O homem torturado por criticar os bloqueios de manifestantes pró-Bolsonaro na BR-101, em Itapema, deixou Santa Catarina por causa do medo. Rafael dos Santos Cabral da Silva, 41 anos, contou estar traumatizado após ser mantido em cárcere por apoiadores do atual presidente da República e revelou o terror sentido durante as horas que ficou sob controle do grupo. Os responsáveis foram identificados e dois chegaram a virar réus na Justiça, mas respondem ao processo em liberdade.

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— Infelizmente, estou sem trabalhar, sem poder estar no local que amo, por causa da perseguição desse pessoal. Não estou conseguindo dormir à noite. Quando alguém se aproxima de mim com a camisa do Brasil, eu fico aflito porque não sei qual é a intenção daquela pessoa comigo — desabafou em entrevista ao g1.

Tudo começou quando Rafael fez um vídeo para amigos dizendo que passaria pelo acampamento dos manifestantes, às margens da BR-101, para “tomar um café e beber uma água”, ironizando. O vídeo chegou ao grupo que estava no bloqueio e, segundo a defesa da vítima, a sequência dos fatos foi uma armadilha. No dia seguinte ao vídeo, em 20 de novembro, a vítima recebeu uma ligação para buscar um sofá em um edifício no bairro Meia Praia, mas ao chegar, foi abordado pelos agressores.

— Ele chegou ao endereço e já foi cercado pelo grupo. Eles tomaram os pertences dele, a chave da Kombi, carteira e o agrediram, humilharam. Depois o colocaram dentro de uma Hilux, estava sem liberdade total, e o levaram até a BR-101, onde ocorriam as manifestações — relata o advogado Marcelo Saccardo.

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Durante cinco horas, o homem que trabalha com fretes foi torturado e obrigado a participar dos atos antidemocráticos, com bandeiras do Brasil presas ao corpo. Tudo foi gravado em vídeo e depois compartilhado nas redes sociais. A vítima também foi forçada a usar um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), enquanto repetia frases ditadas pelo grupo. “Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros”, aparece dizendo em vídeo.

— Fiquei o tempo todo, quando cheguei no acampamento, de cabeça baixa, porque até então eles estavam me chamando de vagabundo, de lixo, que eu era comunista, um retirante. Naquele momento que eles botaram o boné na minha cabeça, fiquei de cabeça baixa. Quando aquilo estava amenizando, levantei a cabeça e vi crianças [no acampamento] — relata.

Manifestantes pró-Bolsonaro usam crianças na linha de frente de bloqueio na BR-101

Identificados agressores

A Justiça de Santa Catarina negou a prisão e determinou medidas cautelares contra os dois acusados de torturar Rafael. Gabriel Alexandre Garcia e Carlos Ramon Faila estão proibidos de voltar ao acampamento às margens da BR-101 e impedidos de participar de qualquer manifestação com aglomeração de pessoas. Além disso, não podem tentar qualquer contato com a vítima, segundo decisão do juiz Rafael Bruning.

Os dois foram os primeiros identificados na investigação policial. Ambos viram réus em 25 de novembro e respondem o processo em liberdade. A defesa de ambos, feita pelo advogado Rafael Cardoso Costa, informou à reportagem que não irá se manifestar por enquanto.

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