No restaurante em que converso em torno de petiscos com um amigo, a mesa sobre a qual o dono controla pedidos e fecha contas é um velho fogão a lenha de puro ferro, com detalhes trabalhados. Imaginamos que muito ajudou na cozinha e hoje é homenageado com funções na decoração e como local de trabalho. Chama a atenção.
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Em frente a uma loja, entre casacos e calças, paro para olhar uma velha máquina de costura que a vitrinista usou para enriquecer o cenário. É modelo muito parecido com o que possuía minha mãe nos anos de 1960 e que se estivesse hoje comigo seria um tesouro da decoração. Chama a atenção como estas coisas são valorizadas depois de ultrapassadas mil vezes pelas novidades do mercado. Ultrapassadas, mas muito vivas na memória de uma porção de gente.
Na infância, quando a máquina de mamãe já estava meio que escanteada, eu a desmontei, peça por peça, durante dias, sentindo o cheiro de óleo e de graxa. Criança bisbilhoteira, queria entender seu mecanismo. Nunca a remontei, e peça por peça ela desapareceu, perdeu-se. Era uma máquina manual, funcionava a partir do movimento circular com a mão direita. Hoje, custa uma pequena fortuna num antiquário. E destruí, por curiosidade juvenil, a nossa, que daria um rico ornamento.
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Também desmontei um revólver de dois canos que meu pai guardava no “forro” da casa. Destes vistos em filmes de pirata. Nunca o vi funcionar, papai não o tinha para isso, tinha-o porque herdou. Também seria uma bela peça de decoração para aguçar a curiosidade acerca da evolução dos equipamentos. Mas um dia permitiram que eu investigasse (como um Professor Pardal) a sua mecânica, e o desmontei, mola por mola, parafusinho por parafusinho, e ele desapareceu. Não fosse esta curiosidade juvenil, poderia ter uma bela coleção de coisas antigas, talvez virasse fornecedor de peças para vitrines. De funil de alumínio amassado a penico esmaltado.
Um objeto queria ter comigo mais do que a máquina de costura e a pistola. É um pilão de pedra que conheci na casa dos padrinhos. Pilões, vi muitos, usei alguns na lida do sítio, mas eram de madeira. De pedra, só um. Imagino o que foi esculpir aquilo, cavar a pedra, dar-lhe a forma e o acabamento. Era lisinho, nem parecia pedra pura.
Bateu saudade da vida mais vagarosa daqueles tempos. Queria mesmo é ser dono do túnel do tempo, rever pessoas e o que hoje é quinquilharia das mais valorizadas.