O artilheiro Jean rouba a bola no campo de defesa e sai no contra-ataque em velocidade. Avança pela esquerda, passa pelo marcador, dá um corte para o meio e chuta forte em direção à meta adversária. O goleiro se atira para o canto, mas não a tempo de evitar mais um gol do Sereyos, o time de futebol que irá representar Florianópolis na Champions LiGay. A primeira edição do campeonato, disputado por oito equipes compostas por homossexuais, ocorre neste fim de semana no Rio de Janeiro.

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— Apesar de ser uma competição, o companheirismo e a amizade falam mais alto. O prêmio maior é a gente vencer o preconceito — diz o idealizador do Sereyos, o avaiano Eddie Prim, pouco antes de começar o último treino para o torneio.

Segundo o arquiteto de 29 anos — que também atua como defensor —, os atletas foram recrutados via internet. Há cerca de três meses, ele recebeu da LiGay Nacional de Futebol (LGNF, organizadora do certame) um cartaz virtual com a inscrição “vamos jogar futebol, Floripa?” e o compartilhou entre os amigos. Convite feito, convite aceito: não demorou para surgirem mais de 20 interessados, tanto da cidade quanto de Blumenau, Balneário Camboriú, Imbituba, Pomerode e Timbó.

— Muita gente jogava quando era criança e parou por causa da discriminação. Comigo mesmo foi assim: na escola, durante as aulas de educação física, a professora me chamava de “maricão” — afirma.

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Essa turma — tem médico, engenheiro, veterinário, fisioterapeuta — passou a se reunir duas vezes por semana em uma quadra de grama sintética no norte da Ilha para começar a se entrosar. O time foi batizado pela própria LGNF, que começou a se referir aos rapazes como os “sereios”, com o “y” dando um charme à grafia original. Eddie conta que chegou a pensar em algum nome com “magia” por causa do apelido da Capital, sugestão abortada por já ter sido adotada pela equipe de Porto Alegre.

Conheça mais os Sereyos:

— Sou fã do Cristiano Ronaldo — confessa, com um olhar maroto sugerindo que admira mais do que a refinada técnica no gajo português.

Dono do time escolheu para não dar briga
Dono do time escolheu para não dar briga (Foto: Leo Munhoz / Diário Catarinense)

Mais experiente, Eddie prefere Bebeto, lembrando-se da comemoração pelo gol marcado contra a Holanda na semifinal da Copa do Mundo de 1994 — o famoso “nana neném”, em homenagem ao então recém-nascido filho Matheus. Mas, na hora de escolher o número da camisa, em vez do 7 do atacante da Seleção Brasileira pegou logo o simbólico 24 “porque a briga ia ser grande”, jura. Entre risadas pela explicação, ele aproveita para falar de coisa séria:

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— Somos um grupo de futebol inclusivo. Jogamos contra héteros, contra mulheres. A ideia é mostrar que não tem diferença. A plaquinha de masculino ou feminino no vestiário é o que menos importa, a gente vai onde se sente melhor.

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