A insegurança do plano de recuperação da Busscar para os trabalhadores foi uma das principais preocupações manifestadas durante reunião convocada pelo Sindicato dos Mecânicos de Joinville, nesta terça-feira de manhã.
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O encontro teve a presença de cerca de 100 ex-funcionários e serviu para esclarecer as dúvidas sobre a proposta da empresa para tentar voltar à atividade e pagar as dívidas – a fabricante de ônibus fechou as portas em setembro de 2012.
O plano será votado no dia 19 de agosto, no Centreventos Cau Hansen. Se for rejeitado, haverá a decretação de falência da empresa.
Após as explicações dos técnicos durante a manhã, ficou constatado que o plano não atende às necessidades da categoria e o principal receio diz respeito à possibilidade de perder a única garantia de pagamento dos débitos trabalhistas, os bens da companhia.
Se o plano for rejeitado e a empresa falir, a lei garante a venda dos bens em leilão para pagar os credores, e a maioria dos funcionários encontra-se em segundo lugar na lista de prioridade de pagamento. E aproximadamente 1 mil estão na categoria preferencial de recebimento (os extraconcursais).
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Se o plano para reerguer o empreendimento for aprovado, o documento prevê que os bens serão vendidos e o valor usado para a empresa voltar a funcionar. Ou seja, se a tentativa de recuperação não der certo e a companhia falir mais à frente, os bens já não existirão mais e ficará ainda mais difícil recuperar os créditos.
Para reduzir a insegurança, o sindicato quer que metade do valor dos bens seja destinada para quitar as dívidas trabalhistas e a outra metade vá para alavancagem do negócio.
Outro ponto que gera dúvida é o pagamento de parte dos débitos em ações. A entidade fez algumas simulações com estimativas de valores e não encontrou vantagens para os trabalhadores nesta modalidade.
No entanto, a entidade não tem poder para mudar qualquer ponto do plano, as mudanças precisam ser acatadas pelos donos da empresa, os que elaboraram este plano em apreciação.
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O advogado da empresa, Euclides Ribeiro S. Júnior, sinaliza que há espaço para diálogo.
– O próprio plano prevê que propostas alternativas devem ser entregues ao Poder Judiciário até quinze dias antes da assembleia. Se houver proposta viável, será apreciada – afirma.
Tios
Os trabalhadores não são os únicos descontentes com o conteúdo atual do plano. Contatos feitos por representantes da entidade sindical demonstram que um dos grandes bancos também não estaria disposto a votar a favor por não acreditar no plano.
Até quem se beneficiaria com a aprovação da recuperação judicial também quer modificações no texto.
Este é o caso dos credores simples, que não têm garantias e, por isso, estão em último lugar na fila para receber seus direitos. Na prática, eles não receberiam nada em caso de falência, pois o valor do total dos bens não chegaria até eles – os primeiros da fila consumiriam todo o montante.
Para essa categoria, é melhor tentar recuperar a empresa pois é a única chance de receber alguma coisa. Entre eles, os votos decisivos estão nas mãos de dois membros da família, os tios Randolfo Raiter e Valdir Nielson, juntos, eles têm R$ 304 milhões a receber.
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Hoje, o plano prevê a transformação dos R$ 304 milhões dos tios em ações, o que reduziria de forma significativa a dívida da Busscar. Mas o advogado que os representa no caso, Dilvo Glustak, já está elaborando uma proposta alternativa e espera estar com ela pronta em no máximo 15 dias.
A principal reivindicação é vincular a transformação dos créditos em ações à vinda de um investidor. Glustak diz que, junto com os investidores, os tios estariam dispostos a transformar parte ou todo o crédito em capital.
– A recuperação só será possível se houver injeção de capital externo – afirma Glustak.