O policiamento ostensivo fora do habitual tem chamado a atenção nos últimos dias, na Vila Santa Rosa, localizada a 500 metros da Casa d?Agronômica, residência oficial do governador. A guerra travada pelo controle do tráfico de drogas deixou de ser invisível e culminou na ocupação do lugar pela Polícia Militar.
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A medida, embora garanta tranquilidade aos moradores, não impede que tiroteios continuem ocorrendo no local. Uma comunidade atingida pela briga entre duas famílias, ainda que cercada por órgãos das áreas de Justiça e Segurança, em Florianópolis.
Os tiroteios, deflagrados a qualquer hora do dia nas três vias públicas que formam o bairro, começaram na véspera de Ano-Novo e voltaram a ocorrer nesta semana. O último foi na terça-feira, em pleno meio-dia. E não é apenas a segurança dos moradores que está em risco. Balas perdidas podem atingir qualquer um que passe por ali.
Localizada entre a Avenida Beira-mar Norte e a Rua Delminda Silveira, a vila está a poucos metros de prédios como o da Justiça Federal, do Ministério Público Federal, da Caixa Econômica Federal, já atingida por tiros, em 2010, e o da Advocacia Geral da União, igualmente alvejado por balas, em 2011. Entre os vizinhos estão ainda edifícios residenciais e um colégio, colados à vila, expondo também pais e estudantes à violência que tira a paz do comunidade simples, formada em sua maioria por trabalhadores.
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– A área ali é muito rentável para o tráfico e de fácil acesso – observou o delegado da Polícia Federal, Ildo Rosa.
Para amenizar a tensão, o 4º Batalhão de Polícia Militar ocupa todas as entradas da comunidade e suspeitos são abordados em bares e nas ruas, desde o dia 1º deste mês. As ações já deram resultado: além de duas pessoas presas, foram apreendidas cinco armas e 125 munições. A vigília continuará por tempo indeterminado.
A festa que virou terror
– Essa briga não é nossa, é gangue contra gangue. Pensamos até em ir embora daqui, mas depois que a PM ocupou a vila, nos sentimos mais seguros – desabafou um morador.
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Ele e a mulher estavam felizes com a visita da netinha de dois anos e de parentes que vieram de outro estado para passar o Réveillon em família, quando o barulho de tiros ecoou pela pequena vila. Acabou ali a festa e os parentes foram embora antes da meia-noite. Quem ficou na casa não dormiu. No quintal da casa, duas cápsulas de bala foram encontradas.
Na rua, uma moça foi baleada no braço. Era a namorada de um comparsa do traficante Aldonei Paim, do grupo que domina o tráfico na Servidão Santo Antônio e em parte da Rua Zumbi dos Palmares.
Naquela mesma noite, o traficante Geovani de Souza foi baleado na barriga e levado ao hospital. Em liberdade condicional depois de cumprir pena por tráfico na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, entre 2003 e 2010, ele é da família que domina o venda de entorpecentes na terceira via da comunidade, a Rua Nossa Senhora de Lourdes.
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Traficante quer a Santa Rosa de volta
A batalha que culminou na série de tiroteios registrada na Vila Santa Rosa começou há três meses, quando dos irmãos do traficante Geovani de Souza e seu inimigo, Aldonei Paim, partiram para briga.
Mas a guerra entre as duas famílias começou há pelo menos quatro anos. Os Souza são do Paraná e os Paim de Timbé do Sul, Sul de SC. As famílias praticamente fundaram a vila de 4,7 mil metros quadrados, ocupada desordenadamente na década de 1990.
Há quatro anos, Paim foi expulso da Santa Rosa por querer dominar o comércio local de drogas. Atualmente, atua no tráfico nos morros do Caju e da Pedra de Listra, no Saco Grande, onde está morando.
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O traficante, que possui 15 boletins de ocorrência contra ele, incluindo tentativa de homicídio, já foi preso em flagrante duas vezes por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Ameaçou até policiais que atuam na área da vila, obrigados a adotar medidas extras de segurança.
Segundo a polícia, Paim quer dominar o tráfico em mais dois pontos na Capital: o Morro do Quilombo, local em que é jurado de morte e onde chegou a morar por um tempo quando seu cunhado, já morto, era chefe do tráfico, e a Vila Santa Rosa.