Oito títulos seguidos na etapa regional dos Jogos Escolares de Santa Catarina (Jesc), sete títulos estaduais escolares, quatro estaduais de clubes, três campeonatos brasileiros escolares e um título sul-americano. Todos em menos de 10 anos. Esses são os resultados de um dos mais conceituados trabalhos de revelação de atletas de vôlei masculino em nível escolar no Brasil. E eles vêm de uma escola pública municipal com pouco mais de 550 alunos, localizada próximo a uma área rural do Vale do Itajaí.

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De segunda a sexta-feira, quando as aulas terminam e o sol começa a se pôr, na escola Erwin Prade, em Timbó, a garotada troca a sala de aula pela quadra e o vôlei vira a matéria da vez. O time masculino de vôlei da escola, o EVEP/Timbó, começou efetivamente em 2006, a partir do trabalho do professor e técnico da equipe, o paulista Wagner Marschner. Ele trabalha com esporte desde o começo da carreira como professor e foi atleta de uma equipe de basquete em Joinville.

– O Wagner chegou na escola em 2004 e lembro bem quais foram os dois primeiros pedidos dele: uma corda para a rede de vôlei, mais um rodo e um pano para limpar a quadra. Com humildade, aos poucos ele começou a criar a equipe, que quatro anos depois venceu o primeiro título regional – recorda o coordenador do time, Marcos Friske.

Conhecido como Marcão, Friske trabalha há 26 anos na Erwin Prade e como professor na sala de aula já dava os primeiros passos do vôlei na escola.

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Filosofia do trabalho é ligar esporte e sala de aula

Ele conta que sempre teve uma relação com o esporte e incentivou a prática:

– Nossa filosofia é entrelaçar a escola e o esporte, colocar os mesmos valores na sala de aula e na quadra.

Para pagar os custos da equipe nas primeiras competições, Friske vendeu sanduíches em eventos na escola, fez camisetas e adesivos do EVEP e contou com a ajuda dos pais dos alunos. Mesmo após a sequência de títulos, o time nunca teve um patrocinador. Atualmente conta com ajudas de custos da Fundação Municipal de Esportes e da Secretaria de Educação, que auxiliam no transporte.

Treinos diários, compromisso e repetição de todas as técnicas do vôlei. Esse é o segredo do resultado da equipe para o treinador Wagner:

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– Podemos não ter o melhor time, mas ninguém treina tanto quanto a gente. Os meninos sabem que nada cai do céu e lutam por tudo que têm. Eles passam pano na quadra, limpam a bola, lavam os próprios uniformes e se dedicam todo dia nos treinamentos, até mesmo nas férias.

Para o treinador, o time deslanchou em 2008 após uma vitória sobre Blumenau. Desde então trouxe títulos inéditos para Santa Catarina. Com o sucesso, até alunos de outras escolas e cidades passaram a procurá-lo.

Escola busca quarto título nacional no Ceará

Com a equipe montada normalmente por alunos entre 13 e 15 anos, muitos jovens já passaram pelo EVEP em nove anos e mantém contato com a escola. Nos treinamentos durante a semana, alunos que já concluíram os estudos voltam às arquibancadas do ginásio da escola para assistir ao antigo time treinar e conversar com os colegas. Centro formador de atletas reconhecido com um troféu de excelência da Fundação Catarinense de Esportes, a escola não faz seleções para quem vai participar da equipe, basta ter vontade:

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– Não tem descarte nenhum aqui. O aluno pode ser alto, baixo, ter porte físico adequado para o vôlei ou não. O que determina se ele treina ou não com a gente é a vontade. Nossa escola pequena disputa e vence equipes de escolas com mais de mil alunos – ressalta o técnico Wagner Marschner.

Para continuar formando jogadores, no começo deste ano a EVEP implantou uma escolinha no período da manhã para crianças entre 10 e 11 anos. Com espaço para todos e uma filosofia de humildade e rigor no trabalho, a próxima parada do time é no Nordeste, em Fortaleza (CE), para buscar o quarto título nas Olimpía- das Escolares Brasileiras, que começam no próximo dia 2 de setembro.