O Direto do Campo da Avenida Beira-mar Norte, em Florianópolis, foi fechado na manhã desta quarta-feira por meio de uma ordem judicial. O local de 10,7 mil m² era objeto de uma disputa entre o Governo do Estado, proprietário da área, e a Associação de Moradores da Agronômica, que a ocupa desde 1989.

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Comunidades da Agronômica e morros do entorno protestam contra possível saída do Direto do Campo

Passava das 7h horas quando oficiais de justiça chegaram ao local para cumprir a ordem, acompanhados de soldados da Polícia Militar. Os comerciantes foram avisados na segunda-feira, dia 5, que teriam 24 horas para deixar a estrutura, mas esperaram a chegada do oficiais para começar a retirada das mercadorias. Todos estavam inconformados com a situação, mas não houve resistência. O presidente da associação dos comerciantes, Thiago dos Santos, explicou que funcionam 12 boxes no galpão com cerca de 300 funcionários:

– Não invadimos este local, como estão falando. Entramos aqui com autorização da Prefeitura, e agora não nos dão um prazo maior para a gente procurar outro local. Para onde que nós vamos? – disse.

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A proprietária do hortifruti, Regina Bensen, disse que não sabe o que fazer diante da situação:

– Tenho 150 funcionários com carteira assinada e mais de 500 famílias empregadas indiretamente. Só de mercadoria tem mais de R$ 100 mil aqui. Vieram na segunda-feira e avisaram, mas não temos para onde levar todo o estoque, sem contar os caminhões que estão vindo de São Paulo com mercadorias que há estavam encomendadas -lamentou.

Com o mesmo sentimento de indignação estava o agricultor Xisto Wesen, que planta orgânicos em Antônio Carlos e vende no local:

– As verduras já estão plantadas há quatro meses, e agora que vamos colher para vender. Mas não sei onde – disse.

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A proprietária da floricultura, Scheila Hames, conta que desde segunda-feira ninguém conseguiu dormir:

– Comecei quando era feira de rua aqui ao lado, há 20 anos. Ninguém é contra devolver, só queríamos um prazo maior, como haviam falando que seria de um ano. Tenho funcionários e fornecedores para pagar, não sei o que vai ser do nosso futuro – disse, chorando.

Clientes foram pegos de surpresa

A movimentação policial chamou a atenção de quem passava, e muitos clientes foram pegos de surpresa com o fechamento. Quem fazia compras antes das 7h conseguiu terminar, como o comerciante Darci Dassoler:

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– Tenho um mini mercado e compro aqui há mais de 10 anos, pois pra mim não compensa ir até o Ceasa. Agora vou ter que procurar outro lugar que seja mais barato que supermercado. Espero que façam alguma coisa para a população aqui, para não acontecer o mesmo que o Direto do Campo do Centro.

Entenda

O posse do terreno é tema de debates há pelo menos uma década. A área onde estão o Direto do Campo, a creche Irmão Celso, o posto de saúde da Agronômica e a área de lazer utilizada pela comunidade foi repassada em 1989 à Associação de Moradores da Agronômica por meio de uma concessão de uso com validade de dez anos. Esse prazo venceu em 1999 e o Governo do Estado tenta a reintegração desde então.

Segundo a Procuradoria do Estado, a sublocação dos boxes é irregular porque se trata de um espaço público e isso só poderia ser feito por meio de licitação.

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O advogado dos comerciantes, Marlon Bertol, declarou que somente às 13h terá acesso à decisão judicial para então definir que medidas judiciais irá tomar:

– Foi uma surpresa, pois o processo ainda está em andamento e cabe recurso. Muitas pessoas e comunidades estão envolvidas, então não imaginávamos que a reintegração seria assim rápida – falou.