percebeu a mudança. Suely explica que na sua casa moram ao todo oito pessoas – três filhos, dois enteados e um neto. Victor ainda tem um irmão com deficiência visual que, segundo Suely, requer uma atenção ainda mais especial dela. Ela comenta que Victor acabava se sentindo pouco amado e carente de afeto materno, o que provocava as reações de agressividade com os colegas e com a família. Suely explica que o filho, agora, consegue se expressar e a relação deles melhorou muito com isso.
Suely lembra de um desenho em especial que o filho fez. Victor desenhou os pais com o irmão em um canto de mãos dadas e ele distante no outro canto da folha de papel. Depois de ver o desenho, Suely entendeu que ele precisava de mais tempo e atenção dela para se sentir amado.
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– Ele também tinha reações agressivas aqui em casa e não falava o motivo. Agora, ele fala o que sente e pensa e se não consegue se expressar por palavras, desenha. Nossa relação melhorou 100% graças às aulas de educação emocional – diz a mãe, orgulhosa.