Sander DeMira, presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) estava entre os ciclistas que pedalavam juntos pela SC-401, quando dois deles foram atingidos por um automóvel que invadiu a ciclofaixa e matou o jornalista Róger Bitencourt.
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Em entrevista a rádio CBN, DeMira relata em detalhes o momento do acidente. Ouça ou leia abaixo a entrevista ao apresentador Mário Mota:
Gostaria que você relembrasse o que aconteceu no momento do acidente?
Ontem era um dia de celebração deste treinamento – o último do ano. Saímos de Jurerê por volta das 8h, um pouco mais tarde do que o habitual, já sabendo que é uma época de festas e que as pessoas ainda permanecem nas casas noturnas por mais tempo. Retardamos um pouco achando que era uma medida mais segura. Já no final do nosso percurso, a uns cinco quilômetros do trevo de Jurerê, andando sobre a ciclofaixa o motorista atingiu o Jacinto e o Róger que eram os dois primeiros desse pelotão de cinco, em que estávamos. Como o espaço da ciclofaixa é muito estreito, os ciclistas ficam um a frente do outro e acabam se afastando uns dos outros, por ser uma reta. Estávamos com uma distância de 30 a 40 metros de cada ciclista. Fomos surpreendidos, tudo aconteceu muito rápido. Conseguimos perceber que o primeiro atingido foi o Jacinto, que estava em segundo desse pelotão e, logo em seguida, o carro atingiu o Róger.
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Onde vocês estavam exatamente?
Estávamos na SC-401 defronte a Associação Brasileira de Odontologia, no trecho entre a Vargem e o trevo que dá acesso a Jurerê Internacional. Ali é praticamente uma reta, não existe acostamento da pista, que foi transformado em ciclofaixa, que divide o acostamento em duas metades, um pra quem usa sentido bairro/centro e outra no sentido centro/bairro. Nós estávamos numa daquelas vias da ciclofaixa que é um trecho com 50 cm de largura. Saímos de Jurerê Internacional fomos até o Monte Verde, depois Canasvieiras e de lá retornando a Jurerê, antes do Rio Ratones.
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Ali no local, dos dois lados tem um trecho pequeno de ciclofaixa?
Sim. Curiosamente aquele é um dos trechos com mais espaço para pedalar. Ao longo da SC-401, muitos moradores usam aquele espaço como forma de se locomover também, tem muitos pedestres ali. Ao longo da 401 tem verdadeiros absurdos, onde simplesmente a ciclofaixa desaparece, existem muitos desníveis de asfalto que é muito perigoso pra quem usa bicicleta, a infraestrutura é muito precária.
O Jacinto e o Róger foram arremessados para o mato?
Isso a gente não conseguiu ver. Após o acidente ele (Róger) ficou sobre a ciclofaixa, no asfalto. Nós viemos atrás, estávamos em cinco, o Fernando Serra que é o nosso técnico, que era o terceiro deste bloco, foi imediatamente em socorro ao Jacinto. O Geórgio se prontificou a chamar o socorro e eu fui ao encontro do Róger pra tentar de alguma forma socorrê-lo..
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Ele bateu com a cabeça em um dos tachões?
Acho que neste momento teria que fazer um exame mais detalhado e uma perícia no automóvel. Eu não conseguiria com exatidão dizer isso. Mas é muito provável até porque a gente via vestígios nos tachões, tinham marcas de capacete e sangue, então é bem provável que o carro arremessou o Róger e o primeiro impacto foi nestes tachões de sinalização.
E o motorista parou em seguida?
Quando chegamos ficamos assustados e tentamos prestar o socorro aos nossos amigos. Logo recebemos a informação que o motorista havia tentado fugir, mas como uma das bicicletas ficou presa ao automóvel ele não conseguiu se evadir do local. Testemunhas que estavam lá fecharam a passagem do causador do acidente e o tiraram do carro. Algumas pessoas quiseram agredir o motorista, era próximo às 10h o trânsito era intenso e, automaticamente a fila se formou. Outros ciclistas que estavam ali foram chegando, foi um momento bastante difícil, principalmente pela situação, o Jacinto estava muito machucado e o Róger numa situação que a gente já se sentia muito impotente, sem muito o que fazer. Meio desorientado, mas sem muito o que fazer.
De algum modo você chegou a ter contato visual com o motorista?
Sim, com a chegada do Samu e da Polícia Militar Rodoviária, a gente se afastou do local e pode perceber a situação, vi o motorista e o trabalho da PMRv que fez uma vistoria no carro. Um sentimento de impotência, de indignação com um motorista que aparentava e dava todos os sinais de estar alcoolizado, foi encontrado no automóvel e o policial fez a confirmação de cigarros de maconha, houve um sentimento de indignação muito grande de irresponsabilidade tremenda, causando um dano irreparável.
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O Jacinto foi liberado do hospital e passa bem?
Sim, está com bastante escoriações. A gente percebeu que a bicicleta atingiu a frente do carro, próximo ao farol direito e ficou presa ao carro. O vidro do para-brisa do passageiro tem uma marca que achamos que foi devido a colisão com o Jacinto que em seguida foi arremessado ao mato. Tiramos ele do mato, que também se arranhou no asfalto.
Temos acompanhado as mortes de ciclistas e chamado atenção para o perigo, você que é ciclista, o que diria em relação ao perigo em transitar pelas ruas e rodovias?
A gente fica consternado e indignado. Florianópolis tem o título da cidade onde mais se pratica atividade ao ar livre, é uma cidade que é propensa a isso. Todo o ano é realizado aqui o Ironman, que é uma prova tradicional, famosa e, exclusiva. Florianópolis é escolhida porque tem uma condição interessante pra isso e o trajeto inclusive passa pela SC-401. Apesar disso tudo, não temos uma condição adequada. A 401 é ainda muito utilizada pelos ciclistas porque entre todos os espaços que temos, ainda é o que os ciclistas entendem como melhor, mas mesmo assim é um local que temos problemas. Não é um problema isolado, temos acidentes recorrentes envolvendo ciclistas e pedestres naquele espaço, então precisamos ter uma cidade mais humanizada.
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