Apesar de ser apontado como um dos países com maior número de fãs fora dos Estados Unidos, a maioria dos brasileiros ainda estranha o tal de futebol americano. Em Timbó, no Vale do Itajaí, a história é um pouco diferente e há motivos de sobra para se apaixonar pelo esporte da bola oval.

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Fundado no município em 2007 pelos irmãos Breno e Bruno Takahashi, o Timbó Rex, T-Rex para os torcedores e fãs da modalidade, pode se tornar o primeiro tricampeão nacional da modalidade no fim de semana. Enfrenta o João Pessoa Espectros, da Paraíba, em um jogo único: o 10º Brasil Bowl. A final da Liga Brasil de Futebol Americano Elite 2019 será disputada no Estádio do Sesi, em Blumenau, sábado, às 15h, com transmissão ao vivo pela tevê por assinatura.

Em 12 anos de trabalho, os irmãos Takahashi construíram um dos clubes mais respeitados no futebol americano praticado no país. Com um projeto que prioriza a formação de jogadores de alto nível – o trabalho de base atualmente reúne 70 jovens de sete a 21 anos – e planos para construir uma arena multiuso de R$ 25 milhões em Timbó, o T-Rex atrai jovens de todo o país que sonham em se tornar atletas profissionais. Quem sabe até mesmo chegar a um time da NFL, a liga norte-americana da modalidade e maior do mundo, que completa 100 anos em 2020.

No Brasil, a modalidade ainda vive dias de amadorismo. No T-Rex, os 50 jogadores trabalham em outra profissão e treinam depois do expediente, sem receber salário – exceção feita àqueles que acumulam alguma outra função no clube. Mesmo assim, cerca de 80% deles vieram de outros estados para Timbó, movidos pelo único desejo de vestir a camisa do time e aprender mais sobre o esporte.

– O T-Rex se transformou em uma escola. Estamos formando jogadores de nível internacional, o que para mim é o principal passo a ser dado pela modalidade no Brasil. Vivemos o melhor momento do futebol americano no país, com um campeonato nacional muito nivelado. Mas precisamos primeiro investir em estrutura e exportar atletas para ligas mais desenvolvidas até ficarmos mais competitivos – analisa Breno, que além de jogador acumula funções de técnico principal, coordenador de linha ofensiva e diretor administrativo do T-Rex.

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Em 12 anos de trabalho, os irmãos Takahashi construíram um dos clubes mais respeitados no futebol americano praticado no país.
Bruno (E) e Breno Takahashi transformaram o T-Rex em uma referência nacional na modalidade (Foto: Patrick Rodrigues)

Exportando jogadores

Uma das provas mais recentes do trabalho feito pelo T-Rex foi a convocação do jogador Otávio Amorim para treinar nos Estados Unidos em janeiro do ano que vem. Nascido em Rondonópolis, no Mato Grosso, o jogador de 23 anos chegou em 2017 a Timbó, e agora está perto de se tornar o segundo brasileiro a assinar um contrato na NFL jogando no Brasil, depois do também mato-grossense Durval Queiroz Neto. Cairo Santos, primeiro brasileiro a atuar na liga, já estudava em uma universidade americana.

– Depois que eu fui para o T-Rex, minha evolução foi exponencial. Aprendi muito. O programa deles é o melhor do Brasil para quem quer viver o futebol americano. Devo essa oportunidade que estou tendo a eles. Acho que ainda me falta muito para jogar na NFl, mas vou fazer tudo que puder para chegar lá – conta Otávio.

Uma mistura de curiosidade, sonho e virtudes orientais

Os pais de Breno e Bruno se conheceram no interior do Pará. Filho de japoneses de Yamagata, Takahiro Takahashi trabalhava como engenheiro mecânico no Norte do país quando conheceu a empresária goiana Marilete. Os irmãos nasceram e viveram em Belém até 1998, quando a família se mudou para Timbó.

