Existem experiências que provocam uma ruptura no roteiro natural da vida. Perder um filho é uma dessas tragédias que podem forçar o encontro de novas perspectivas. A superação parece a busca em um labirinto. Os que conseguem sair podem relatar diferentes caminhos.
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A peça A Toca do Coelho versa justamente sobre este universo: o casal Corbett perde o filho de quatro anos em um atropelamento causado por um jovem de 17. Enquanto Paulo, interpretado por Reynaldo Gianecchini, busca conforto em suas memórias, Beca, vivida por Bárbara Paz, encontra apenas dor nas lembranças.
– Acho que não existe dor maior do que perder um filho. A passagem do luto para a recuperação, para o entendimento da vida. A continuação. Ela nunca vai deixar de ser mãe. Na verdade é a grande mãe dessa família toda – explica a atriz.
A personagem tenta lidar com o sofrimento e ao mesmo tempo com as questões familiares. A veterana Selma Egrei dá vida a Nat, mãe de Beca, que oferece suporte emocional para a perda. Já Simone Zucato interpreta a irmã, Isa, que revela estar grávida nesse momento tão frágil. Beca tem de enfrentar essas realidades e, apesar de tudo, ainda procura confortar o jovem Jason, vivido por Rafael de Bona, responsável pelo atropelamento.
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Peça marca estreia de Dan Stulbach como diretor
No início do processo foram dois meses de ensaio em que os atores tiveram palestras com um psicólogo sobre perda e também com um físico a respeito de universos paralelos. Gianecchini conta que não se baseou especificamente em alguém para o papel, mas usou imaginação e vivência para destrinchar todas as camadas de Paulo:
– Não passei pela tragédia de perder um filho, mas a gente sabe os caminhos da nossa dor e isso me ajudou a construir o personagem. A morte sempre nos coloca numa posição de rever nossas vidas, o que estamos fazendo, os nossos valores, ao que realmente estamos dando importância. É uma peça que trata de esperança de uma forma muito bonita, e eu queria falar disso para as pessoas.
Para ajudar o elenco a encontrar esses sentimentos, o diretor Dan Stulbach usou sensibilidade na condução. Ele acredita que a experiência como ator trouxe um entendimento da dificuldade no processo e no respeito ao tempo de cada um.
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Há um ano em cartaz, a peça marca a estreia bem-sucedida de Stulbach como diretor. Ao longo desse tempo ocorreram substituições de atores e algumas cenas precisaram ser modificadas e simplificadas.
Ele também foi responsável por inserir uma pitada de humor no espetáculo, o que em sua opinião faz com que o público identifique-se imediatamente com os personagens e a emoção surja sem força.
– Mesmo na tristeza há o humor, assim como o contrário. É nessa mistura, na ambiguidade, que mora nossa humanidade. Não somos só maus nem só bons. Quis emprestar à montagem essa fragilidade, a risada de si mesmo. Eles são adultos e não querem sentir pena de si. Querem andar para frente, evoluir – conclui.
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Trajetória de sucesso
A Toca do Coelho, escrita por David Lindsay-Abaire, tem um legado de conquistas nos Estados Unidos. O texto foi ganhador do Prêmio Pulitzer (concedido pela Universidade de Colúmbia, em Nova York, a trabalhos de excelência nas áreas de jornalismo, literatura e música), Cynthia Nixon arrematou o Tony Award (maior premiação do teatro norte- americano) de Melhor Atriz pela performance na Broadway e Nicole Kidman concorreu ao Oscar pela atuação em Reencontrando a Felicidade, filme baseado na obra.
Inspirada pelo texto e pelo sucesso do espetáculo, Simone Zucato negociou e adquiriu os direitos. A Toca é a primeira investida como “olheira” de peças. Além disso, ela acumula as funções de tradutora, coprodutora e atriz na montagem.
– Buscar espetáculos estrangeiros não foi minha primeira opção. Passei um ano e meio procurando algo no Brasil com o meu perfil, mas nenhum autor tinha naquele momento – explica.
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A escolha partiu da identificação de Simone com o texto. Ela acredita que independentemente da origem é necessário que ele instigue e proporcione reflexões aos espectadores. A iniciativa continuará com Falling, de Deanna Jent, peça que está em processo de escalação de elenco e deve estrear no segundo semestre de 2015 em São Paulo ou no Rio de Janeiro.
Agende-se
O quê: A Toca do Coelho, de David Lindsay-Abaire, com Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Neusa Maria Faro, Simone Zucato e Rafael de Bona
Quando: amanhã, às 18h e 21h. Domingo, às 19h
Onde: Teatro Pedro Ivo (Rodovia SC-401, 4.600, Saco Grande, Florianópolis)
Quanto: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada) – valores de 1º lote sujeitos a alteração
Informações: (48) 3665-1630
Classificação: 12 anos