Não haveria vida moderna sem que muitos deles se dispusessem a dançar nas alturas. O compasso é da coragem. Ritmo de segurança. Traje de cintos, fivelas, cordas e suor. Em Gaspar, a 52 metros do chão, trabalhadores deixaram suas cidades para trás e lidam com a saudade de quem amam para buscar um futuro melhor para eles e para nós.

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A equipe de cerca de 20 homens e diversos sotaques tem a responsabilidade de instalar uma rede de transmissão de energia para fortalecer o abastecimento em Gaspar, Brusque e cidades do litoral.

O Santa acompanhou parte do trabalho em março. Passo a passo Marcelo Vieira vai ficando longe do chão e segue para o trabalho que dá vertigem em quem o vê no tamanho de formiga. Lá no alto equilibra-se no fio que suporta até 2,5 mil quilos a cada 500 metros. Ninguém tira do mineiro de 20 anos a função de instalar os sinalizadores aéreos. Arrastando-se, chega ao ponto de fixar as esferas vermelhas no cabo. No chão, a camisa entreaberta, o cabelo cuidadosamente desajeitado e o piercing no nariz dão o tom de jogador de futebol do garoto que viu no alto a oportunidade de melhorar de vida e morar em cidades diferentes.

>>> Confira no vídeo imagens e depoimentos de quem trabalha nas alturas:

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Para Marcelo, o trabalho que começa no chão é o pior. Montar na terra um quebra-cabeças de metal é a primeira etapa para erguer as torres que sustentarão as redes de alta tensão. Jadir Martins Moreira, coordenador da equipe, conta que é a parte das mais pesada de toda a instalação das linhas de transmissão. As peças começam a ganhar altura com a ajuda de um guindaste.

A cada encaixe, um pequeno grupo é responsável pela fixação. Aos 34 anos, Jadir é o mais experiente da turma. Há 16 passa os dias com os pés livres, mas agora quer mesmo é prender-se em alguém. Paga um apartamento financiado em São José, onde pretende morar, ter filhos e casar. Enquanto o amor não vem, poupa dinheiro e faz planos. Quando a saudade aperta, volta para o abraço da mãe, em Minas Novas, interior de Minas Gerais.

– Quero sossegar, ficar em um lugar. Agora a gente trabalha onde tem serviço. Uma hora acaba cansando de não ter lugar fixo – conta Jadir.

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O salário pode variar de acordo com a função e experiência, mas ainda está acima da média da construção civil. Josélio da Silva Martins, um paraense de 24 anos que há quase dois percorre o país nessa lida, compara:

– Regula como mais ou menos de um professor.

A comparação soa descabida. Para trabalhar nessa área é necessário o ensino fundamental e cursos de segurança em altura. Mas, quem sabe, sem eles – malabares das alturas e da lousa -, não haveria a vida como conhecemos. Justo seria, então, melhor remuneração para ambos.

O Brasil tem 125,7 mil quilômetros em linhas de transmissão, suficientes para dar três voltas ao mundo. Com os recentes leilões para construção e concessão de novas redes, até 2016 o país terá suspensos no ar cabos de alta tensão suficientes para quatro voltas na Terra.

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A rede de transmissão instalada pela equipe em Gaspar, cruzando a BR-470 na altura do km 46, vai fortalecer o abastecimento em Gaspar, Ilhota e cidades da região da foz do rio Itajaí.

Com tensão de 230 kV, ela sai da subestação da Eletrosul no bairro Itoupava Central, em Blumenau, e segue até a nova subestação instalada no Belchior, em Gaspar. Ao todo, a rede tem cerca de 12 quilômetros, distância equivalente da prefeitura de Blumenau até o Aeroporto Quero-Quero.