O surfista Tiago Bianchini virou uma página de seus 24 anos de vida. Reconhecido como um dos mais talentosos surfistas de Santa Catarina, Tiago entrou no labirinto perigoso das drogas e desperdiçou alguns anos no cenário de competições.
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Poderia estar hoje atrás de uma vaga na elite mundial, como estão seus amigos e também campeões Jean da Silva (brasileiro) e Willian Cardoso (sul-americano). Mas o surfista radicado em Florianópolis desde os cinco anos de idade acordou para a vida e com a ajuda de pessoas especiais já começou a encontrar o seu caminho. O prêmio foi o título da primeira etapa do Circuito Oakley de Surfe Profissional, o Estadual de 2011.
ClicEsportes – Qual foi o teu primeiro pensamento após vencer a etapa?
Tiago Bianchini – Quando ganhei o campeonato, eu vi que todo esse trabalho que estou fazendo há nove meses, limpo e bem concentrado, rendeu frutos. E agora com expectativa de conseguir mais. Não é só o campeonato, o trabalho é longo e tem muita coisa a ser feita ainda e tentar ser constante, o que é tão dificil, mas o objetivo é esse.
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ClicEsportes – Em qual bateria você percebeu que tinha surfe para levar o título da etapa?
Tiago Bianchini – Foi no terceiro dia de campeonato (domingo), quando o mar tinha um metro e meio, quase dois metros, Fiz as oitavas de final com uma prancha 5’11, peguei um tubo, dei manobras fortes, e vi que se eu mantivesse a constância poderia chegar à final e ganhar.
ClicEsportes – O que você sentiu das pessoas que assistiam tua volta por cima com a vitória?
Tiago Bianchini – A fisionomia no rosto das pessoas era uma alegria quando vinham falar comigo. Senti uma energia muito boa das pessoas.
ClicEsportes – Quando você percebeu que precisava mudar de vida?
Tiago Bianchini – Quando coloquei a mão na minha cabeça e vi o que havia conquistado e o que poderia conquistar. Vi que não estava numa fase muito boa da minha vida. Estava em depressão, desanimado com a vida, um pouco em relação às drogas também, e notei que minha vida não estava andando para o lado certo. Ao invés de evoluir, estava regredindo. Percebi que tinha que parar com tudo, com as drogas, me alimentar bem, começar a coisas devagarinho e não com tanta pressa para não embolar tudo e fluir do jeito que queria. E se eu tivesse foco, garra, determinação e vontade, eu conseguiria. E hoje em dia, eu vejo que meio que dei a volta por cima. Tenho muito mais coisas para aprender e conquistar, mas a minha vida já melhorou bastante do que era antes.
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ClicEsportes – Como era e o que mudou na tua rotina?
Tiago Bianchini – Antes eu só surfava, não me preparava. Não me alimentava muito bem e não tinha tantos objetivos ou metas a serem cumpridas. Meu único compromisso era surfar, não fazia mais nada. Surfava, voltava para casa e dormia. Hoje em dia, acordo cedo (7h30min, 8h), surfo pela manhã ou à tarde, quando tem onda boa ou mesmo onda ruim, faço treinamento funcional (quarta e sexta), alongamento, condicionamento físico natural (na areia, às terças e quintas), e me alimento bem. É uma outra rotina.
ClicEsportes – Quem foram as pessoas que te ajudaram?
Tiago Bianchini – A principal pessoa que me ajudou, quando eu estava na lama, desanimado, mal, foi minha namorada, Adriane Reis, que acreditou em mim. Eu estou com ela até hoje e pretendo ficar com ela até o fim da minha vida. Se não fosse ela, eu não estaria aqui hoje. Minha tia Regina, minha mãe, meu pai, irmão, meu treinador (Paulo Ricardo Sant’anna). Várias pessoas me ajudaram acordar para a vida, enxergá-la de outra maneira.
ClicEsportes – Foi difícil reconquistar a confiança dessas pessoas?
Tiago Bianchini – Só bastava minha força de vontade. No fundo, no fundo, as pessoas que sempre acreditaram em mim tinham esperança de que eu fosse melhorar. Mas os amigos que conheci nessa fase não acreditava muito em mim, pela minha história, pelo que já havia feito.
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ClicEsportes – O surfe sempre teve uma relação estreita com a drogas. Você acha que ainda tem espaço para as drogas andarem ao lado de surfistas profissionais?
Tiago Bianchini – Eu acho que, hoje em dia, mudou bastante a visão nesse aspecto. Os atletas que estão no topo ou estão despontando são totalmente dedicados, não usam drogas e sabem fazer as coisas no momento certo. A gurizada nova também está indo no caminho da saúde e da dedicação porque conhecem vários exemplos de surfistas que entraram nessa furada.
ClicEsportes – Quando você percebeu que estava no fundo do poço?
Tiago Bianchini – Foi quando acabei sendo internado. Fiquei um mês em tratamento e naquele lugar vi as pessoas sofrendo muito por causa da droga. Ali, eu vi que não queria isso para minha vida, pois sou uma pessoa sadia, tenho saúde e energia, porque iria desperdiçar tudo isso para usar droga?
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ClicEsportes – O problema te cobrou um preço alto no surfe competição?
Tiago Bianchini – Sim, perdi um patrocínio de nove anos com uma marca muito forte de São Paulo (Volcom), isso há uns dois anos e meio.
ClicEsportes – E na parte física, as drogas te prejudicaram em algo mais?
Tiago Bianchini – Não me deixou sequelas, mas tive os problemas imediatos ao uso que foram a depressão, a preguiça. Ficava triste e desanimado, sem esperança.
ClicEsportes – Tua meta é ser campeão profissional catarinense. Dá para sonhar mais alto depois disso?
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Tiago Bianchini – Com certeza. Mas a gente precisa de apoiadores e patrocinadores. Não basta ter só talento e vontade e não ter grana para investir em equipamento, viagem e inscrições. Se eu tiver mais resultados e ser mais constante, tenho certeza que as coisas vão aparecer para mim.
ClicEsportes – Qual é o teu pico preferido para treinar aqui na Ilha?
Tiago Bianchini – Eu moro no meio da Joaquina, que se chama Rififi (Rio Tavares), mas quando tem mar bom pego onda na Mole, na Joaquina e no Moçambique.
ClicEsportes – Quais são os atletas que você enxerga como inspiradores?
Tiago Bianchini – Tem atletas que corriam comigo no amador, que já fizeram várias frentes comigo, que são o Jean da Silva e o Willian Cardoso, mas admiro também atletas como o Marco Polo e o Jihad Kodhr. Dos gringos, curto o Joel Parkinson, o Kelly Slater – que não tem comparação -, o Mark Occhiluppo – que sempre me influenciou -, além do Luke Egan.
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ClicEsportes – Você acha que o mundo do surfe com festas e mulheres, ainda é muito tentador para uma pessoa usar drogas?
Tiago Bianchini – Se a pessoa tiver a cabeça boa e saber realmente o que quer, não irá cair nessa. Cada pessoa escolhe seu caminho de vida, e se a pessoa estiver centrada, nada disso vai acontecer e acho que o surfe já mudou muito em relação a isso.
ClicEsportes – Você dedicou o título da etapa ao teu pai. Você já conseguiu conversar com ele após a conquista?
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Tiago Bianchini – Já e foi muito bom. Ele está internado e há anos passa por esses problemas de adicção. Fui visitar ele no último domingo e ele está super bem, com outra visão, acreditando que vai melhor. Por isso acredito muito na recuperação dele, porque ele não estava aguentando mais, estava sofrendo muito com isso. Ele quer se recuperar.