Como faço todas semanas, ontem pela manhã peguei a BR 470 para me deslocar a Garopaba, onde trabalho no IFSC. Não há uma semana em que não me deparo com algum acidente na estrada, seja na 470, seja na 101, com destaque para o trecho do Morro dos Cavalos. Ontem, entretanto, presenciei uma cena dantesca, dolorosa. Estava dirigindo meu automóvel imediatamente atrás dos veículos que se envolveram no acidente que resultou na morte de três pessoas no trecho próximo à divisa de Blumenau e Gaspar.

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Pude ouvir os gritos de dor e desespero do motorista morrendo carbonizado. Estes gritos, tenho certeza, jamais esquecerei. Muitos tentaram auxiliar as vítimas, mas não havia o que fazer. Duas já estavam mortas, e o motorista do caminhão, preso às enormes ferragens e envolto ao fogo, acabou por ficar inacessível. Não serei leviano para apontar culpados. O evento aconteceu tão depressa que a única resposta que temos no momento é parar a tempo e não nos envolvermos no caos que se descortina 50 metros na nossa frente, com aço se retorcendo e peças automotivas espalhando-se pelo asfalto. Por certo houve imprudência, mas a responsabilidade maior é, sim, do Executivo Federal e dos nossos representantes nos diferentes legislativos.

A duplicação da BR-470 arrasta-se como um caramujo caquético, e há deputados aplaudindo este arrastar e outros se omitindo. Nossos senadores estão mudos como cadáveres, todos eles! Neste um ano de idas e vindas semanais, nunca me deparei com uma operação de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal no trecho entre Belchior e Navegantes. Trafegar a 120 km/h em um trecho de 80 km/h virou prática comum. Alguns dos redutores de velocidade estão desligados. Enfim. O descaso é absoluto. De qualquer forma, os gritos terríveis de um homem morrendo queimado deveriam nos ensinar algo, e deveriam nos retirar desta letargia em que nos encontramos diante da guerra civil que diariamente lutamos em nossas estradas.

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