Um predador sexual que precisava de ajuda. Ariel Castro, 52 anos, definiu-se assim em um bilhete datado de 2004 e encontrado pela polícia na casa onde abusou e aprisionou durante uma década três mulheres.

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O homem escreveu ainda: “não sei por que continuo procurando outra. Já tenho duas em minha posse”.

Detalhes do comportamento de Castro, apelidado de “maníaco de Cleveland” pela mídia americana, começaram a surgir no caso que abalou a comunidade de Cleveland, no Estado de Ohio. Múltiplos abortos, estupros e espancamentos, além de inanição forçada foram detalhados pelas vítimas, Amanda Berry, 27 anos, Georgina DeJesus, 23, e Michelle Knight, 32. Na casa onde as três ficaram aprisionadas, Amanda aproveitou um descuido do algoz – que se esqueceu de trancar uma das portas antes de sair para comer em um McDonald’s – e gritou por ajuda na segunda-feira.

Hoje, ele e os irmãos Pedro, 54 anos, e Onil, 50, que também foram presos por suposta ligação com os crimes, foram levados a uma audiência judicial. Pedro e Onil foram liberados por falta de indícios de que tivessem participação ou de que soubessem o que se passava na residência do irmão. Ariel pode ser condenado à morte.

– Minha intenção é buscar acusações para cada um dos atos de violência sexual, estupro, por cada dia de sequestro, por cada agressão criminosa, por todas as tentativas de homicídio e para cada homicídio qualificado que ele cometeu forçando abortos, tudo que o agressor fez contra as reféns durante essa longa década – declarou o promotor Timothy McGinty, que definiu a casa como “câmara de tortura no coração da cidade”.

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O tribunal estipulou fiança de US$ 8 milhões, mas Ariel Castro, motorista de ônibus desempregado, não tem o dinheiro para ficar em liberdade, segundo a defensora pública Kathleen DeMetz. Depois da audiência, Kathleen pediu vigilância especial ao preso, já que ele poderia cometer suicídio.

Ontem, Lilian Rodriguez, mãe do acusado, disse que o filho é “doente” e pediu desculpas às vítimas. Um tio afirmou que Ariel estava isolado da família. Ele acumula um histórico de agressões domésticas. A ex-mulher, Grimilda Figueroa, morta em 2012, sofreu fraturas e era ameaçada de morte. Em outra história trágica, a filha Emily foi condenada à prisão por tentar matar a filha de 11 meses com uma faca, em 2007. Ela também tentou suicídio.

Ameaças durante parto de menina

Aos policiais, as mulheres contaram que foram mantidas acorrentadas no porão durante os primeiros anos de cativeiro, mas que, depois, Ariel Castro permitiu que vivessem sem correntes no andar de cima, a portas trancadas. Michelle Knight contou à polícia que ficou grávida “pelo menos cinco vezes” durante os quase 12 anos de cativeiro, indicou a emissora CBS, citando o relatório policial.

“Ariel a forçava a abortar”, segundo o registro policial. “Ele a deixava sem comida por pelo menos duas semanas e, depois, batia repetidamente em sua barriga até que ela perdesse a criança”.

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Castro levou uma piscina de plástico infantil e forçou Berry a dar à luz ali dentro a fim de evitar a inevitável sujeira, acrescentou a mulher à polícia. Ele também forçou Michelle a ajudar e disse a ela que “se o bebê morresse, ele a mataria”.

Em um momento daquele assustador 25 de dezembro de 2006, a recém-nascida parou de respirar e Knight reanimou o bebê com uma respiração boca a boca. A criança é Jocelyn, seis anos, que fugiu da casa com Amanda. As mulheres só tiveram permissão para deixar a casa em duas breves ocasiões, quando Castro as levou para a garagem usando perucas como disfarce.

As vítimas

As três jovens desapareceram entre 2002 e 2004, na mesma região da cidade, nas proximidades da casa onde ficaram presas até segunda-feira

Amanda Berry

Responsável por quebrar a porta da casa que lhe servia de cárcere, Amanda foi raptada em 2003, aos 16 anos. Fora vista pela última vez quando voltava de seu emprego em uma lanchonete Burger King. Agora, aos 27 anos, a jovem retornou para a casa da irmã junto com a filha Jocelyn, 6 anos, que teve com seu sequestrador, Ariel Castro.

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Georgina DeJesus

Raptada aos 14 anos, em 2004, quando voltava da escola. Foi colega e uma das melhores amigas de uma das filhas de Ariel Castro, Arlene, que disse desconhecer o caso e se desculpou ontem “por todo o sofrimento” causado a Georgina. A jovem já está na casa dos pais, onde foi recebida com festa por familiares e conhecidos.

Michelle Knight

Tinha 19 anos quando foi sequestrada, em 2002. Sua família jamais denunciou o desaparecimento, de acordo com a imprensa americana, pois suspeitava que Michelle havia fugido depois de ter sido separada da filha que teve durante o Ensino Médio. Por ser adulta na época do rapto, seu caso não obteve tanta atenção da polícia.