– Jogue a moeda para cima e mande ver.
É assim que Tom Zé sugere o rumo da entrevista, perguntado se preferiria começar a conversa pelo novo disco ou pelo show que apresenta na Capital nesta quarta-feira. Começando, então, pelo disco:
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– As canções são fáceis, cantáveis, batem no coração da pessoa. Fiz o meu melhor disco até hoje.
No palco, Tom Zé terá a companhia de Daniel Maia (guitarrista e vocalista, além de produtor do álbum), Cristina Carneiro (tecladista e vocalista), Jarbas Mariz (percussionista, violonista, bandolinista e vocalista), Felipe Alves (baixista e vocalista), Ronaldo Bastos (baterista) e Lia Aroeira (cantora).
Conhecido pela teatralidade de suas performances no palco, Tom Zé apresenta o repertório de Tropicália Lixo Lógico sabendo que não poderá deixar de cantar algumas músicas:
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– Como Teatro (Dom Quixote). Afinal, vou cantar no Porto Alegre Em Cena, e o pessoal vai querer ouvir.
Confira reportagem sobre o novo disco de Tom Zé
Zero Hora – A série Estudando rendeu discos sobre samba (1976), pagode (2005) e bossa nova (2008). Tropicália Lixo Lógico é mais um trabalho que revisita algo em detalhe. Por que não entrou para a série?Tom Zé – Porque é uma coisa mais de revelar algo diferente do que constante e irresponsavelmente se fala do tropicalismo. Ou seja, a ideia de que o surgimento se deu em função do rock internacional e de Oswald de Andrade. Mas isso não é absolutamente verdade. Há anos, venho pensando na cultura moçárabe, que, lá na infância, se instalou em Gil e Caetano antes do contato com Aristóteles. E eu queria esclarecer um pouco isso.
ZH – Então, nos esclareça a cultura moçárabe.
Tom Zé – De zero a dois anos, é a fase em que o ser humano mais aprende. A placa mental está completamente virgem, e os primeiros riscos são definidores. Nessa fase, todo o nosso contato com o mundo é praticamente oral. Então, até uns oito anos, nosso universo vive sob outra visão de mundo. Não é lorota, não é brincadeira intelectual. É outra cosmovisão, outra cosmoconcepção, e isso é a concepção moçárabe. Aí, na escola primária, tomamos aquele alegre contato com Aristóteles, que também é uma coisa maravilhosa.
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ZH – Como foi seu encontro com Gil e Caetano?
Tom Zé – Estávamos ainda na Bahia, e diziam que a gente devia se conhecer. Nos juntamos em um grupo e apresentamos os shows Nós, por Exemplo e Velha Bossa Nova, Nova Bossa Velha. Quando viemos para São Paulo, eu, Gil, Caetano e Bethânia fomos dirigidos por Augusto Boal no Arena Canta Bahia. Depois, estivemos um ano e meio separados. Foi quando Gil e Caetano, diante daquela agitação cultural que arrebanhava o Brasil no fim dos anos 1960, se impactaram com o teatro de (José) Celso Martinez Corrêa, a recuperação de Oswald de Andrade, a presença da poesia concreta como voz forte, o Hélio Oiticica, o José Agrippino de Paula, a Rita e os Mutantes, os maestros Rogério Duprat e Júlio Medaglia…
ZH – Foi esse o gatilho disparador a que se refere no disco?
Tom Zé – Com certeza. Isso tudo fez vazar o lixo lógico do hipotálamo para o córtex. E então todos foram armados de uma nova concepção de mundo para interpretar o universo. A genialidade de Gil e Caetano traduziu uma série de trabalhos que passaram a se chamar tropicalismo.
ZH – Há algum tipo de potencial aos moldes do tropicalismo na atual música brasileira?
Tom Zé – Quando me perguntam isso, gosto de lembrar que, com o tropicalismo, a juventude pôde ter acesso a um pensamento ousado, que jogou a mente na direção do sonho de cada um. A canção alcançou um nível sofisticado. (O tropicalismo) Foi uma luta para formar uma certa quantidade de energia. Essa turma que gravou comigo tem essa força.