A casa em que o Brasil foi vaiado há dois meses e que está em estado de convulsão social nas ruas quer mudar às pressas. Belo Horizonte acordou ontem tentando se reiventar em 24 horas para tentar uma relação amistosa com a Seleção.
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A mudança de postura é radical e a lei e a ordem passaram a ser prioridade. A capital com alguns dos mais ferozes enfrentamentos do país entre manifestantes e policiais acordou com dois alertas duros da Polícia Militar:
– Acabou a ação reativa que a PM vinha mantendo, vamos adotar tolerância zero nos protestos – avisou o tenente-coronel Luiz Alberto.
E o comandante-geral da corporação Márcio Sant’Anna avisou, em tom de ameaça:
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– Quarta-feira o confronto será inevitável se desafiarem as ordens.
A capital já teve outra cara na chegada da Seleção no final da tarde de ontem. Tá certo que colaboraram o domingo de Sol e as ruas vazias e sem manifestações agendadas. Tudo em paz na chegada ao aeroporto de Confins, onde não havia torcedores à espera.
Na chegada ao hotel, cerca de uma centena de Neymarzetes gritaram até perder a voz. Os atletas desceram direto do ônibus para o hotel sem contato com os fãs.
Com todos os ingressos vendidos, dentro do Mineirão o clima deve ser de apoio. Bem diferente das vaias de dois meses atrás, as mais contundentes que o Brasil levou até agora após um empate em 2 a 2 com o Chile.
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O indício de apoio tem base no fato de que, mesmo entre os manifestantes, faixas e cartazes sempre mostraram descontentamento com a situação do país, com gastos para a Copa, mas nunca em relação ao time.
A partir de hoje veremos se Belo Horizonte será um ambiente de paz ou se novas convocações surgirão via Facebook para desafiar a “linha dura” que promete a PM.
BH recebe a seleção com…
Exército e Força Nacional de prontidão
Os movimentos no Facebook prometeram e cumpriram: transformaram, em todos os dias de protesto, a capital mineira num campo de reivindicações. E o fizeram em mais de uma dezena de frentes na cidade, exigindo logística complicada para as forças de segurança. Guardas municipais, fiscais de trânsito e polícia militar não conseguiram dar conta da demanda. O governo do Estado requisitou, e foi atendido, a presença da Força Nacional de Segurança e apoio do Exército. As principais áreas de atuação das forças que chegaram são o prédio da prefeitura, no Centro, e a proteção do perímetro de segurança imposto na região do Mineirão.
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Potenciais protestos gigantes e violentos
Policiamento preventivo e radical tentará evitar o cenário da semana passada. Todos os dias, desde que começaram os protestos, houve violência na capital mineira. O principal cenário que reúne os manifestantes é a Praça Sete, no Centro. Ali, bancos e lojas de telefonia foram atacados. Na Praça da Estação, onde fica uma arena Padrão Fifa para acompanhar jogos e realizar shows, o policiamento é rigoroso. Mesmo assim, os shows do Jota Quest e do Skank foram cancelados. Outros pontos de conflito são a UFMG (que teve o cercamento destruído), a Praça da Liberdade (local onde o relógio da Copa foi vandalizado), a avenida Antônio Carlos (destruição dos BRTs e de lojas) e a rodovia BR-040 (ônibus incendiados e interdição diária).
Caos diário no trânsito
Não há morador da capital mineira indiferente: é falar dos BRTs (sistema de transporte rápido de ônibus, sigla em inglês) que a revolta é imediata. A obra teve parte paralisada e refeita por erro de projeto. Segundo as promessas, este ano já estariam em funcionamento mais de 20 quilômetros do sistema, mas o atraso mudou a previsão para o primeiro trimestre de 2014. O problema é que o funcionamento completo do sistema, que tem apenas três dos oito viadutos de escoamento de trânsito prontos, não ficará pronto. Portanto a palavra rápido não poderá ser aplicado ao sistema durante o Mundial. Na Copa das Confederações, o que já era complicado, somado aos protestos virou caos urbano, com imensos engarrafamentos diários.
O pior aeroporto de médio porte do Brasil
A Secretaria de Aviação Civil concluiu o que qualquer turista confirma na prática. O aeroporto de Confins é o pior da categoria de porte médio do Brasil. Pequeno para o volume de passageiros que recebe, o normal são grandes filas e confusão na espera das bagagens. Sem plataformas de desembarque suficientes, os aviões ficam no pátio aguardando para liberar o desembarque. Obras inacabadas e sem previsão de conclusão, com desastrada tentativa de privatização se unem ao quadro. Completa a decepção de quem chega o o transporte caro para chegar ao Centro, não menos de R$ 80 por corrida em táxis.
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Mineirão e entorno com problemas
O cenário é bonito por fora e por dentro, entorno do Mineirão possui o urbanismo invejável da região da Pampulha como trunfo e as acomodações no estádio possuem ótima visibilidade para acompanhar o jogo. Para por aí. Quem vai de carro ou táxi desce longe e caminha pelo menos 3 quilômetros. Os ônibus que levam direto ao estádio ficam presos no trânsito, já que a via exclusiva prevista pela Fifa não é respeitada e o policiamento, envolvido com protestos, não consegue fiscalizar. Os voluntários estão despreparados e, em geral, não sabem indicar o portão de entrada. E os bilhetes eletrônicos se mostraram um investimento inútil, já que a leitura das catracas não funciona.