Renato Russo rasgava os cantinhos das folhas do caderno enquanto escrevia as letras das bandas Aborto Elétrico e Legião Urbana e, depois, comia um por um. O ator Thiago Mendonça leu essas poesias e teve acesso às composições originais com partes rasgadas, como o manuscrito original da música Eduardo e Mônica. Assim se inspirou para interpretar Renato Russo. O ator esteve na redação do Diário Catarinense, sábado, e explicou como foi a preparação para viver o músico no filme Somos tão Jovens, ainda em cartaz.

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Diário Catarinense – Carlos Trilha arranjou e produziu os dois discos solo do Renato Russo. Estudar música com ele trouxe inspiração a mais?

Thiago Mendonça – Se a gente fala em estudar música, pode passar a impressão de que foi uma coisa imposta e maçante e não foi nada disso. Foi tudo natural e desde o primeiro encontro com o Trilha já surgiu uma afinidade, que foi fundamental para todo o processo. Ele teve paciência, afeto, dedicação e estímulo. O Trilha tem uma qualidade musical incrível e soube como fazer comigo. Eu poderia travar, eu poderia bloquear, mas deu tudo certo. Eu ia pra lá (Estúdio Órbita, de Carlos Trilha) às 8h e saía às 21h.

DC – Foi parecido com o processo do filme Dois Filhos de Francisco (Thiago interpretou Luciano)?

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TM – Totalmente distinto. Para fazer o Renato, eu tive todo esse convívio com as pessoas, com a irmã dele, com o Trilha, com os músicos. Eu tive um contato muito mais próximo com a vida do Renato do que eu tive com a do Luciano. Ele era um menino do campo e hoje o Luciano é muito mais urbano do que campestre. Está claro que, na essência, ele sempre vai ser aquele menino de Goiás, mas hoje em dia a roupa que ele veste é outra e os hábitos também. Mas Dois Filhos não me ofereceu o desafio de aprender a cantar, como o Somos tão Jovens.

DC – Você teve acesso aos cadernos e coisas íntimas do Renato. Alguma coisa era exclusiva?

TM – Havia letras escritas em forma de poema com pedaços diferentes, como Eduardo e Mônica, que na versão original tem uma estrofe mudada. Eles não compraram uma casa, compraram um apartamento. Tem muita coisa, os cantinhos dos cadernos eram todos rasgadinhos porque ele comia o papel enquanto escrevia.

DC – A Aninha não existiu na vida real do Renato Russo. Ela representa a inspiração dele para a música?

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TM – Sim, é uma inspiração. Mas eu acho que essa personagem salta diretamente da música Ainda é Cedo: Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei, era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei. Eu acho que essa menina que ensinou quase tudo é a Aninha no filme. Na vida, não há nenhum registro. Existiram outras meninas. Acho que ele tinha uma namoradinha mais oriental, fora os namoradinhos. E a Aninha é uma junção de todas as inspirações e amores que ele teve na juventude.

DC – O filme retrata uma parte da vida do Renato Russo. É um filme sobre a cena musical underground em Brasília, não sobre o Legião Urbana. Você concordou com essa escolha para a produção?

TM – Foi uma opção do diretor, talvez por essa história não ser tão conhecida, porque é uma história anterior, uma história da adolescência do Renato. Tanto que o filme tem muito mais Aborto Elétrico do que Legião Urbana. O filme é pra cima, não é melancólico. Fala de juventude.

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DC – E dos lemas de vida que o Renato cantou, qual é o seu preferido?

Eu gosto muito de “Disciplina e Liberdade”. Mas acho que a máxima de tudo é “Só o Amor”.