Tem sido cada vez mais difícil e fascinante exercer o Jornalismo, e o episódio envolvendo a Universidade Federal de Santa Catarina serve para corroborar as mudanças que ocorrem no comportamento da sociedade – e nos meios de comunicação.
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Poucas vezes foram vistos dois lados opostos tentando, com tanta ênfase, vender uma versão. Para que isso seja possível é preciso tentar cercear ou dificultar o trabalho da imprensa. Porém, paradoxalmente, os obstáculos acabaram fazendo com que o caso fosse esquadrinhado às minúcias.
O público pôde escolher entre um lado e outro para defender, uma opção tomada por experiência de vida ou por ideologia. Para formar um juízo de valor, porém, os catarinenses tiveram todas as condições de saber exatamente o que ocorreu dentro do campus da universidade. O Diário Catarinense, para minha satisfação, preocupou-se desde o início em esclarecer os fatos. E somente hoje o DC opina no Editorial ao lado – agora que todas as luzes foram jogadas sobre aquele episódio. Ainda na terça-feira, horas depois do confronto, o DC conseguiu ouvir todos os lados: a reitora, a advogada dos cinco estudantes detidos, o superintendente da Polícia Federal e o comandante do policiamento militar (PM) da Capital. As quatro entrevistas colocadas lado a lado acabaram pautando os debates da semana toda.
No dia seguinte, o repórter Diogo Vargas obteve um documento valioso, revelando com exclusividade o pedido oficial da universidade à Polícia Federal, ainda em 2013, para investigar o consumo e o tráfico dentro do campus. Na quinta-feira, os próprios manifestantes trouxeram à luz um diálogo muito importante para compreensão do conflito: dois minutos de conversa entre o professor Paulo Machado e o chefe da Polícia Federal mostrando a tentativa do docente de evitar o confronto e a disposição do agente policial de conduzir os detidos à sede da PF, com ou sem uso da força.
Na quinta-feira o DC colocava a mão no boletim de ocorrência registrado pelo próprio diretor de Segurança da UFSC. No documento, Leandro Oliveira revela que estava ao lado dos agentes federais que empreenderam a operação policial no campus – contrariando assim a versão inicial da Reitoria, que se dizia surpreendida pela ação policial. O documento ainda revelava a infiltração de pessoas estranhas à UFSC no confronto, o furto de objetos, equipamentos e dinheiro e outras informações valiosas para se entender o que se passou no campus naquela triste tarde.
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Sexta-feira, continuando a guerra de versões, policiais federais divulgaram outro vídeo elucidativo que, segundo eles, mostrava uma professora sobre o capô de uma viatura policial estimulando os alunos a impedirem a saída dos agentes federais.
Esse é o fascínio. Junto às divulgações de um lado e outro, à imprensa cabe promover apurações próprias ou certificar a veracidade e relevância do material divulgado por terceiros ou mesmo pelos interessados. Radiografar o episódio e permitir ao público uma opinião embasada em cima de fatos, e não apenas de versões.
O silêncio das investigações policiais, as versões emanadas da Reitoria ou a tentativa dos estudantes de manter a imprensa longe não impediram o total esclarecimento. Ao contrário: pode-se dizer qualquer coisa a respeito desse confronto no campus, menos o de que ele continua sob brumas. Não há mistério algum.
Por isso hoje o DC opina em seu Editorial, manifestando sua visão de que este é, infelizmente, um filme sem mocinhos. E abre espaço para os leitores se manifestarem, afirmando se concordam ou não com a visão do jornal. Não temos a pretensão de sermos os donos de uma verdade, ainda mais uma verdade tão controversa quanto essa.
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