A antropóloga e professora porto-alegrense Rosana Pinheiro Machado, que vive em Boston desde julho do ano passado, estava no metrô a caminho do campus da Universidade Harvard no momento do atentado desta segunda-feira. Pesquisadora visitante do Centro de Estudos Chineses da universidade, ela se diz intrigada com a rapidez com que a população absorveu o choque do episódio. No início da tarde desta terça-feira, ela conversou com Zero Hora sobre o ambiente na cidade. A seguir, os principais trechos:

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Zero Hora – Qual é a situação em Boston neste momento?

Rosana Pinheiro Machado – Com exceção da região que foi afetada, um lugar bem nobre de Boston, a cidade está extremamente tranquila. Para mim, como estrangeira, e para outros brasileiros que estão aqui, a atitude dos forasteiros e dos naturais daqui é bem contrastante. A população não dá bola. A polícia e os outros órgãos fazem todo o possível para que tudo volte ao normal da forma mais rápida possível.

ZH – Não houve nervosismo no momento seguinte aos atentados?

Rosana – Houve nervosismo daqueles que estavam diretamente envolvidos com a Maratona. Tenho vários amigos que foram fotografar a corrida. Maridos de duas colegas estavam correndo, e elas só ficaram tranquilas quando viram que eles conseguiram voltar para casa. Naquele momento, havia também tensão entre policiais e autoridades. Policiais corriam para todos os lados, sirenes de viaturas policiais e ambulâncias soaram até a meia-noite. Hoje, todo mundo voltou a trabalhar normalmente.

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ZH – Onde você estava no momento do atentado?

Rosana – Eu estava na Linha Verde do metrô, a caminho do campus de Harvard. Na mesma hora, comecei a receber mensagens de todo o Brasil perguntando como eu estava. Fiquei muito nervosa. Desci assim que pude do trem para entender o que estava acontecendo. A linha parou e pediram que a estação fosse evacuada por medida de segurança. Peguei um táxi e fui para a universidade. O campus estava funcionando normalmente, o que é surpreendente, porque, pensando-se em um ataque terrorista, seria um alvo privilegiado por simbolizar a nata da inteligência americana. Só quatro horas depois a direção de Harvard decidiu suspender as aulas.

ZH – O que seus amigos americanos dizem a respeito do incidente?

Rosana – Antes do atentado, eu estava participando de um grupo de conversação. Meus colegas enviaram e-mails dizendo “Como está?”, “Chegou bem?”, “Que absurdo”, coisas desse tipo. Hoje, não conversei com ninguém. Cheguei à biblioteca às 7h. Estou acompanhando as notícias pela internet. Aqui ao meu redor, todos estão trabalhando normalmente, pegando café e rindo. Na biblioteca, o clima é completamente normal. Isso me deixa um pouco intrigada.