Os combatentes sírios começaram, nesta quarta-feira (18), a ocupar a cidade devastada de Raqa e pediram aos civis que não retornem imediatamente para a localidade, um dia após a reconquista deste reduto na Síria das mãos do grupo extremista Estado Islâmico (EI).
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Apesar da queda de Raqa, a “capital” de fato do EI neste país em guerra, a aliança de combatentes árabes e curdos apoiada por Washington ainda procuram eventuais “jihadistas” escondidos em túneis, ou em edifícios na cidade.
As Forças Democráticas Sírias (FDS) garantem que “não há mais células latentes”, afirmou à AFP Mustefa Bali, no dia seguinte ao anúncio do fim das operações militares.
“O processo para limpar a localidade das minas terrestres e para reabrir as principais artérias continuam”, disse ele, explicando que “é só depois do final dessas operações que anunciaremos a libertação oficial” da cidade.
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O porta-voz advertiu para o risco de um retorno precipitado dos civis que fugiram da cidade bombardeada por mais de quatro meses.
– ‘Patético’ –
Os habitantes da cidade devastada não devem “voltar sem coordenação, porque (a cidade) está cheia de minas”, indicou Bali, acrescentando que seu retorno “neste momento é muito difícil”.
A perda de Raqa, cidade emblemática do reinado do terror imposto pelo EI nos territórios sob seu controle na Síria e no Iraque, é um derrota de peso para o EI, que vê seu “califado” autoproclamado em 2014 desmoronar.
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A cidade servia de centro de planejamento para ataques mortíferos em todo mundo.
O grupo que “se dizia todo-poderoso, hoje é patético e uma causa perdida”, tuitou o enviado americano para a coalizão internacional liderada por Washington, Brett McGurk.
Apesar do anúncio da queda de Raqa, o destino de dezenas de extremistas estrangeiros que permaneceram até o final da batalha continua a ser um mistério. Não há imagens de corpos, ou de prisioneiros.
“Alguns se renderam, outros morreram”, afirmou Talal Sello, um porta-voz das FDS, sem mais detalhes.
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De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a maioria dos jihadistas estrangeiros se rendeu e está nas mãos dos serviços de Inteligência ocidentais.
“Eles não são visíveis, porque os serviços de Inteligência os mantêm”, disse o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane, à AFP.
“Os extremistas franceses e belgas estão, com certeza, nas mãos dos serviços de Inteligência” desses dois países, garantiu.
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A coalizão internacional que apoiou a batalha contra o EI com seus ataques aéreos indicou que os jihadistas que se renderam foram “interrogados”.
O porta-voz da coalizão, o coronel americano Ryan Dillon, declarou à AFP que cerca de 350 combatentes do EI se renderam “nas últimas 96 horas”, evocando “quatro estrangeiros” entre eles.
– ‘O momento que esperávamos’ –
Logo após o anúncio da tomada de Raqa, os combatentes das FDS ocuparam simbolicamente o cruzamento de Al-Naïm, onde a organização extremista realizava suas decapitações e outras atrocidades.
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Alguns estavam muito emocionados, outros sorridentes, tirando fotos e brandindo a bandeira amarela das FDS.
“Este era o momento que esperávamos”, declarou Hazem Kobane, um combatente de 23 anos.
Ao redor, uma paisagem de desolação, com prédios em ruínas, ruas cheias de escombros e carcaças de veículos, uma cidade devastada por mais de quatro meses de combatentes e bombardeios aéreos.
Durante este período, os combates deixaram 3.250 mortos – 1.130 civis, incluindo 270 crianças, e 2.120 combatentes dos dois lados -, segundo o OSDH.
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“Quando minha irmã me anunciou a libertação da cidade, começou a chorar e eu também. Deus, obrigado”, afirmou Oum Abdallah, estabelecido em Kobane, ao norte de Raqa.
Há meses, a organização ultrarradical sunita têm sofrido uma série de derrotas no Iraque e na Síria.
Na Síria, o grupo ainda está presente, em pequeno número, no centro e na periferia de Damasco. Seu último reduto é a província de Deir Ezzor (leste), na fronteira com o Iraque.
* AFP