A assistente pedagógica Solange Aparecida Lanner Schneider, que estava no ônibus em que viajava parte dos adolescentes e professores que iam para o Litoral e ao Beto Carrero no último sábado, quando três estudantes e uma professora morreram no trevo de Gaspar, foi a primeira das componentes do grupo a chegar ao local do acidente. Em entrevista ao Jornal de Santa Catarina, ela relembra os momentos de desespero e diz que não pretende voltar a organizar excursões estudantis ao Litoral catarinense.
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Jornal de Santa Catarina – Como foram os momentos antes da senhora chegar ao acidente?
Solange Schneider – Nós paramos em um posto próximo para tomar café. Uma das meninas, que está em estado grave no hospital, ficou preocupada com as olheiras e aproveitou para se maquiar. Depois, a van saiu na frente e nós fomos com o ônibus atrás. Andamos uns 100 metros e o motorista parou. Pensei que fosse uma parada no trânsito. Logo depois, o motorista disse que tinha acontecido um acidente com a van em que estavam os alunos e a professora Jocicler. Ele saiu e voltou novamente dizendo que havia mortes.
Santa – Como foi quando a senhora chegou ao local?
Solange – Quando chegamos perto foi muito triste. Me desesperei. Mas pensei que era a única pessoa que podia fazer alguma coisa naquele momento. O primeiro que avistei foi o motorista, que estava desmaiado e com sangue pelo corpo. Do lado de fora, estavam três das crianças, incluindo a Júlia Mascarello, que é a filha da professora Jocicler, que morreu no acidente. Ela gritava muito pela mãe. Tentei ajudá-la a se acalmar enquanto cuidava dos outros. Depois disso, os bombeiros e a Polícia Rodoviária Federal chegaram. Foi muito difícil. Fiquei firme para ajudar em tudo, mas, domingo à tarde, quando chegamos em Nova Erechim, chorei muito.
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Santa – Quem avisou os familiares em Nova Erechim?
Solange – Um dos alunos que estava no ônibus recebeu uma ligação do pai no momento em que estávamos parados. Por isso, ele contou sobre o acidente e a morte da professora. Depois, a direção foi avisada e todos na cidade se mobilizaram. Para ajudar, fiquei em Blumenau e nos hospitais onde estava internados os alunos.
Santa – A escola já tinha enfrentado algum drama semelhante?
Solange – Nunca. Fazemos todo ano essa viagem para que as crianças conheçam a praia. É um sonho para os alunos irem ao Litoral. Quem mora no Oeste tem muita curiosidade de conhecer o mar. Estávamos desde março organizando o passeio. Tínhamos programado uma viagem de estudos para Porto Alegre, mas cancelamos. Se você me perguntasse quando faremos esta excursão novamente, eu te diria neste momento que nunca mais.
Santa – Como será daqui para frente?
Solange – É uma tristeza total aqui. Estamos fazendo correntes de orações pelos que ainda estão internados. A escola volta ao trabalho quinta-feira. As crianças choram muito ainda e as pessoas estão comovidas. Somos a única escola de sexto ao nono ano aqui, por isso todo mundo se conhece. Todos conheciam cada um dos alunos que morreram e lembram do rostinho deles.