O surto de coronavírus que já matou mais de 130 pessoas na China e fez cerca de 50 pacientes em 17 países é considerado uma emergência de risco elevado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Como é comum em situações deste tipo, o medo de ser contaminado e os impactos do agente patogênico na saúde, que em alguns casos podem ser fatais, alimentam dúvidas. Sem casos confirmados no Brasil, a orientação das autoridades sanitárias é ter atenção aos sintomas e reforçar hábitos de higiene.

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O infectologista Fábio Gaudenzi, da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina, respondeu às perguntas mais importantes sobre o assunto. Confira:

O que é o coronavírus?

É um vírus respiratório que a gente já conhecia mas que agora chama a atenção pela alta capacidade de transmissão entre as pessoas. A Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês) registrada em 2005 já fez os entes públicos se preparem para o surgimento de novos vírus respiratórios. Em Santa Catarina, como existe a característica de termos a circulação de vírus respiratórios anualmente, atualizamos as técnicas e os protocolos para diagnóstico e atendimento dos casos de síndromes respiratórias.

É importante saber que trata-se de uma doença respiratória com sintomas muito similares ao de outras patologias, com um potencial de rápida disseminação e evolução para formas graves – e isso exige bastante atenção.

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O fato de não existir um caso confirmado no Brasil pode tranquilizar a população de Santa Catarina, sobretudo se as pessoas não foram à China nem tiveram contato com ninguém que voltou de lá nos últimos 14 dias?

Esse é um momento que requer atenção. É óbvio que o globo todo está em alerta procurando as melhores medidas para que nós estejamos protegidos do vírus, mas é preciso saber e compreender os locais onde a circulação está acontecendo e as pessoas que estão numa situação de risco para contrair esse vírus.

Quem esteve na China nos últimos 14 dias, que é o período de incubação, ou teve contato com alguém suspeito ou que teve confirmação de infecção pelo novo coronavírus é uma pessoa que precisa ser investigada e ter exames coletados para a elaboração do diagnóstico.

A contaminação pelo coronavírus é fatal?

Não. A minoria dos pacientes que são contaminados pelo vírus tem o quadro evoluído a ponto de acontecer a morte, mas a maioria (mais de 97%) dos casos confirmados de coronavírus sobreviveram. Não é uma doença ultra-letal que vai dizimar a população chinesa. Mas é claro que é preciso ter atenção e cuidado porque ainda não existe um tratamento antiviral definitivo. A solução passa pelo acompanhamento intensivo dos pacientes.

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Se compararmos com outras doenças, como a febre amarela – que tem taxa de letalidade de até 50% dos casos -, nós estamos falando de uma doença com cerca de 3% de mortes dentre todos os casos registrados. A questão principal continua sendo a transmissão entre as pessoas.

Apesar de a transmissão entre humanos ser muito fácil, existem casos de contaminação por meio do contato com animais. Quais são essas espécies?

Existem coronavírus que são dos animais – camelos, morcegos, cobras podem ter esse vírus. O que acontece é que esses vírus passam por uma adaptação que permite que eles infectem os humanos. Não quer dizer, porém, que todos os coronavírus de cobras possam infectar os humanos, por exemplo – geralmente são casos isolados em um indivíduo especificamente.

Se esse animal tiver contato com um humano a transmissão pode acontecer – e essa pessoa passa a ser o "paciente zero". A partir daí a doença se transforma na "versão" do humano. Isso explica porque nós não precisamos nos preocupar com os nossos animais daqui, que não estão contaminados com o coronavírus que coloca a Ásia em alerta neste momento.

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Alguns países estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. É possível ter um resultado desses estudos no curto prazo?

Em situações anteriores de coronavírus, não tivemos o desenvolvimento adequado de vacinas nem em qualidade e eficácia, nem em quantidade suficientes para atingimento de uma boa parcela da população mundial. Quando desenvolvemos a vacina da Influenza, vínhamos de um histórico bem sucedido de estudos, o que facilitou a obtenção de uma boa resposta. Não é o caso agora.

É verdade, porém, que temos mais tecnologia do que no passado e isso pode permitir o desenvolvimento muito mais rápido do que o alcançado no passado. Por isso acreditamos ter boas surpresas neste cenário atual.

Considerando que muitos dos sintomas causados pelo coronavírus são parecidos com doenças menos graves, quais são os que devem fazer as pessoas procurarem uma unidade de saúde?

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É importante lembrar que no momento não há nenhum caso confirmado no Brasil, então as pessoas que são consideradas "casos suspeitos" são as que estiveram na China há duas semanas ou tiveram contato com casos confirmados ou suspeitos no mesmo período.

Se for este o caso, sintomas como febre, dor de garganta, falta de ar (casos mais graves), dor no corpo e coriza devem fazer a avaliação nos serviços de saúde. É isso que vai determinar a necessidade ou não de internação para tratamento desse agente etiológico.