Quatorze moleques entre 15 e 19 anos dividem diariamente em uma casa em Barreiros, São José, uma rotina pesada de estudos, academia e treinos diários. Lá, eles dividem também o mesmo sonho: de se tornarem jogadores profissionais de handebol.

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A casa dos atletas é um prédio rosa de seis quartos, todos lotados de beliches e troféus. O mais recente é de julho, quando os meninos foram vice-campeões brasileiros na categoria até 16 anos (cadete) em Teresina, no Piauí. Os meninos vêm de várias partes de Santa Catarina – Fraiburgo, Joinville, Jaraguá do Sul, Itajaí, Laguna, Saudades e Guaramirim. Tem também um garoto de Piracicaba, em São Paulo, e o André Saboé da Silva, de Itaiçaba, no Ceará; uma “criança” de 17 anos e 2,05 metros de altura, carinhosamente apelidado pelos amigos de Dezinho.

— Eu estou envolvido com o handebol desde pequeno. Já viajei bastante por causa do esporte. Então meus pais, mesmo ficando com medo, apoiaram quando eu vim pra cá. Eles sabem que é o meu sonho.

O André recebe uma bolsa atleta municipal de R$ 600. No entanto, dois terços desse valor ele manda para a família no Nordeste. Isso só é possível porque o projeto arca com todos os custos para os meninos. O local é mantido pelo Nacional, um time de handebol da cidade treinado pelo funcionário da Fundação Municipal de Esportes de São José Francisco Stringhini, de 27 anos. Foi ele que descobriu o Dezinho em um acampamento da seleção brasileira de handebol há três anos, em Blumenau.

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— Esses moleques são o meu projeto de vida. Eu já pensei em parar, por causa das dificuldades, mas é só olhar para a alegria deles que muda tudo.

O Nacional Handebol tem o patrocínio de uma empresa de segurança, que paga o aluguel da casa, cerca de R$ 2,3 mil. Os treinos acontecem todos dias intercalados nos ginásios de Campinas e do Sesi. O time também tem um convênio com a prefeitura de São José no valor de R$ 65 mil por ano. O dinheiro é usado para contratação de recursos humanos, material esportivo, taxas de federação e transporte. Só que mesmo assim não é suficiente.

Pedágio solidário e viagem para o Uruguai

No mês passado, o Nacional pleiteava uma viagem para disputar um torneio aberto internacional em Montevidéu, no Uruguai. Mas não havia recurso suficiente para levar todo mundo. A saída foi organizar um pedágio solidário. Os moleques foram pedir dinheiro no sinal em avenidas movimentadas de Coqueiros, Jardim Atlântico, Campinas e Kobrasol. Foi assim que a Hora de SC ficou sabendo do projeto.

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— Foi o que salvou a nossa ida. Conseguimos arrecadar R$ 5 mil e fretamos um ônibus — lembra Francisco.

Após toda essa luta, lá no Uruguai eles foram campeões. Esse torneio foi um preparatório para o brasileiro que acontece em setembro em Anápolis, Goiás, na categoria junior (até 21 anos). Para arrecadar fundos à próxima viagem, o Nacional está preparando outras ações sociais, como uma macarronada.

Entre os atletas que devem ir para o Centro-Oeste está o Alison Alan da Rosa, de 18 anos e que está trocando de categoria. O jovem foi descoberto pelo Francisco durante os joguinhos escolares em Caçador, quando jogava pela prefeitura de Fraiburgo, sua cidade natal. Convidou o menino para um teste e ele passou. No começo do ano passado, se mudou para São José.

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— Eu venho de uma cidade pequena, e aqui a gente tem mais oportunidade no esporte e também para fazer uma faculdade. Eu quero tentar fisioterapia — deseja o atleta.