Circulando pelos corredores do Judiciário há mais de 20 anos, ações que tentam reaver as perdas nas cadernetas de poupança com os planos econômicos nos anos 1980 e 1990 começaram a ser discutidas hoje pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Mais de 1 milhão de pessoas espera a decisão da Corte em uma disputa que pode chegar a R$ 150 bilhões. O veredicto dos ministros é envolto de expectativa, já que servirá como parâmetro para processos similares que envolvem diferenças na correção monetária em todo o país.

TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE O JULGAMENTO:

Ainda dá para entrar na Justiça?

Os prazos para entrar com ações individuais já expiraram para todos os planos econômicos. Contudo há varias ações coletivas em análise. Caso o STF dê ganho de causa aos poupadores em alguma dessas ações, é possível entrar com a chamada “ação de habilitação” para reaver o dinheiro (não tem de ver se o banco envolvido está contemplado). Como se trata de uma ação coletiva, o Judiciário entende que todos teriam direito ao reembolso, mesmo aqueles que não tinham nome diretamente ligado ao processo.

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O que é ação de habilitação?

Caso o STF reconheça o direito ao reembolso em uma ação coletiva, os poupadores que não entraram com processo também podem reaver o dinheiro, mas precisam entrar com uma ação e se habilitar ao processo.

O que preciso fazer para entrar com uma ação de habilitação?

Comprovar que tinha caderneta de poupança na época. Basta ir à agência bancária munido de documento de identidade e CPF e solicitar um extrato por escrito. Depois, é preciso contatar um advogado ou procurar o juizado de causas especiais, que oferece serviço jurídico gratuito para entrar com a ação.

Se STF der ganho de causa aos poupadores, o pagamento será imediato?

Não. As ações que estão sendo julgadas no STF são de reconhecimento, ou seja, os ministros estão apenas avaliando se o poupador tem ou não direito ao reembolso. Em caso de vitória, os processos voltam para os tribunais de origem, e o poupador deverá entrar com uma segunda ação – chamada de ação de execução. Só então será calculada a quantia a ser recebida por cada poupador.

Quanto tempo pode demorar uma ação de execução?

O ritmo de andamento do processo varia em cada Estado. No Rio Grande do Sul pode demorar seis meses ou mais.

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Quais os planos econômicos estão sendo avaliados pelo Supremo Tribunal Federal?

Planos Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991).

Quantas ações envolvendo o tema aguardam julgamento do judiciário atualmente?

A estimativa é de que haja 290 mil ações, individuais e coletivas, em todo país e que a decisão afete mais de 1 milhão de pessoas.

Qual a diferença entre o poupador que entrou com uma ação individual e quem optou por uma ação coletiva?

Na ação coletiva, um órgão representa seus associados em uma ação contra o banco, o que pode dar maior força ao processo. No entanto, as ações individuais são mais rápidas, porque, na coletiva, se uma pessoa não está com os documentos em ordem, atrapalha o processo de todos os envolvidos.

Quem entrou com uma ação individual pode ser favorecido por uma decisão em ação coletiva?

Não. São processos julgados separadamente. Decisões favoráveis a ações coletivas não são extensas a casos individuais.

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Caso o autor de uma ação tenha falecido, os herdeiros têm direito ao reembolso?

Sim, os herdeiros têm direito a dividir os valores devidos ao falecido. Para isso, não é necessário ingressar com uma outra ação, basta anexar a certidão de óbito do autor ao processo e solicitar ao juiz a substituição do nome do autor.

Como foram as decisões do Judiciário sobre o tema até o momento?

Em relação ao Plano Collor 1, o STF já se posicionou a favor dos bancos. Por isso é consenso entre especialistas que nesse caso não haverá correção monetária. Em relação aos Planos Bresser, Verão e Collor 2 os poupadores ganharam todas as ações nas instâncias anteriores. A mais importante delas ocorreu em agosto de 2010, quando o Superior Tribunal de Justiça decidiu pela correção dos valores.

Os ministros do STF podem tomar uma decisão diferente dos ministros do STJ?

Sim. O STF é a mais alta instância jurídica do país e tem liberdade para reformar qualquer decisão tomada por outro tribunal. No entanto, as duas cortes costumam na maioria das vezes ter a mesma postura em relação a temas polêmicos.

Caso o STF dê ganho de causa aos bancos, o poupador perde alguma coisa?

Quem entrou em uma ação coletiva não perde nada, pois o processo não tem custas já que é encaminhado pelo Ministério Público. Os poupadores que ingressaram com uma ação individual perdem o dinheiro que gastaram com as custas do processo.

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Caso o STF dê ganho de causa aos bancos, caberá algum recurso aos poupadores?

Não. O Supremo é a instância final de julgamento no país. As ações são de repercussão geral reconhecida, que tem como finalidade dar a mesma solução a ações similares em todo o país.

Qual o tamanho do impacto econômico da decisão?

Não há consenso em relação ao valor. O Banco Central projeta cerca de R$ 150 bilhões. O Idec diz que o número está superestimado e afirma que a quantia em disputa é R$ 8,5 bilhões.

Algum ministro do STF já se posicionou sobre o tema?

Ricardo Lewandowski, relator de um dos processos no STF, já sinalizou que irá votar a favor dos poupadores. O ministro Dias Toffoli foi contra o pagamento da correção quando era advogado-geral da União. A corte está bem dividida sobre a questão e a chance de empate é grande, avaliam especialistas.

Fonte: Daniela Barcellos, professor de Direito do Consumidor do Ibmec, e Louise Neiva Tajra, advogada da área cível do escritório Innocenti Advogados Associados

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