Segunda-feira à tarde era véspera de feriado. Parte do Corpo de Bombeiros de Xanxerê estava em ponto facultativo. O tempo não estava ensolarado, mas nada indicava o que estava por vir. Por volta das 14h, um tornado passou pela cidade no Oeste de Santa Catarina e destruiu casas, ginásio e deixou mais de 100 pessoas feridas.

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O comandante do Corpo de Bombeiros de Xanxerê, Walter Parizotto, conta como foi o atendimento às vítimas e os primeiros minutos de um desastre natural que matou duas pessoas.

Diário Catarinense: Como vocês receberam a notícia do tornado?

Walter Parizotto: Na verdade, a informação nunca chegou no quartel. A primeira ligação que chegou – e a única – foi na perimetral. Uma árvore que cai sobre um carro. Todas as equipes se deslocaram para fora da cidade, onde o vento estava fora mas o cone não tinha atingido o solo ainda. Quando saímos de lá vimos um pinheiro voando e ai ficamos extremamente preocupados. Chegamos no quartel e o nosso telefonista estava muito tranquilo. Perguntamos se havia algum chamado. E não. Esperamos mais alguns minutos e percebemos que os telefones estavam mudos. Pegamos as viaturas que tínhamos no quartel e começamos a sair. Uma das coisas mais tristes da vida do bombeiro é quando as pessoas não conseguem acessar o socorro. Não tem como precisar quantos atendimentos nós fizemos, é impossível. A primeira equipe que chegou de Chapecó ouviu na rádio que tinha acontecido algo em Xanxerê. Só conseguimos informar nosso comando do que havia às 8h da noite. Até as 11h da noite era um caos. Foi uma noite que não terminou. Ela começou com um pinheiro voando e terminou com o sol nascendo.

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DC: Alguns bombeiros tiveram as casas destruídas e mesmo assim atuaram…

Parizotto: Um deles na hora que estava chegando em casa, viu ela destruída e a camiseta do lado de fora. Pegou a camiseta e por coincidência passou uma viatura. Ele logo entrou na viatura e só voltou no dia seguinte. Outro chegou em casa viu que não tinha casa, lembrou do quartel e ficou aqui até o final do dia seguinte.

DC: Apesar de toda a dificuldade, vocês têm treinamento para essas situações.

Parizotto: Em Xanxerê, por conta das circunstância de termos homens preparados e os instrutores aqui, facilitou o nosso trabalho. Mas se isso tivesse acontecido em outra cidade, uma pequena isolada, ia ser muito mais complicada. O fato de ser aqui favoreceu um pouco. As pessoas que morrem era impossível. Elas morrem de fatos imediatos do fenômeno. Nós conseguimos nos organizar um pouco mais rápido.

DC: Em quantos vocês estavam?

Parizotto: Nós tínhamos sete homens em serviço, mais cinco que estavam em ponto facultativo. Mas tínhamos separado esse dia para consertar as sapatas do quartel. Veio o pessoal que estava de folga para fazer esse serviço.

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