Na primeira vez em que participou como convidada de um grande evento literário, há quase 20 anos, Thalita Rebouças subiu uma cadeira na tentativa de chamar a atenção do público para sua presença, em meio à movimentação intensa da Bienal do Rio. Era uma experiência bem diferente da que ela vive atualmente em eventos como a Feira do Livro de Joinville, onde estará hoje para um bate-papo sobre literatura infantojuvenil no Palco Principal, seguido por uma sessão de autógrafos.

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Há alguns anos, a movimentação gira em torno dela, com adolescentes apaixonados pelos livros tentando conseguir um autógrafo, uma foto e contar à escritora de 44 anos que, apesar da diferença de idade, ela "os entende".

Com 22 livros publicados, ela superou a marca de 2 milhões de exemplares vendidos e três de seus trabalhos já viraram filme — o quarto estreia no segundo semestre. Em 2019, também escreveu seu primeiro roteiro original para uma produção do Netflix, tem composições de músicas suas em uma novela infantil, co apresenta o "The Voice Kids" e tem livro novo a caminho, com lançamento no segundo semestre.

Como você percebe a importância do contato do escritor com os leitores jovens nestes eventos?

Acho muito importante, porque o escritor tem essa figura de pessoa reclusa, tímida, e eu sou o oposto disso. Eu falo pelos cotovelos, e é tão bacana poder tirar as dúvidas das pessoas. Tem muita gente que tem vontade de escrever e não sabe por onde começar, muita gente que tem o sonho de lançar um livro e aí sou a melhor "tiradora" de livros da gaveta. É muito bom esse contato porque o leitor se sente íntimo, ele já me conhece, eu é que não o conheço. Então, essas viagens são sempre muito boas porque é a hora que o meu leitor olha no meu olho e eu posso olhar no olho dele também.

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Nos seus livros você consegue inserir não só temas relacionados à adolescência, mas também assuntos sérios, como crise financeira e fama em tempos de redes sociais, mas tudo de um jeito leve. Você acha que esse é um caminho para a literatura juvenil?

Pelas coisas que eu escuto em todo esse tempo de carreira, eu acho que, além da leveza e do humor, tem a coisa de não dar lição de moral. Eu quero fazer com que o adolescente leia e tire suas conclusões. Que eles mudem de ideia (ou não), que eles repensem as ideias que ele tem. Poder fazer isso com o livro é muito bacana, poder contar uma história e fazer o adolescente se colocar no lugar do personagem e criar empatia.

Hoje nós já temos um grande número de mulheres brasileiras que estão escrevendo para essa faixa etária dos 10 aos 19 anos e fazendo sucesso. Mas esse fenômeno que você começou há 20 anos eu só consigo comparar com autores como Pedro Bandeira. Você assume esse papel de pioneirismo nesse sentido, principalmente para dar voz às meninas?

Eu não sei. Eu fico feliz porque muitas meninas que estão hoje escrevendo para adolescentes falam que se inspiraram em mim, que eram minhas leitoras e que a partir da leitura dos meus livros se inspiraram para contar suas próprias histórias. Então, eu fico muito feliz. Eu não sei se me comparo ao Pedro Bandeira, porque eu era muito fã dele. Mas acho que naquele momento em que eu comecei, realmente não tinha gente nova. O mercado de autores não estava se renovando e acho que dei uma super sorte de chegar no momento em que o adolescente estava querendo se ver nas páginas dos livros em histórias mais atuais.

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Como tem sido isso a transição dos seus livros em filmes e o que você já pode nos contar sobre esse trabalho feito para o Netflix?

Os filmes começaram em 2017, com o "É Fada!", que foi estrelado pela Kéfera e pela Klara Castanho. Foi um sucesso, mas eu não fiquei muito feliz com o resultado. Então eu pensei: vou ter que aprender a escrever roteiro. Eu comecei a realmente tomar as rédeas da parte cinematográfica, para que o leitor e a autora também ficassem felizes, e foi a melhor coisa que eu fiz. Estou muito bem cercada por produtores e profissionais muito experientes e que tem me ajudado muito. Em "Fala Sério, Mãe" eu colaborei muito com o roteiro; em "Tudo por um Pop Star" eu fiz o roteiro e está vindo agora "Ela Disse, Ele Disse", em 3 de outubro, que o roteiro é meu também.

E para a Netflix eles vieram com essa proposta. É a primeira história que virou filme antes de virar livro e está muito bonitinho. Eu não posso adiantar muita coisa, mas vai ser um filme comédia romântica para jovens adultos, ao estilo dos filmes que eu gostava de ver quando era nova, com Meg Ryan.

Com tantos compromissos e tantos prazos, como você se organiza sem prejudicar a produção?

Não sei também. É uma pergunta que eu também que eu me faço muito. Acho que eu sou tão psicopata trabalhando, no bom sentido, que eu não me sinto trabalhando. Então, eu vou até as seis da manhã escrevendo. E isso é muito bom. Esse livro que eu vou lançar em agosto foi assim também, eu escrevia o filme à tarde e o livro à noite. E eu sou muito grata à vida por me permitir trabalhar em casa, descalça, inventando histórias e vivendo das minhas invenções. Eu acho que é porque sou muito grata que eu dou conta de tudo.

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Confira a programação completa da 16ª Feira do Livro de Joinville