Nas alturas eles se equilibram nas pontas dos pés, ora de sapato ora de chinelo. Debaixo de sol ou chuva arriscam-se sem proteção. O despreparo ou o excesso de confiança retratam os flagras feitos pelo Santa nos últimos meses em obras da construção civil em Blumenau.
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Os registros mostram uma realidade discutida há tempos no setor, uma soma de irresponsabilidade do empregado e do empregador com a dificuldade de fiscalização. Dos oito acidentes de trabalho noticiados neste ano, sete envolviam operários da construção civil. O saldo desta conta foi de cinco mortes.
Segundo o coordenador do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Macrorregião (Cerest) de Blumenau, Francisco Giuberto de Brito, na maioria das vezes o órgão fica sabendo das ocorrências através da imprensa:
– Reunir dados fidedignos é uma dificuldade do Cerest, muitas vezes os acidentes de trabalho não são notificados e por consequência desconhecemos as precariedades do setor. Hoje atendemos em média 20 vítimas de acidentes de trabalho por dia em Blumenau, mas este número pode ser ainda maior, já que nem todos procuram o centro.
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::: Novos investidores e excesso de confiança são agravantes
Uma cadeia de problemas que afeta a construção civil leva ao acidente de trabalho, explica o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário de Blumenau (Siticom), Alberto Francisco Pereira. Para ele, terceirização da mão de obra, informalidade, rotatividade, falta de treinamento, fiscalização insuficiente e problemas de manutenção são alguns dos fatores que atingem diretamente a segurança dos trabalhadores do ramo. Hoje o setor conta com 15 mil profissionais na região.
– A construção civil é uma atividade de alto risco. O trabalhador fica exposto ao perigo desde a hora em que entra na obra até o fim do expediente. Por isso o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) é fundamental – analisa Pereira.
O setor lidera os atendimentos no Cerest, seguido pelo têxtil:
– Três fatores preponderantes fazem da construção civil um dos ramos mais perigosos: queda de altura, choque elétrico e soterramento. Outra coisa que faz o setor se destacar é que em outras áreas os acidentes são menores enquanto na construção geralmente são graves e até mesmo fatais reforça.
Setor têxtil recebe média de 600 notificações por ano
Blumenau também registra muitos acidentes de trabalho na área têxtil. A primeira secretária do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sintrafite) e responsável pela emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), Maria Roseli Ronchi Back, conta que são em média 600 notificações por ano. Ela aponta a falta de treinamento como um dos principais causadores de doenças e ocorrências graves.
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– A produção não pode parar e por consequência as máquinas também não. Recentemente tivemos um acidente em que a funcionária teve a mão amputada, pois foi fazer a manutenção com o equipamento ligado. É um absurdo que as pessoas não passem por treinamento adequado e não tenham nem sequer um botão de emergência – analisa a secretária, que tem denunciado as precárias condições de serviço ao Ministério Público do Trabalho.
Devido às denúncias que tem recebido, Maria Roseli acredita que a média de notificações não retrata a realidade de Blumenau. O Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelegam e do Vestuário foi procurado ontem para falar do assunto, mas a pessoa responsável estava em reuniões.