Se até dois anos atrás muitos trabalhadores buscavam mais poder aquisitivo com aumentos salariais acima da inflação do ano anterior – o chamado ganho real – em 2016 garantir a reposição das perdas provocadas pela elevação de preços já foi motivo de comemoração para muitas categorias.

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Em Blumenau, o reajuste mais recente foi o dos trabalhadores têxteis, que aceitaram esta semana a reposição de 9,62% nos salários, o equivalente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, principal indicador usado nas negociações salariais) dos últimos 12 meses.

Quem também recebeu apenas a reposição da inflação foram os funcionários do comércio (9,56%, concedido em agosto) e das indústrias metalúrgicas (9,83%, definido em maio). Os servidores municipais conseguiram, ainda que de forma parcelada, 11,20%, índice acima da inflação, porém em parte beneficiados por um acordo firmado na negociação de 2014 que previa 1% de ganho real até este ano.

Já os bancários aceitaram proposta de 8%, abaixo do INPC de 9,76% no período da data-base da categoria. Em contrapartida, os profissionais receberam um abono e garantia de 1% de reajuste além da inflação em 2017. Os trabalhadores do transporte coletivo começaram a negociação nesta semana.

O economista e professor da Furb Nazareno Schmoeller avalia que repassar a inflação é importante porque ao menos mantém o poder de compra do trabalhador. Segundo ele, se os salários não são ajustados pelo INPC, a tendência é de queda na mesma proporção na economia do ano seguinte. O motivo é que, com orçamento menor, as pessoas precisam adequar gastos e, para isso, economizam na luz, combustível ou supermercado. Com menos consumo, as empresas vendem menos e perdem receita. Até mesmo o sindicato dos lojistas admite que não repassar ao menos a inflação traz consequências ruins para o próprio comércio.

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Para evitar essa corrente negativa, muitas empresas optam por conceder os reajustes e buscar saídas como estratégias de vendas e reorganizações internas.

– A reposição da inflação ajuda a fazer com que pelo menos 2017 não seja pior que 2016. Acaba gerando uma expectativa e passando a impressão que Blumenau está cumprindo sua parte – avalia o economista.

Produtividade é vista como pré-condição para reajustes, avalia economista

Para os trabalhadores o reajuste é bom porque permite manter o padrão de vida e a motivação no emprego, o que também favorece as empresas. Mas um fator é visto como fundamental para permitir até mesmo o repasse da inflação: a produtividade. Segundo o economista e professor da Furb Bruno Thiago Tomio, sem nível de produção em patamar alto, o custo da reposição acaba sobrando para as empresas, que perdem competitividade.

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (Fetiesc), Mairon Edegar, que media negociações salariais entre sindicatos laborais e patronais, este ano poucos acordos registraram aumento real. No entanto, com a reposição da inflação aos salários, queda nos preços e mercado de trabalho com sinais de recuperação em SC, a avaliação do profissional é de tendência positiva para o próximo ano:

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– Esses elementos contribuem para que tenhamos aumentos reais no próximo ano, embora não seja nenhuma garantia. Claro que o mercado não está no mesmo patamar de alguns anos atrás, mas tudo depende muito do resultado das companhias e da própria organização e luta dos trabalhadores.