Na cidade catarinense, os dois começaram a praticar basquete. Aos 15 anos, o caçula Breno resolveu participar de uma seletiva para o time de Franca, no interior de São Paulo, dando início a uma carreira que incluiu uma passagem de três anos por ligas universitárias dos Estados Unidos, entre 2007 e 2010. Foi neste período que Bruno resolveu juntar alguns amigos para começar a praticar futebol americano, fundando o Timbó Rhinos, embrião do T-Rex:

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– Queria aprender algo diferente. Tínhamos curiosidade e resolvemos aprender esse esporte que só víamos na televisão ou jogávamos no videogame. Achávamos que era fácil jogar futebol americano, mas era tudo uma brincadeira ainda. Jamais cogitávamos na época que a modalidade ia ter esse crescimento absurdo. E se agora ainda estamos longe de ser uma liga respeitada, vamos chegar lá em breve – analisa Bruno.

Foi também nos Estados Unidos que Breno conheceu Igor Rick, presidente do T-Rex. Gaúcho de Taquara, ele estudava Negócios Internacionais e Gerenciamento de Marketing em Campbellsville, Kentucky, primeiro destino de Breno na terra do Tio Sam. Os dois ficaram amigos e, quando Igor voltou a Brasil, em 2012, foi convidado para assistir a um jogo no Complexo Esportivo de Timbó, onde o T-Rex costuma mandar os jogos. Desiludido com o basquete, Breno já era um dos principais jogadores da equipe, que naquele ano chegaria pela primeira vez a semifinal do nacional.

Um ano depois, Igor assumiu a presidência do T-Rex. Considerado pelos irmãos Breno e Bruno como o terceiro pilar do T-Rex, Igor é também pé-quente: presidente entre 2013 e 2016, viu o time ser vice-campeão brasileiro em 2014 e campeão nos dois anos seguintes. De volta ao cargo desde o começo de 2018, tem a chance de levantar mais um caneco.

Para ele, um dos segredos do sucesso do clube vem justamente das origens nipônicas dos irmãos Takahashi:

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– Eles carregam essa cultura japonesa da honra, da garra, da disciplina. São visionários. Têm bom senso nas decisões, o que acaba fazendo com que todos se sintam bem no time – elogia Igor.

Decisão épica

A decisão entre Timbó Rex e João Pessoa Espectros é uma das mais esperadas por quem acompanha futebol americano no Brasil há mais tempo. Enquanto os timboenses vivem a expectativa de conquistar o terceiro título em quatro finais disputadas, os paraibanos vêm a Santa Catarina sedentos pelo segundo título depois de dois vice-campeonatos em 2017 e 2018.

Os dois jamais se enfrentaram, mas ambos foram campeões nacionais no mesmo ano, em 2015. Isso porque, até então, havia dois campeonatos simultâneos ocorrendo no país. Eles foram unificados em 2016, quando 30 times de 17 estados divididos em quatro conferências viram o T-Rex levantar a taça em uma emocionante final contra o Flamengo FA.

A edição atual do campeonato somou 33 times. Nas semifinais, os timboenses derrotaram o Tubarões do Cerrado, de Brasília. Já os Espectros derrubaram o atual bicampeão Galo FA, de Minas Gerais.

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– Vai ser uma final épica, com dois times dos mais tradicionais do Brasil. Não vai ter jogada perdida – prevê Breno.

Galeria dos campeões

Até 2015 o Brasil tinha duas ligas diferentes de futebol americano em nível nacional, sendo que o Torneio Touchdown era considerado o evento mais importante. Em 2016, as ligas foram unificadas e nasceu o Campeonato Brasileiro de forma oficial. O primeiro torneio teve o nome de Superliga, até se tornar BFA em 2017, quando os clubes assumiram a organização do campeonato em um formato de liga.

2009 | Torneio Touchdown Rio de Janeiro Imperadores (RJ)

2010 | Torneio Touchdown Vila Velha Tritões (ES)

2011 |Torneio Touchdown Corinthians Steamrollers (SP)

2012 | Torneio Touchdown Corinthians Steamrollers (SP)

2013 | Torneio Touchdown Jaraguá Breakers (SC)

2014 | Torneio Touchdown Vasco da Gama Patriotas (RJ)

2015 | Torneio Touchdown Timbó Rex (SC)

2016 | Superliga Nacional Timbó Rex (SC)

2017 | BFA Sada Cruzeiro (MG)

2018 | BFA Galo FA (MG)