Se a água já baixou na maioria das ruas afetadas pelas fortes chuvas que caíram em Florianópolis na semana passada, o mesmo ainda não acontece com os terrenos, sejam eles baldios ou privados, principalmente no Norte e no Sul da Ilha de Santa Catarina. Não é preciso ir muito longe para constatar áreas alagadas nessas localidades, que foram as mais afetadas pelo acúmulo de precipitação verificado de terça a sexta-feira. Frente a essa situação, a comunidade teme a proliferação de zoonoses, tais como a dengue, cujo mosquito transmissor da doença prolifera-se em água parada e, em maior escala, no verão.

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Procurada, a Prefeitura de Florianópolis sustenta que não há legislação específica que regularize o controle de terrenos privados. Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano salienta, via assessoria de imprensa, que “quanto a terrenos privados com pouca drenagem, a prefeitura busca, na medida do possível, conscientizar os proprietários para a importância de mantê-los sempre limpos e em condições urbanas”. Não há uma contagem a respeito do número de locais alagados, apesar de o poder público garantir estar “atuando em todos os espaços públicos da cidade afetados”.

A situação dos terrenos encharcados não preocupa a Secretaria Municipal de Saúde. Conforme o gerente do Centro de Controle de Zoonoses, André Grippa, são raros os casos em que mosquitos vetores de doenças como a dengue, a chikungunya e a zika, proliferam-se nessas condições, que ele chama de “reservatórios naturais”. Contudo, esses espaços podem passar a ser local de depósito de ovos desses animais caso a água permaneça parada mais do que sete dias — contexto que o gestor acredita ser pouco provável.

— Para endemias, casas ou terrenos alagados não são problema. Os mosquitos não costumam depositar ovos em reservatórios naturais. O problema são potes, pneus e outros recipientes artificiais. Mosquito não deposita… raros um ou outro caso ovo em reservatório natural. Nosso problema são potes, recipientes artificiais. De qualquer forma, estamos monitorando, fazendo visitas e intervindo em situações específicas — comenta o técnico.

A fiscalização do Centro de Controle de Zoonoses, que tem caráter pedagógico, é feita a cada cinco dias a partir de um roteiro pré-existente, que privilegia borracharias e áreas de reciclagem, por exemplo. Caso as pessoas não realizem as ações recomendadas pelo órgão a fim de minimizar a proliferação de vetores de doenças, a gerência de fiscalização ambiental pode interferir com notificação e até multa.

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É possível denunciar terrenos e outros espaços alagados para a Prefeitura de Florianópolis em dois canais: (48) 3251-4951 (fiscalização da SMDU) e (48) 3338-9004 (Centro de Controle de Zoonoses).

Orientações para evitar a proliferação do Aedes aegypti

Tanto em recipientes naturais como em artificiais, o mosquito Aedes aegypti necessita de paredes para depósito de seus ovos. Essa característica diferencia-o de outros vetores, além da característica de procurar locais sombreados e com pouco barulho. É o que explica o coordenador do Programa de Controle da Dengue em Santa Catarina, João Augusto Fuck, que integra a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive-SC).

— Nesse sentido, os terrenos alagados não seriam um local preferencial para a postura dos ovos, embora em algumas situações poderiam apresentar as condições necessárias para que isso ocorresse. Além disso, nesses terrenos, pode haver lixo acumulado, que também foram preenchidos com água e geram risco de proliferação do vetor — comenta.

A orientação de Fuck é que seja realizada a limpeza desses terrenos: aterrando aqueles em que há presença de água. Para isso, acredita, é preciso envolvimento tanto da população (proprietários e moradores), como do poder público.

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Divulgado na quinta-feira, o último relatório da Dive-SC indicou que 144 cidades de SC somaram mais de 11,5 mil focos do Aedes aegypt em 2017. Veja algumas ações que podem ser realizadas para minimizar esse cenário:

  • Evite usar pratos nos vasos de plantas. Se usar, coloque areia até a borda;
  • Guarde garrafas com o gargalo virado para baixo;
  • Mantenha lixeiras tampadas;
  • Deixe os depósitos para guardar água sempre vedados, sem qualquer abertura, principalmente as caixas d’água;
  • Plantas como bromélias devem ser evitadas, pois acumulam água;
  • Trate a água da piscina com cloro e limpe uma vez por semana;
  • Mantenha ralos fechados e desentupidos;
  • Lave com escova os potes de comida e de água dos animais no mínimo uma vez por semana;
  • Retire a água acumulada em lajes;
  • Dê descarga no mínimo uma vez por semana em banheiros pouco usados;
  • Mantenha fechada a tampa do vaso sanitário;
  • Evite acumular entulho, pois podem se tornar locais de foco do mosquito da dengue.
  • Denuncie a existência de possíveis focos de Aedes aegypti para a Secretaria Municipal de Saúde;
  • Caso apresente sintomas de dengue, chikungunya ou zika vírus, procure uma unidade de saúde para atendimento.

As experiências da Dive-SC mostram que as principais ocorrências epidemiológicas após as inundações são os acidentes por animais peçonhentos e o aparecimento de surtos de doenças infecciosas, particularmente a leptospirose, doenças respiratórias, meningites e doenças de transmissão hídrica e alimentar. Sobre esses casos, o órgão divulgou uma nota com orientações aos Serviços de Saúde. Outras medidas de prevenção também foram espalhadas pela Dive-SC neste link.