Dois velhos bispos se encontram: Martini, cardeal de Milão, há pouco falecido que animou a Mani Pullite (Mãos Limpas), maior operação ética na Itália contra a máfia que se infiltrara até na cúria romana, e Ratzinger, papa Bento XVI. Ambos reclamam cuidados com o diabólico do grego – dia-bolein quer dizer separar, dividir. Isto é, todo escândalo gerado pelas tentações que não pouparam nem Jesus Cristo: dinheiro, prazer pelo prazer e vontade de mando.
Continua depois da publicidade
Martini deixou essas palavras pouco antes de morrer: “Devemos pedir perdão, como Igreja, a todos. O escândalo sempre tem uma natureza tríplice: há aqueles que o recebem, aqueles que o fazem, aqueles que dele se aproveitam. Mas a Igreja pode olhar além e ler em sentido positivo aquilo que surgiu. Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma. Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar à Igreja a não apontar para os tesouros da terra (Mateus 6, 19-21)”.
Bento XVI, por sua vez, acredita na força do simbólico, do grego, sun-bolein, quer dizer, o que une. O velho papa emérito acredita na força do papa como figura que une na diversidade. Crê nos caminhos das comunidades de fé, sem medo do diabólico mesmo entre suas fileiras. Diz em suas últimas palavras: “Deus guia a sua Igreja, sempre a sustenta também e, principalmente, nos momentos difíceis”.
Na próxima fumaça branca do Habemus Papam! haverá a expectativa de um Papa, símbolo do amor de Cristo. Mas, ao mesmo tempo, de têmpera forte contra as forças da corrupção e outras atividades diabólicas mais próximas do que imagina.
Jaci Rocha Gonçalves tem 63 anos, é padre, teólogo, filósofo, estudou comunicação no Vaticano e é professor da Unisul.
Continua depois da publicidade