O escritor francês e prêmio Nobel, Jean-Marie Gustave Le Clézio, afirmou à AFP que o mundo vive tempos semelhantes aos da Revolução Francesa, em que o radicalismo político e religioso pretende, através do terrorismo, negar a possibilidade de se pensar de forma diferente.
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“Temos de lembrar como nasceu a palavra terrorismo; nasceu na França, durante a Revolução Francesa: era uma maneira de negar totalmente a individualidade. E agora vivemos tempos semelhantes, com pessoas que negam qualquer outra possibilidade de pensar de outra maneira”, assinala Le Clézio.
O escritor nasceu em Nice, onde um extremista islamita matou 84 pessoas com um caminhão em 14 de julho.
“O radicalismo religioso e político é a mesma coisa: é uma maneira de negar toda diversidade, toda generosidade humana”, acrescentou o Nobel de Literatura 2008 em entrevista à AFP por ocasião de sua participação na Feira Internacional do Livro em Lima.
O autor de ‘O Africano’ e ‘Deserto’ destacou que a melhor resposta que a França pode dar ante a onda de extremismo que a atinge desde 2015, com mais de 250 mortos em 18 meses, está em incentivar a educação para ensinar a tolerar as diferenças interculturais.
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“Creio que para a República (francesa), uma boa maneira de contestar não é a violência, é promover a inteligência, interculturalidade, as relações entre culturas”, detalhou Le Clézio, de 76 anos.
“Por isso acho que a educação é a solução para esta violência. É preciso educar nossos filhos e filhas de tal maneira que aceitem os demais, e aceitem o que é diferente, que investiguem o que é diferente”, acrescentou.
Le Clézio disse ver a literatura como uma religião que permite uma comunhão através da linguagem acima das ideologias e religiões, abrindo a porta para alcançar a concórdia global.
“A literatura como não pertence a uma entidade política nem a uma fé religiosa, é uma linguagem que supera estas expressões. Tenho muita fé na religião da literatura. É a única oportunidade para esperar a paz universal”, assegurou o autor de ‘Revoluções’.
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“Acho que o radicalismo é o contrário porque é a maneira de assegurar com certeza metas políticas e regras morais. A literatura não tem esta certeza. É uma interrogação, é uma dúvida e é profundamente humana”, enfatizou.
Mundo sem fronteiras
Sobre a onda de refugiados na Europa, Le Clézio destacou que a migração é um problema mundial, que se dá em diversas latitudes porque “a população do mundo está submetida a uma crise econômica”.
“Na América, entre México e Estados Unidos, e também na América do Sul há um movimento de população, de pessoas que querem cruzar as fronteiras”, explicou, defendendo a abolição dos limites geográficos, apesar de admitir que o mundo não está pronto para isso.
“Para mim, a fronteira é uma linha totalmente imaginária, não existe. O ideal seria aboli-las, mas não estamos a caminho disso. Agora o mundo está se fechando, construindo muralhas”, concluiu.
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