Foi vestindo terninho preto e óculos escuros – no melhor estilo espião de cinema americano – que Dilma Rousseff desembarcou nos Estados Unidos nesta segunda para discursar nesta terça na abertura da 68ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Com o privilégio de abrir o debate entre os países, a presidente já avisou que usará o palanque para criticar as ações de espionagem americana reveladas pelo ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden.
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O discurso acontece uma semana após Dilma cancelar o encontro com Barack Obama por não ficar satisfeita com as explicações dadas sobre as ações de espionagem. No início de setembro, vieram à tona documentos que revelavam que a Petrobras e a própria presidente estavam sendo vigiados pelo governo americano. O impacto, no entanto, vai depender do tom que ela vai utilizar e das medidas propostas.
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, afirma que o discurso brasileiro é sempre ouvido com bastante atenção, mas que não necessariamente traz consequências maiores:
– Não está claro quão profundo ela vai ir no tema. Se não propuser nada de novo, pode ser apático, inclusive.
Se ela for incisiva na fala e apresentar alternativas viáveis para proteger a privacidade dos cidadãos, o assunto pode ganhar mais repercussão e pautar os discursos seguintes. Se, em vez disso, Dilma exagerar nas cores, pode passar por ingênua para o restante do mundo.
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– Todo mundo sabe que existe espionagem no mundo da diplomacia. Não chega a ser nenhuma novidade. Ao mesmo tempo, nunca houve evidências tão claras de que o governo brasileiro foi alvo de espionagem. Dilma precisa dar uma resposta política, sim. Caso contrário, pode passar sinal de fraqueza. Mas não pode tratar o tema como se fosse algo totalmente desconhecido – afirma Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.
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Em fevereiro, os Estados Unidos estiveram envolvidos em um esquema de espionagem. Desta vez, porém, estavam do outro lado do balcão. Um relatório divulgado pela Casa Branca apontava que a China estaria por trás de ataques contra empresas e agências governamentais. Entre as vítimas, estariam gigantes da tecnologia, como Apple e Facebook. Como resposta, Obama ameaçou os asiáticos com medidas diplomáticas e comerciais.
Apesar de Dilma prometer um discurso forte, o Brasil foi mero espectador da reunião de cúpula da ONU que tratou sobre espionagem na semana passada, em Genebra. O governo pôs uma estagiária para acompanhar o encontro, que se limitou a tomar notas. Participaram a alta comissária Navi Pillay e o relator da ONU para Liberdade de Expressão, Frank La Rue. Durante o encontro, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, promovia um almoço para sua despedida do cargo.
*Colaborou Ângelo Passos