Encilhar o cavalo, preparar a sela e seguir um circuito pelo picadeiro no ritmo ditado pelo instrutor. Terminada a sequência, conduzir o cavalo para a baia, ajudar a limpar e alimentar o animal. Luciano Batista Nascimento, 12 anos, cumpre esse ritual uma vez por semana. Não é treino nem brincadeira. É terapia.
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Na quarta série do ensino fundamental, Luciano já repetiu de ano duas vezes e dava trabalho à mãe, Rejane Nascimento, e aos professores da Escola Jardim Vila Nova por causa da falta de disciplina e das notas baixas. Em acompanhamento psicológico e neurológico para investigar as causas da dificuldade de aprendizado, chegou à equoterapia por sugestão da diretora da escola, Tânia Araújo, que percebeu que ele gostava muito de cavalos. Segundo ela, o desempenho na escola tem melhorado com a continuidade do tratamento. A mãe de Luciano também nota que as sessões semanais que ele frequenta desde março fizeram diferença.
– Antes era uma briga para ele ir à escola, agora ele tem disposição para as aulas e as notas já melhoraram bastante – comemora Rejane.
A explicação está em um princípio básico de qualquer modalidade esportiva: disciplina. O fisioterapeuta Paulo Bazile, instrutor de Luciano, comenta que, em casos como o dele, o método terápico é um treinamento pré-esportivo, que consiste em desenvolver manobras de equitação, com evolução progressiva no nível de complexidade dos exercícios.
– Ele precisa compreender que cada etapa é importante para o resultado final, o que exige esforço e concentração – explica Bazile.
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As lições da equitação na sala de aula chegam sem que a criança se dê conta. Conforme a psicóloga Maria Alice Targa, especialista em crianças e adolescentes, o benefício é intuitivo. A criança passa a observar que o cavalo está solto no campo em um momento e no outro é obediente e se deixa ser domado, como ocorre na escola, por exemplo, onde é preciso respeitar os momentos de aula e deixar as brincadeiras para o recreio.
– O trabalho integrado da terapia convencional com técnicas complementares vai ajudar a criança a se dar conta desses movimentos internos, com benefícios tanto neurológicos como cognitivos – explica Maria Alice.
Essa tomada de consciência é percebida até mesmo na evolução do treinamento. A fisioterapeuta e especialista em reabilitação neuromotora, Fabiane Antunes, que também trabalha com equoterapia, lembra que Luciano chegou à fazenda querendo fazer tudo do jeito dele, com pressa, agitado. Depois foi percebendo que tinha resultados melhores se seguisse as instruções.
– Reflete no aprendizado porque ele adquire mais confiança na realização das atividades – diz Fabiane.
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Estímulo do ambiente
Para os instrutores, o diferencial da equoterapia é justamente o cavalo: o animal aumenta a motivação que a criança tem para fazer as atividades e o ambiente aberto implica em menor resistência ao tratamento em relação a um consultório convencional. Foi esse mesmo motivo que levou Fabiane, natural de Alegrete, e Paulo, que veio de Santana do Livramento, a trocar a atividade clínica pela fazenda.
– O contato com o campo permite uma terapia mais lúdica, que traz benefícios não só motores e comportamentais, mas também cognitivos e de linguagem – descreve Fabiane.
A fonoaudióloga Daniela Padilha atesta os benefícios da terapia com cavalos para o desenvolvimento da fala:
– A experiência sensorial serve como estímulo para a produção da linguagem, seja reproduzindo sons da natureza, seja chamando o nome do animal, sem contar a adequação de musculatura para a fala – enumera afonoaudióloga.
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Esther Maggi, mãe de João César, que tem quatro anos e é portador de Síndrome de Down, percebe que o vínculo afetivo que ele criou com a égua Serena, que o acompanha nas sessões, tem ajudado o garoto a se comunicar melhor. Percebe também que os exercícios tornaram seu caminhar mais firme e melhoraram a postura.
Apesar de o tratamento, na maioria das vezes, ser multidisciplinar, a equoterapia também pode ser introduzida na rotina da criança de forma independente. A técnica é indicada para bebês a partir de um ano, para estimulação precoce das funções motoras e também da linguagem.
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Principais benefícios da equoterapia
:: Regularização do tônus muscular
:: Melhora do equilíbrio e da coordenação visiomotora
:: Melhora da autoestima e da autoimagem
:: Socialização
:: Contato com a natureza
:: Equilíbrio emocional