Em rápida conversa com a reportagem no hall de entrada do Grupo RBS, em Florianópolis, Carlão Martins, presidente interventor da Comcap, empresa responsável pela coleta de lixo na Capital, falou sobre o impasse entre prefeitura e servidores, que divergem sobre o projeto de lei complementar que pretende migrar o regime jurídico da companhia de sociedade de economia mista para autarquia municipal.
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Martins mostrou em seu aparelho celular a data em que o assunto chegou pela primeira vez à mesa do prefeito Gean Loureiro (PMDB): 28 de abril. Era uma sexta-feira, véspera de feriado do Dia do Trabalhador. A mensagem chegara de Brasília (DF), de um assessor próximo ao presidente Michel Temer (PMDB), pouco mais de duas semanas antes da publicação da Medida Provisória 778, em 16 de maio, que tornou lei a chance de refinanciamento (Refis) com parcelas, juros e entrada menor para o caso de autarquia.
Naquele dia, mais de dois meses antes de o projeto do Executivo municipal chegar à Câmara de Vereadores, nascia a ideia que agora abriu um embate entre governo e servidores e deixou a cidade com toneladas de lixo espalhadas nas ruas. Sobre o porquê de o projeto não ter entrado antes no Legislativo, Carlão diz que aquilo foi o pontapé inicial e muitas consultas foram feitas depois, além das discussões e redação das cinco páginas do projeto.
Como vai ser caso o projeto seja aprovado e a greve se mantenha por muito tempo?
Hoje a categoria está muito dividida, bastante dividida. É só observar o quantitativo de pessoas que têm participado das assembleias, porque assembleias com 200 pessoas de um universo de 1.600 trabalhadores é muito pouco. Os líderes do sindicato venderam para os empregados a ideia de que vão perder o emprego, mas não é nada disso.
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Como surgiu a ideia de transformar a Comcap em autarquia?
Surgiu por acaso, alguém falou para nós “transforma em autarquia”, e começou a apontar os benefícios. Foi quando o prefeito despertou, “vamos para autarquia”. E eu ainda, perguntei para o prefeito, “tem certeza, porque assim nós vamos estatizar?”. E ele respondeu que era esse o compromisso com os empregados da Comcap.
Estatizar não é um atraso? Por que não privatizar?
Muitas empresas privadas que deram certo sobreviveram por causa do poder público. A empresa pública, quando os empregados têm compromisso com a empresa, e a Comcap tem essa vantagem porque eles são comprometidos com a limpeza da cidade, também. Toda empresa pública que mantém um serviço de qualidade dá certo, sim. Eu defendo a empresa pública boa, um modelo que deu muito certo no Brasil, pena que alguém desvirtuou o caminho.
O governo Gean está depositando a previdência dos servidores da Comcap?
O governo anterior, dias antes de sair, fez um parcelamento e não pagou nenhuma parcela. Hoje, nós só não pagamos a parcela de janeiro, as demais estão todas em dia.